Ganhadora do Nobel diz que não nasceu dissidente

qui, 08/10/2015 - 11:30
MAXIM MALINOVSKY (Arquivo) A jornalista e escritora Svetlana Alexievich MAXIM MALINOVSKY

"Eu não nasci dissidente", diz a nova Prêmio Nobel de Literatura, a bielorrussa Svetlana Alexijevich, em uma entrevista publicada em um livro que reúne a maior parte de seu trabalho, publicado nesta quarta-feira na França.

"Como todas as estudantes soviéticas, eu lia a literatura autorizada, que incluía um monte de histórias de guerra em um tom muito mais vitorioso e heroico", conta a escritora questionada pelo filósofo Michel Eltchaninoff.

Esta entrevista acompanha três das maiores obras de Svetlana Alexijevich publicadas em um volume único da coleção thesaurus da editora Actes Sud.

Trata-se de três "romances de voz" que combinam os mais terríveis testemunhos e os aspectos mais íntimos das duas tragédias do século soviético: a Segunda Guerra Mundial, contada a partir da perspectiva das mulheres que vivenciaram a experiência ("La guerre n'a pas un visage de femme") e daqueles que eram apenas crianças na época ("Derniers témoins") e o desastre nuclear de Chernobyl ("La supplication").

Ao se concentrar no cotidiano, nos detalhes prosaicos que fazem uma vida, a romancista compõe polifonias singulares distantes da doxa patriótica, heroica e sacrificial dos livros lidos durante a sua infância.

Como em cada um de seus livros, ele restitui as emoções humanas em toda a sua complexidade e mostra, por trás do espelho, o grande afresco trágico do século soviético.

"Eu não estou tentando produzir um documento, mas esculpir a imagem de uma época", explica a escritora em sua entrevista. "É por isso que eu levo entre sete e dez anos para escrever cada livro", diz ela.

"Eu não sou jornalista. Não permaneço no nível da informação, mas exploro a vida das pessoas, sua compreensão da vida", acrescenta. "Também não faço o trabalho de um historiador, porque tudo começa para mim no ponto de término da tarefa do historiador: o que se passava pela cabeça das pessoas após a batalha de Stalingrado ou após a explosão de Chernobyl? Eu não escrevo a história dos fatos, mas a história das almas", insiste.

COMENTÁRIOS dos leitores