“O que me fez ser minimalista é saber que eu posso romper com o padrão de consumo exacerbado e parar de sofrer pela a falta da condição de não poder comprar tudo que vejo na frente”. A frase é do ator de teatro Rodrigo Henrique, de 20 anos, e está relacionada a um movimento que vai no sentido completamente oposto ao do consumismo exacerbado. Em tempos nos quais somos amplamente cobrados a ter sempre mais e ostentar - principalmente nas redes sociais, o minimalismo tem crescido pregando exatamente o contrário: uma vida sem excessos. Surgido nas artes, é considerado uma filosofia de vida que tem como lema “menos é mais”. O conceito também tem sido tema de livros, como "Menos é mais: um guia minimalista para organizar e simplificar sua vida", da americana Francine Jay, "Essencialismo: a disciplinada busca por menos", de Greg McKeow e o aclamado documentário "Minimalismo: um documentário sobre as coisas que importam", de Joshua Millburn e Ryan Nicodemus.
O estilo de vida também prega que “viver com menos trará mais flexibilidade, maior liberdade e desapego das coisas materiais”. E foi isso que mudou na vida de Rodrigo há alguns meses. "Assisti um programa que tinha a participação de Marcia Tiburi. Ao vê-la falando sobre consumismo e o vazio da experiência por intermédio dos balangandãs, me fez acordar e perceber que a gente já tem o necessário para viver, mas que culturalmente nos acostumamos com os "excessos". Então, resolvi mudar", conta. “Antes eu entrava nas grandes lojas e ficava surtado com as belas roupas. A vontade de consumi-las era absurda, porém eu não podia comprar tudo e automaticamente com isso vinha o sentimento de frustração. Hoje em dia, uso roupas repetidas sem me importar com as críticas alheias”, revela Rodrigo.
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O minimalismo também ensina que é preciso priorizar aquilo que realmente importa na sua vida, não só em relação aos bens materiais, como também aos relacionamentos. "Você começa desapegando das coisas que você não precisa, e depois isso vai se estendendo para as pessoas. Antes, saía sem querer só para não fazer desfeita, insistia em amizades que não valiam a pena... hoje, eu falo não. Com educação e naturalidade, mas falo. Se eu não quero, não me faz bem, eu não faço e não vou. Não é egoísmo, é amor próprio. Dessa forma, você consegue ter mais tempo pra quem você ama”, explica a servidora pública Maria Elvira Rodrigues.
Apesar de não estar diretamente ligado à economia, o minimalismo acabou influenciando, também, a vida financeira de Maria Elvira. Acostumada a gastar o salário inteiro, a servidora pública acabou tendo que recorrer a um empréstimo consignado para conseguir bancar seus desejos consumistas. Com a ajuda do ex-namorado e de canais do youtube, ela percebeu que as prioridades estavam erradas. "Aos poucos, fui parando de comprar. Mas, ainda, assim, gastava meu salário inteiro e tinha muita coisa. Até que li o livro “A mágica da arrumação", de Marie Kondo, e a minha vida mudou. Fui lembrando de coisas que eu não usava há seis meses. Fui doando coisas, livros. A sensação do destralhe foi libertadora", conta. "Agora, o dinheiro sobra e eu já estou quitando o meu consignado. A parcela era de 72 meses e eu vou conseguir quitar na metade do tempo. Além disso, a quantidade de coisas diminuiu. Antes, tinha cinco portas de armário, hoje, tenho três", aponta Maria, que é minimalista há dois anos.
Não há uma lista de regras para serem seguidas até se considerar minimalista. Também não existe uma fórmula concreta nem tem certo ou errado. O conceito prega que cada um tem uma visão e uma proposta minimalista para sua vida e não está relacionado a privação ou abstinência. Neste sentido, não é necessário que a pessoa se desfaça de tudo e viva apenas com uma camisa, um sapato e uma mochila, por exemplo. A ideia é que você viva com todo o conforto que você considera importante para sua vida, mas que cada uma dessas coisas que você possua tenha um valor concreto e um significado. "Grande parte dos nossos desejos de consumo não são verdadeiramente nossos. São coisas que enfiaram na nossa cabeça. Se você analisar direito, você verá que não quer aquilo - é que alguém enfiou na sua cabeça que aquilo é legal, que pessoas de sucesso precisam fazer aquilo", observa o educador financeiro André Massaro.
O matemático e estrategista Su Choung Wei concorda e vai além. "Às vezes você começa a se convencer que precisa consumir muito e acaba se tornando escravo do consumo", aponta. Também minimalista, Su considera que a filosofia deixa a vida mais leve e descomplicada. "Eu, por exemplo, passei por uma crise de mais ou menos dois anos e não precisei cortar nada, porque já levava uma vida simples. Não tive que tirar filho da escola, não tive que cancelar o plano de saúde, não passei por apuros", conta. Foi justamente por estar na contramão desse raciocínio que o empresário Luis Saleh, de 40 anos, conheceu o minimalismo. Dono de uma empresa de médio porte com um bom nome no mercado, ele levava uma vida financeiramente estável. Com a forte crise financeira enfrentada pelo Brasil em meados de 2014, a organização quase quebrou. “Foi aí que eu percebi que tudo que eu via como "importante" passou a ser irrelevante. Eu era apegado às coisas. Hoje, a empresa já se recuperou e fatura mais do que em 2014, mas a minha mentalidade mudou. Só compro o necessário, tanto para mim, quanto para a empresa", conta.
Para realizar as mudanças internas, o empresário contou, também, com a ajuda do documentário “Minimalism”, que traz como lema "Ame as pessoas e use as coisas, porque o oposto nunca dá certo". Luis também aderiu ao projeto 333, idealizado pela americana Courtney Carver. A ideia é se vestir com 33 peças de roupas, por um período de 3 meses. "Tenho o mínimo. Doei muita roupa, passei a ajudar pessoas e hoje uso uniforme para trabalhar", revela. "Minimalismo não é apologia à pobreza, ao meu ver. É dar valor ao que realmente importa", conclui.