B.B. King, uma vida dedicada ao blues
B.B. King, que faleceu na quinta-feira aos 89 anos, foi uma das últimas lendas do blues, gênero ao qual se dedicou desde o fim dos anos 40 e que continuou a promover nos palcos quase até a morte, sempre ao lado da fiel guitarra, "Lucille".
Afetado por problemas de saúde, B.B. King foi internado no início de maio em Las Vegas por uma desidratação, segundo a filha Patty King.
"O Rei do Blues", como era conhecido em todo o planeta, levou uma vida de turnês sucessivas, conquistando o público dos quase 100 países em que se apresentou com sua guitarra e canções de amor e de angústia como "The thrill is gone" e "How blue can you get".
Artista renomado, de voz rouca, King conseguiu encantar todo tipo de audiência: do tradicional público afro-americano até os fãs de música pop e de rock.
King chegou a fazer quase 300 shows por ano e foi o músico de blues que mais prêmios Grammy recebeu na carreira, 15.
Por seu senso do espetáculo e sua carreira prolífica, talvez seja o músico de blues que mais influenciou o rock. Referência para Eric Clapton, King também abriu shows para os Rolling Stones em 1969 e para o U2 em 1989, conseguindo aproximar o blues de todas as gerações.
Apesar da diabetes crônica e de um problema nos joelhos que não permitia que tocasse de pé, B.B. King explicou em uma entrevista à AFP em 2007 que sua "doença" mais importante era chamada "preciso de mais". Ele prometeu tocar "até a morte".
A infância de Riley Ben King, nascido em 16 de setembro de 1925 em Itta Bena, perto de Indianola (Mississippi), foi parecida com a de milhares de meninos negros, trabalhadores agrícolas nas grandes plantações de algodão do sul segregacionista.
O jovem King, órfão, teve a sorte de contar durante a adolescência com o apoio protetor de Bukka White, seu primo. Este guitarrista, muito renomado na região, deu as primeiras aulas de guitarra ao futuro gênio e o levou a descobrir a grande cidade da música, Memphis, para onde se mudou em 1947.
O futuro B.B. King passou a conviver com Sonny Boy Williamson (Rice Miller), Robert Lockwood Jr, Bobby "Blue" Bland e tocava regularmente na Beale Street, onde mais tarde abriu um clube com seu nome, a "Broadway" da música negra nos Estados Unidos.
Sua carreira ganhou novo fôlego em 1949 ao ser contratado como DJ de uma rádio, onde ganhou o apelido que o eternizou, "Blues Boy" (B.B.).
- Imagem positiva do músico de blues -
O então caça-talentos Ike Turner o colocou no caminho do sucesso: o jovem B.B. King estreou com "Three O'Clock Blues", seu primeiro "hit", em 1951 e deixou a rádio para seguir a carreira de música, com a guitarra no ombro.
A partir de então a lenda começou a crescer: sucesso regional nos anos 50, depois nacional com canções como "Sweet Sixteen" (1960), além de apresentações no Festival Newport entre 1968 e 1975, de Monterrey, em 1967, onde dividiu o palco com Jimi Hendrix e Otis Redding. Por fim, a consagração internacional, com o primeiro show na Europa em 1968 e no Japão em 1971.
Sua maneira de tocar a guitarra, com extrema classe e expressivo, e seu modo de cantar, inspirado no gospel, influenciaram outros gigantes da música, de Eric Clapton a George Harrison. Em 1989, ao gravar "When Love Comes to Town" com o U2, conquistou o público jovem.
Por sua idade e com a saúde cada vez mais delicada, acabou reduzindo o número de shows nos últimos anos, mas ainda fazia quase 100 apresentações por ano já octogenário. Sem condições físicas de repetir as performances de outras décadas, acabou por receber críticas negativas em 2014.
Apesar da fama, King nunca esqueceu as origens humildes. Na noite do assassinato de Martin Luther King, em abril de 1968, fez um show improvisado com Buddy Guy e Jimi Hendrix.
Além das qualidades musicais, B.B. King, condecorado em 2006 com a "medalha presidencial da liberdade", a principal distinção civil dos Estados Unidos, sempre fez questão de passar uma imagem positiva do músico de blues, sem problemas com as drogas e longe da violência.