Editoras lançam volumes com peças de autores brasileiros
O teatro é uma arte efêmera - a encenação de qualquer peça é um momento único e as reminiscências ficarão apenas na memória dos presentes. Mas, como a força da palavra pode ser eternizada, editoras nacionais vem apostando na publicação de textos teatrais. Hoje, acontecem dois lançamentos: a Giostri Editora, que já conta com mais de 500 autores em seu catálogo, lança um box com quatro volumes contendo 16 peças de Lauro César Muniz; e a Funarte preparou dois livros intitulados O Teatro Seleto de Chico de Assis.
Nesta terça-feira, 16, é a vez da editora Patuá lançar a série Palavras para Teatro - Sete vezes Dramaturgia, coleção de peças teatrais dos integrantes do Centro de Dramaturgia Contemporânea, como Marcos Gomes e Paula Autran - o evento acontece às 20h30, no Cemitério de Automóveis (Rua Frei Caneca, 384). Para completar, a Bertrand Brasil iniciou com O Pagador de Promessas a bem-vinda reedição das peças de Dias Gomes.
Tanto Chico de Assis como Lauro César Muniz trazem um precioso registro da relação humana. O primeiro usa o humor com maestria ao criar tipos clássicos como Xandu Quaresma, enquanto Muniz transita tanto na comédia de costumes como nos grandes temas sociopolíticos - a peça Sinal de Vida pode ser entendida como divisória. Sobre o assunto, Muniz respondeu a essas questões.
Você atua no teatro, TV e cinema, mas cada meio impõe atitudes diferentes.
Trabalho nos três meios onde um dramaturgo possa se expressar: no teatro, sinto-me mais livre, escrevo peças como uma espécie de compulsão, temas que me seduzem, não aceitam o adiamento e a gaveta. Na televisão, é bastante diferente. Não adianta ficar seduzido por um tema, preciso seduzir a emissora, os diretores artísticos, pensar no público eclético das redes de televisão. Em geral, o tema surge de uma observação do momento em que vive nosso País, ou seja, preciso atender a angustia geral dos telespectadores. No cinema, trabalho, em geral, com um diretor que determina tudo sobre o filme.
Oswaldo Mendes, que dirigiu Sinal de Vida, entende esse texto como um marco divisório em sua carreira. Vê da mesma forma?
Sinal de Vida é minha peça mais pessoal, mais sofrida, mais confessional. A partir daí, tornei-me mais introspectivo, busquei mais temas de raiz. Falei de meu pai em Luar em Preto e Branco e fiz um desabafo cômico em Direita, Volver!, a primeira peça liberada (em 1985) na abertura democrática. Em O Santo Parto, fiz uma peça delirante sobre a grande crise que se abateu sobre a Igreja Católica: um padre fica grávido de um menor de idade. Minhas peças iniciais, quando via o mundo com mais esperança, eram comédias divertidas, farsas sobre a pureza de nossas pequenas cidades. No entanto, já continham claramente preocupações políticas.
Sinal de Vida foi escrita em 1972 e a seguinte, Direita, Volver!, só em 1985. Por quê?
Sinal de Vida, que sentia ser minha peça da maturidade, foi proibida pela censura da ditadura. Ficou claro que eu não poderia escrever sobre temas políticos. Logo que o regime militar acenou com uma abertura escrevi Direita, Volver!, peça sobre um senador de direita. O título diz bem sobre meu pânico de um possível retrocesso na abertura política. Para meu espanto (e alegria), a peça foi liberada com cortes, graças a um censor mais humano que nos protegia, na época, em São Paulo. Curiosamente, houve alguma reação negativa da esquerda. Eu expunha a direita ao ridículo e a esquerda não queria entender. Talvez meu final não fosse uma sentença de libertação e novas esperanças - ao contrário, era um final irônico, uma ciranda de esquerda e direita se unindo. Deu em Sarney, não é isso?
Durante um período, a teledramaturgia contava com dramaturgos como você, Dias Gomes, Jorge Andrade, Bráulio Pedroso. De que forma é possível identificar a influência do teatro nas novelas?
Havia entre nós, na década de 1970, uma saudável emulação. Conversávamos, trocávamos ideias sobre a estética das novelas. Em momento nenhum falávamos em maniqueísmo, este assunto era ridículo. Não queríamos novelas esquemáticas. Queríamos usar uma estrutura semelhante ao nosso teatro.
Maniqueísmo era aberração, doença, fragilidade. Hoje, a telenovela se faz com base maniqueísta e nenhuma preocupação estética. Raras as novelas sem concessão total. Como se explica isso? As novelas, diante de uma nova realidade social do País, passaram a se dirigir a um público menos exigente. Então, acreditam os cultores dessa moda, que o público precisa vibrar entre o bem e o mal. Isso destruiu a visão mais depurada do gênero telenovela. Fizemos grandes novelas no passado. Há poucas exceções ainda hoje, uma pena.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.