Encontro de Terry Riley com Ravel tem 40 minutos
O compositor californiano Terry Riley, hoje com 78 anos, ficou famoso em 1964, quando compôs uma das peças mais emblemáticas do movimento minimalista. Ela se chama In C, ou Em Dó, e pode ser tocada por um número indeterminado de músicos. Tem também duração indeterminada, depende de como os músicos exploram as 53 pequenas frases musicais que a partitura fornece. O movimento minimalista foi uma das mais violentas reações à extrema cerebralização da música contemporânea europeia.
Como repetiu muito Steve Reich, um dos principais compositores minimalistas, ao lado de Riley, LaMonte Young e Philip Glass, de dia ele estudava música europeia engessada e à noite embarcava nos delírios do rock e do jazz americanos. Com quem ficar? Com o prazer, claro. Eles incorporaram as altas taxas de repetição da música popular e ampliaram expressivamente seu público na medida em que reduziram os níveis de invenção de sua música.
É o que comprova o recém-lançado Terry Riley Meets Maurice Ravel, da Orquestra de Câmara da Filadélfia. Esta lhe encomendou em 2008 um concerto em torno de 20 minutos. E Riley devolveu-lhes SolTierraLuna, em quatro movimentos e 40 minutos, que recebe aqui sua primeira gravação mundial.
O concerto para dois violões, violino e orquestra de câmara demonstra sua contínua transformação estilística. Você olha para sua figura de guru de longas barbas brancas e gorro vermelho, vê a listagem dos movimentos e se assusta. Então o guru minimalista se rendeu à estética europeia? Lá há uma fuga... e até uma sarabanda, formas e danças barrocas do século 18.
Bem, elas até estão lá, mas são puro Riley e sua estética inclusiva. O primeiro movimento, Sol (The Royal 88), começa como se fosse um Vaughan Williams meio disfarçado. Mas isso só acontece no início. O segundo movimento, Moonwaves, mistura escalas indianas, sinos rituais do templo e uma percussão exótica. O terceiro, Tierra, é uma fuga que brinca com a forma, de modo livre; e no quarto movimento, de repente irrompe uma atitude política de Riley, pois ele se intitula Sarabande for Iraque. Tem a solenidade majestática da dança do século 18. Os três solistas têm, cada um, vários solos e combinações de duetos, principalmente entre os violonistas. O violino, a certa altura, contracena com os sinos do templo.
Os intérpretes, qualificados, são: David Tanenbaum e Gyan Riley nos violões; Krista Bennion-Feeney ao violino; e a Orquestra de Câmara da Filadélfia, regida por Ignat Solzhenitsyn. Sim, o sobrenome ilustre indica que Ignat é um dos filhos do famoso escritor russo dissidente dos anos 70. Nascido em 1972, estudou piano com Maria Curcio em Londres e, já na Filadélfia, cursou o Curtis Institute. Le Tombeau de Couperin, de Ravel, entra no CD praticamente de contrabando, só para preencher uma minutagem razoável. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.