Estreia da semana: "O Preço do Amanhã"

Bonny, Clyde e Robin Hood se encontram no futuro

qui, 03/11/2011 - 16:41
Divulgação Justin Timberlake e Amanda Seyfried contracenam em "O preço do amanhã" Divulgação

Ficha Técnica:
O Preço do amanhã
(In Time/ 2011/ 112min)
Roteiro: Andrew Niccol
Dir. Andrew Niccol
Elenco: Justin Timberlake, Amanda Seyfried, Alex Pettyfer, Olivia Wilde, Johnny Galecki.

 

A famosa frase “tempo é dinheiro” chega ao extremo em O Preço do amanhã, novo longa roteirizado e dirigido por Andrew Niccol, que também assinou o roteiro de O Show de Truman (The Truman Show/ 1998). Em algum momento do futuro, a moeda de troca não consiste mais em metal ou em supervalorizados pedaços de papel. A aquisição de maior valor passa a ser o próprio tempo.

A sociedade está programada para parar de envelhecer aos 25 anos. Cada ser humano nasce com um relógio encorporado a um dos braços que conta com o saldo de um ano. Ao atingir a idade limite, o tal relógio inicia sua contagem regressiva e, caso o indivíduo não consiga mais tempo, o relógio fatidicamente chega à zero e a consequencia é a morte. Dessa maneira, a sociedade se move em torno da necessidade de ganhar tempo.

Trata-se de uma metáfora pertinente, uma vez que reflete questões importantes da nossa sociedade. Primeiramente, vivemos em um mundo obsecado pela beleza e pela juventude. Diariamente somos bombardeados pelo culto ao belo e ao novo e O Preço do amanhã acerta em cheio ao abordar essa temática mostrando como essa obssessão pode ser desastrosa. Além disso, o filme funciona como um paralelo entre a estrutura social disfuncional que rege o capitalismo, na qual poucos concentram muita riqueza, enquanto muitos vivem na miséria a fim de sustentar o luxo de uma menor parcela da população. Infelizmente, todo esse potencial se perde em uma obra forçada que, apesar de tentar discutir temas relevantes, acaba na superficialidade.

Will Salas (Justin Timberlake) nasceu em Dayton, gueto no qual a população luta e trabalha arduamente todos os dias a fim de conseguir pelo menos mais 24 horas. Lugar que, apesar das dificuldades, esbanja muita gente, cor e calor humano. Já Sylvia Weis (Amanda Seyfried) é herdeira de um magnata do tempo. O encontro entre os dois não seria natural, mas após ganhar mais de um século de um estranho, Will chega a New Greenwich, oposto de Dayton - Local onde moram os afortunados que jamais precisam correr e que têm tempo para esbanjar com tudo da melhor qualidade. Mas Will é acusado de cometer um assassinato e, ao sair do gueto e levar tanto tempo consigo, passa a ser alvo dos agentes do tempo, responsáveis pela estabilidade e pela ordem. Will e Sylvia acabam se envolvendo em uma grande perseguição que desemboca na possibilidade de subverter o sistema. O casal passa então a rever suas prioridades e conceitos, bem como a estrutura da sociedade.

Misturando ação, romance, fição e mensagem política, O Preço do amanhã acaba deixando a desejar ao perder a mão no equilíbrio desses elementos. Há muita perseguição, correria, uma pitada de romance que, na verdade, desenvolve-se quase que no automático, e questionamentos pertinentes que funcionam como pano de fundo da narrativa. Até mesmo a transformação dos personagens não se desenvolve bem na tela. Mudanças e transformações apenas se desenrolam, assim como a corrida frenética dos protagonistas. Em dado momento é como se Bonny, Clyde e Robin Hood se encontrassem no futuro em uma corrida contra o tempo.

No entanto, a química entre Justin Timberlake e Amanda Seyfried funciona bem. Ele que, após deixar a carreira musical de lado em favor da atuação, vem trilhando um bom caminho no cinema mesclando papéis em diferentes gêneros (atuou em filmes como o drama, A Rede Social - 2010 - e a comédia romântica, Amor ou Amizade – 2011), mais uma vez faz um bom trabalho que se encaixa bem ao dela que balanceia fragilidade e ousadia. Além disso, é interessante ver um elenco formado por atores basicamente da mesma faixa etária que precisa variar a atuação que reflete a idade dos personagens sem contar com auxílio de maquiagem.

Com o perdão do trocadilho involuntário, O Preço do amanhã passa o tempo, mas não acrescenta muito à ele.

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