Gauguin roubado passou anos em uma cozinha na Sicília
Uma natureza morta de Paul Gauguin, roubada de um rico colecionador privado na Grã-Bretanha em 1970, decorou por 40 anos a cozinha de um metalúrgico siciliano antes de ser recuperado pelas autoridades. O trabalhador comprou a pintura junto com uma outra de menor valor de outro artista francês, Pierre Bonnard, por cerca de US$ 100 em 1975 em um leilão de ferrovias estatais da Itália onde se ofereciam objetos perdidos, disse o comandante Massimiliano Quagliarella, que faz parte de uma unidade especializada em roubo de obras de arte da polícia italiana. As autoridades do país estimam que o valor da natureza morta seja de até 30 milhões de euros.
"A pintura mostra frutas e parecia apropriada para decorar uma sala de jantar", disse Quagliarella sobre o porque a pintura estava nesse lugar na casa do trabalhador. Acredita-se que a pintura "viajou" de Paris a Turin de trem antes que o metalúrgico comprá-la, disse o general Mariano Mossa. Quando o trabalhador se aposentou e mudou-se para a Sicília, seu filho, que estudou arquitetura, se deu conta de um detalhe revelador na tela: um cachorro deitando em um canto, uma das marcas de Gaugin.
O filho entrou em contato com um especialista em arte para que ele fizesse uma avaliação. O profissional chegou a conclusão de que provavelmente se tratava de um Gauguin e chamou a polícia italiana. A pintura mostra duas tigelas sobre uma mesa cheias de uvas brilhantes, maçãs e outras frutas. Sobre a tela está pintado de preto um número 89, uma indicação que ela foi pintada em 1889.
A pintura seguirá sob custódia das autoridades porque a polícia necessita de receber uma notificação oficial de que foi roubada, disse Quagliarella. A polícia de Londres está em contato com seus homólogos na Itália, porém disseram nesta quarta-feira que não havia sido ainda possível encontrar os arquivos do roubo em 1970. A polícia italiana disse que encontrou uma fotografia da pintura em um leilão realizado em Londres em 28 de junho de 1961.
Chris Marinello, da organização Recuperação Internacional de Arte, que ajuda a encontrar obras de arte roubadas, disse que a história do Gauguin é interessante, porém não única. Em 2006, a duquesa de Argyll perdeu uma tiara, um broche de diamantes e outras joias no aeroporto de Glasgow. Seis anos depois, eles foram leiloados pelo aeroportos em meio a outros objetos perdidos cujos donos não foram encontrados. Após várias negociações, eles foram devolvidos à duquesa.
Marinello diz que poderia haver uma batalha pelas pinturas recuperadas e afirmou que o metalúrgico aposentado poderia ter direitos sobre elas de acordo com a lei italiana, se puder demonstrar que as comprou de boa-fé. "Seguramente, esta história vai continuar", disse Marinello.