'Por que Você Partiu?': entrevista com chefs franceses

qua, 21/08/2013 - 11:15

Por que você partiu? É a pergunta que Eric Belhassen faz a seus entrevistados e que também dá título a seu filme. Esses entrevistados são seres muito especiais - chefs franceses que num determinado momento de suas vidas resolveram vir ao Brasil e aqui se estabeleceram. São ouvidos os chefs Emmanuel Bassoleil, Erick Jacquin, Laurent Suaudeau, Alain Uzan, Frédéric Monnier e Roland Villard. O midiático Claude Troisgros recusou-se a participar. Um chef de cuisine pode ser vaidoso como uma prima-dona de ópera.

A opção temática - chefs da venerável cozinha francesa - dá a entender que o filme ficaria na esfera da gastronomia. E não teria qualquer problema se assim fosse, porque comer bem é uma das nobres artes humanas, praticada e lapidada desde que descemos das árvores, e que tem nos franceses seus cultores supremos. Basta ver o papel que a arte alimentar ocupa em sua conversação diária, mais ou menos como o futebol na nossa.

Mas a verdade é que o documentário vai além do que promete. Belhassen, francês ele também, além de entrevistar os chefs, volta para a França, para as cidades natais dos depoentes e ouve o que têm a dizer os pais de vários deles, seus amigos e conhecidos.

Nesses momentos é que a pergunta inicial do filme se impõe com toda força, porque, de fato, trata-se de uma obra sobre a imigração. Por que motivos deixamos nossa pátria e vamos buscar outra, na qual tudo nos é estranho, dos costumes ao idioma? E, no caso dos chefs, das receitas aos produtos básicos para tirá-las do papel e transformá-las em um prato inesquecível?

No caso deles, em particular, esse impulso migratório é ainda mais misterioso, porque, com uma única exceção, não são premidos pela necessidade econômica imediata. Saem de um país maravilhoso e vão em busca do novo. Os motivos são variados, e vão desde o simples desejo de aventura até a possibilidade de desenvolver-se na profissão de maneira mais livre.

Em todo caso, é muito divertido ver como se adaptam. Um deles, por exemplo, vai ao mercado toda manhã atrás dos produtos mais fresquinhos, mas não se furta a entrar num botequim para pedir uma cerveja matinal ou dar uma passadinha na barraca de pastel. Mesmo para um chef francês, um pastelzinho de feira - ou de mercado - é irresistível. O pastel, a cervejinha, e alguns outros tiques são apenas sintomas desse processo simpático de aculturação brasileira por que passam os chefs.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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