O Sertão moderno de 'Amores Roubados'
Minissérie mostra um novo sertão, mas mantém traço oligárquico que sempre existiu
Amores Roubados entra em sua reta final esta semana. A minissérie da Globo acertou ao investir na qualidade técnica e em um bom roteiro, feito a partir da adaptação livre da obra A emparedada da Rua Nova, romance do pernambucano Carneiro Vilela.
A minissérie chamou atenção pela temática do sexo e da traição. Leandro (Cauã Reymond) retorna à terra natal, conquistando as mais belas e poderosas mulheres da cidade. O desejo é apenas uma diversão para o sommelier até ele conhecer Antonia (Isis Valverde), filha de um poderoso empresário da região que retornou da Europa.
No entanto, Amores Roubados é muito mais do que desejo e traição. Por trás das relações, um sertão secular pode ser visto. Leandro, filho de uma prostituta, vive um romance com uma filha de empresário, que representa um típico coronel latifundiário modernizado. A competente direção de arte de Moa Batsow faz o contraste entre dois cenários: o casarão da fazenda, a empresa de vinhos e as casas de barro da região.
A produção se aproxima da estética das séries de TV que são exibidas nos canais fechados. Tanto é que, diversos sites especializados em falar sobre seriados incluiram Amores Roubados na lista. Talvez o único pecado da minissérie seja a dublagem de algumas falas, que foram temas de queixas nas redes sociais.
O elenco pernambucano ganha cada vez mais destaque na história com Irandhir Santos e Jesuíta Barbosa, que não se tornam sombras ao lado de estrelas de destaque nacional como Cauã Reymond e Murilo Benício. Outro ponto positivo é a trilha sonora. Diferentes estilos musicais entram em cena no momento certo, seja um forró da região ou os sintetizadores da banda The XX, escolha surpreendente que mostra não ser preciso optar por músicas de forte apelo comercial para agradar o público. As duas músicas do trio inglês, Angels e Intro que estão na minissérie conquistaram o topo do Itunes depois que Amores roubados começou.
Esta é a última semana da minissérie, que deixa aberto o espaço para boas produções na programação da TV aberta baseadas em obras legitimamente brasileiras. Os altos pontos de audiência são uma resposta ao elevado padrão técnico de Amores Roubados. Não é todo dia que uma fotografia excelente, como a de Walter Carvalho, aparece na TV aberta. Resta esperar a próxima parceria do roteirista George Moura e do diretor José Luiz Villamarim, que também trabalharam na ótima O canto da sereia em 2013.
O horário da minissérie muda a partir desta terça (14). Por causa da estreia do Big Brother Brasil, a trama começa às 23h10 (horário de Brasília), logo após o reality.