Garçom preto é impedido de trabalhar por trançar o cabelo

Caso aconteceu em um restaurante japonês de Belo Horizonte

por Mariana Ramos qua, 23/08/2023 - 18:10
Reprodução Conversas de Higor Atanro e a contadora do restaurante Reprodução

Higor Antero, de 25 anos, foi impedido de trabalhar no restaurante japonês em que foi contratado como garçom há quatro meses. O caso aconteceu em de Belo Horizonte. Através de suas redes sociais, o jovem, que é preto, explica que a situação aconteceu após o mesmo aparecer no estabelecimento com seu cabelo trançado. Segundo ele, a empregadora determinou que ele não aparecesse no salão para servir os clientes por causa das suas tranças.

Ele entrou em contato com a contadora do restaurante para explicar que estava indo para casa pois seu superior não permitiu que ele trabalhasse usando tranças. Em mensagens, Higor declarou: “Ela já disse que assim eu não trabalho”.

Ao invés de receber um direcionamento, o jovem foi bombardeado com perguntas por parte da funcionária com quem estava conversando. Na troca de mensagens, ela questiona coisas como “vai perder seu dia?”, “onde você está com a cabeça de colocar trança no cabelo e ir trabalhar?”, “você trabalha na feira hippie?” e “você trabalha com japonês, não com brasileiro que é ‘oba oba’. Se não perder o emprego, tá ótimo, né?”.

O caso aconteceu no último sábado (19). Em suas palavras, a forma que foi tratado foi “humilhante” para ele.

“Eu cheguei para trabalhar hoje, não me deixaram porque cheguei com o cabelo trançado. Pelo simples fato da trança no meu cabelo, eu tive que ir embora. Para mim, foi muito humilhante pela forma como foi falado, como foi colocado. Aí eu queria perguntar para vocês, até quando, né? Porque todo dia alguém passa por isso”, defende o jovem.

“Eu aceitaria numa boa se fosse ‘ah, volta para sua casa, seu serviço tá péssimo, tá ruim’, tudo bem. Mas você não poder trabalhar por causa do seu cabelo? Se eu tivesse o cabelo lisinho, caidinho, eu poderia só amarrar o cabelo e poderia trabalhar. Além de eu não poder trabalhar por conta disso, eu recebi umas mensagens que vocês não tem noção do que eu tô falando. Umas coisas tipo assim, bizarras”, conta Higor referente à conversa com a contadora do estabelecimento.

A assessoria do restaurante Sushi Naka BH encaminhou uma nota que afirma que a profissional que conversou com Higor por mensagens era terceirizada e se encontra com o contrato de prestação de serviços cancelado. Segundo a nota, a empresa “repudia qualquer ato dessa natureza sobretudo por sua origem oriental” e possui mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores.

Confira a nota na íntegra:

“A empresa repudia qualquer ato dessa natureza sobretudo por sua origem oriental. O restaurante tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores e segue todas as normas e deliberações da vigilância sanitária.

A pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços cancelado.

Lembramos que ela era uma profissional terceirizada e não tinha autorização para falar em nome do estabelecimento.

Ressaltamos que o fato está sendo apurado internamente com todo respeito à cultura étnica.”

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