Estudantes da UPE denunciam atraso no pagamento de bolsas

O LeiaJá entrevistou estudantes que relataram os impactos do atraso, causado pela falta de repasse financeiro por parte do Estado

por Elaine Guimarães sex, 06/10/2023 - 14:31
Júlio Gomes/LeiaJá/Arquivo Reitoria da UPE Júlio Gomes/LeiaJá/Arquivo

Estudantes da Universidade de Pernambuco (UPE) denunciam atraso no pagamento de bolsas, referente ao mês de setembro, de assistência estudantil. De acordo com nota, enviada pela equipe técnica da Gerência de Assistência Estudantil (GAE) aos estudantes, o atraso é devido "à falta de repasse financeiro do Governo do Estado".

Ainda segundo o comunicado, a ausência dos valores para o setor financeiro da UPE "afeta as solicitações de pagamento da bolsa permanência (veteranos, ingressantes e emergencial); a bolsa deslocamento (ingressantes) e as novas bolsas alimentação e moradia".

E-mail enviado à comunidade acadêmica bolsista. Foto: cortesia

Em entrevista ao LeiaJá, João Mamede, coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes da UPE (DCE UPE), ressalta que o pagamento das bolsas não foi realizado dentro do prazo, ou seja, no final do mês de setembro. "A gente entende que o impacto [do atraso] está sendo muito grave. As bolsas que foram cortadas não são bolsas de pesquisa, de extensão, bolsas acadêmicas, são bolsas de assistência estudantil. São bolsas de alimentação, moradia, transporte. Tem muita gente que sem essas bolsas não consegue permanecer na UPE, tem dificuldade de pagar o ônibus pra chegar no campus e sem se alimentar com qualidade, pagar o seu aluguel." 

Através de articulação nas redes sociais, os estudantes, organizados pelo DCE, pressionam o Governo de Pernambuco para que o pagamento seja normalizado. À reportagem, João Mamede conta que, na última quinta-feira (5), foram protocolados ofícios para a Secretaria de Ciência e Tecnologia, que responde pelo orçamento da UPE e "para o gabinete da governadora [Raquel Lyra], deputados estaduais, para tentar alertar sobre o problema e buscar uma solução mais rápida possível", frisa.

Entre as ações promovidas pela entidade estudantil estão a criação de um grupo e formulário para mensurar os impactos da ausência do pagamento do benefício aos bolsistas. "Hoje, os bolsistas de assistência estudantil da UPE são 934 estudantes, e nenhum deles recebeu em setembro. Todos eles estão impactados de alguma forma pelo não pagamento das bolsas. Esse quantitativo pode aumentar caso haja a descontinuidade do pagemento, já que inciará o prazo de novos editais, como o odontológico, por exemplo". 

"Não consigo ter o mínimo para me manter na universidade"

Surpreendidos pela ausência do auxílio, os estudantes beneficiados já sentem os impactos, que vão desde o financeiro até a saúde mental. No último período do curso de licenciatura em história, campus Mata Norte, em Nazaré da Mata, Ana* ressalta que o atraso dificultou "não apenas o modo de me manter na universidade, como também minha saúde mental".

"Tenho TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e, para além da alimentação, o dinheiro também serve para pagar meus medicamentos que não estão disponíveis no SUS. Sem o auxílio, não consigo ter o mínimo para me manter na universidade pública". 

Moradora de Surubim, no Agreste pernambucano, a estudante, que recebe o auxílio alimentação, expôs à reportagem que para arcar com os custo foi necessário pedir dinheiro emprestado "para não ficar sem o básico".  Ainda segundo a universitária, esta é a primeira vez que há atraso no pagemento da bolsa. "Eu fazia parte do pibic PFA, auxílio financiado pela UPE. Nunca tinha ocorrido esse tipo de atraso", afirma. 

Aluno do 4º período do curso de licenciatura em geografia, campus Petrolina, e bolsista de monitoria pelo Programa de Fortalecimento Acadêmico (PFA), Pedro* relata que recebe R$ 400, valor referênte à bolsa em atraso. Ele precisou parar de ajudar financeiramente em casa.

"Felizmente, meu padrasto trabalha e ele tem me ajudado, mas, aqui em casa, só ele tem renda no momento. Eu ainda ajudava com algumas contas em casa, mas agora ficamos totalmente à mercê. Eu resolvi comprar equipamentos pra me auxiliarem no estudo, a exemplo do meu notebook. Confiando no pagamento da bolsa, eu comprei e iria pagar de acordo com as parcelas", salienta. 

Assim como Ana*, o estudante também afirma que esta é a primeira vez que enfrenta a ausência do pagamento do auxílio. "É a primeira vez que o atraso ocorre, pelo menos na minha modalidade, que é a bolsa monitoria, que é o auxílio preparatório para a docência", destaca. Esperançoso, ele diz que espera que o atraso "seja resolvido o quanto antes, até por conta das minhas necessidades. Mas estamos aí nas mãos de Raquel Lyra, infelizmente."

Willias Cristovão, aluno de licenciatura em história, também recebe R$ 400 desde o início da graduação na UPE. Beneficiário da bolsa permanência, ele comenta que usava o valor para complementar a renda familiar. "Minha família só tem como renda principal o Bolsa Família, assim, a bolsa [permanência] complementa os gastos da minha família com contas de luz, farmácia, água e comida. Já estava programado que quando eu recebesse a bolsa iria pagar a farmácia e a energia, mas essa programação foi impedida, pois, o Governo do Estado não repassou verbas para assistência estudantil."

Atraso do repasse preocupa os estudantes de odontologia

Luiz Gustavo Duda, representante estudantil do Diretório Acadêmico de odontologia, cita que na última semana foi publicado um edital de auxílio, no valor de R$ 4 mil, para os estudantes de odontologia pudessem adquirir instrumentais "essenciais para sua formação e redução da evasão do curso."

"Com o problema das bolsas, esses estudantes também são afetados, e muitos estavam contando com essa verba para adquirir seus instrumentos de trabalho do período", diz Duda. Questionado sobre quais informações foram repassadas aos estudantes da graduação pela UPE, o representante estudantil responde que a universidade "não sabe precisar qual seria o impacto do atraso no recurso a ser disponibilizado."

O que diz a UPE

Inicialmente, o LeiaJá entrou em contato com a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco. Porém, mesmo responsável pelo repasse à UPE, a pasta orientou a reportagem a questionar a instituição de ensino superior.

Por meio de nota, a universidade afirma que está "em tratativa com o Governo do Estado de Pernambuco para resolver a pendência da liberação das bolsas referentes ao mês de setembro de 2023, que tem prazo para o pagamento até o quinto dia útil do mês subsequente".

Ainda de acordo com o comunicado, a UPE salienta que tem "ciência das consequências que o atraso pontual pode causar aos discentes, sendo assim, a gestão da UPE tem trabalhado constantemente para realizar o repasse o mais rápido possível."

 

 

 

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