90 anos de Otto Lara Resende

Jornalista ficou conhecido como um "frasista genial"

por Jullimaria Dutra ter, 01/05/2012 - 18:28
Alécio de Andrade/Divulgação

Otto Lara Resende completaria, hoje, 90 anos. Jornalista, cronista, escritor, ele era um artista múltiplo, um pensador que, acima de tudo, sabia ouvir. Mineiro de São João Del Rei, ele fazia parte de uma família de vinte filhos. Aos 18 anos já trabalhava como jornalista em Belo Horizonte.

Anos depois, no Rio de Janeiro, passou pelos principais jornais, como O Globo, Diário Carioca, Correio da Manhã, Última Hora, Manchete, Jornal do Brasil e TV Globo. Otto era um frasista genial. O amigo dramaturgo, Nelson Rodrigues, dizia que ele era tão bom de papo que deveriam colocar um taquígrafo atrás do amigo para vender as anotações para uma loja de frases.

O jornalista fez entrevistas inesquecíveis na TV Globo, como uma em 1987, que proporcionou ao telespectador no Programa Painel um bate-papo genial com o amigo Rodrigues.

Otto foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. O jornalista morreu em 1992 depois de uma infecção hospitalar. No mesmo ano recebeu uma homenagem em uma praça no Rio de Janeiro. O jornalista, especialista em ideias gerais, deixou textos inesquecíveis que até hoje merecem ser lidos, como o conto "O lado Humano" e as crônicas "Bom dia para nascer", publicadas na Folha de São Paulo.

Confira algumas frases de Resende:

Há em mim um velho que não sou eu.

Europa é uma burrice aparelhada de museus.

Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.

 

Como pai, me considero, modéstia à parte, uma mãe exemplar.

Sou um falante que ama o silêncio.

A tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.

O mineiro só é solidário no câncer.

Todo mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino.

Deus é humorista.

Ultimamente, passaram-se muitos anos.

Devo ter sido o único mineiro que deixou de ser diretor de banco.

 Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.

Texto de jornal é estação de trem depois que o trem passou. Deixou de ter interesse.

A morte é noturna. À noite, todos os doentes agonizam.

 Leio muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia.

Sou autor de muitos originais e de nenhuma originalidade.

 O mineiro seria um cara que não dá passo em falso, é cauteloso. Em Minas Gerais não se diz cautela, se diz pré-cautela...

 A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.

 Escrever é de amargar.

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