“Rua Cloverfield, 10” é bem intencionado, porém falho
Bons momentos do filme são ofuscados pelas costuras forçadas do roteiro e pelo “barulho excessivo por nada”
A trilha sonora acompanha os primeiros minutos de “Rua Cloverfield, 10” como se ela própria, e não Mary Elizabeth Winstead em tela, protagonizasse a obra. O martelo, pesado e sinfônico, de Bear McCreary continua pregando as demais emoções do filme que, apesar do nome, não se trata de uma sequência ou “prequel” de “Cloverfield - Monstro”.
Inclusive, pouca coisa resta do filme lançado em 2008, neste, além dos nomes envolvidos na produção - dentre eles, o de J.J. Abrams, hegemônico em Hollywood quando o assunto Sci-fi . O found footage se vai e com ele a experiência divertida de acompanhar a trama sendo construída sob os pontos de vistas diversos dos personagens. O ambiente de catástrofe em série é substituído pelo bunker - abrigo subterrâneo - construído por Howard (John Goodman), um aposentado da marinha que jura “de pés juntos” que o mundo está sob ataques em massa. Segundo o personagem, os indivíduos que permaneceram na superfície foram contaminados (Pelo quê? Por quem? Começam as perguntas).
“Melhor” para Michelle (Winstead) e Emmett (John Gallagher Jr). A primeira inicia o filme fugindo de seu relacionamento, aparentemente em crise, quando envolve-se em um acidente de carro - a cena, aliás, é uma das mais interessantes da fita devido à criativa montagem de Stefan Grube. Após o acontecimento, a jovem acorda no abrigo de Howard, supostamente responsável por ter-lhe socorrido. Já Emmett é apresentado como um dos envolvidos na construção do abrigo que - na iminência do ataque anunciado pelo anfitrião - resolveu rogar por guarida. Os primeiros dois terços do filme desenvolvem a relação dos personagens no limitado espaço, apontando incongruências na história narrada por Howard que ameaçam sua credibilidade.
O roteiro de Josh Campbell, Matthew Stuecken e Damien Chazelle prestigia a tensão criada pela postura e fala dominadora do personagem de Goodman à hecatombe externa. Os moldes da narrativa se assemelham a episódios de séries como “Além da Imaginação” e “Lost”, nos quais indivíduos confinados sob a premissa de uma catástrofe global encontram “monstros” (ou monstros) escondidos sob o terreno outrora seguro. A fita apresenta problemas de ritmo, com longos diálogos que objetivam dramatizar os fatos narrados - sempre sob a batuta da trilha incessante - com closes, da mesma forma insistentes, dos atores em tela. O elenco é eficiente em manter o público atento a boa parte da projeção, entretanto, os degraus da trama fincam-se em areia movediça e a ação dos personagens esbarra na carência de fundamento. Micro plot twists salteiam-se desordenadamente numa tentativa clara de surpreender o público, não pela unidade do que é apresentado, mas pela força de momentos isolados como o que envolve um barril de ácido - já no início do terceiro ato da obra - por exemplo.
Quando aproxima-se de seu desfecho, “Rua Cloverfield, 10” desiste de aparentar debater temas como a Síndrome de Estocolmo para tornar-se mais um aperitivo comercial, com direito a heroína para torcer, naves e alienígenas para apreciar. As aparições, ansiadas por parte do público que assistiu ao intrigante trailer da obra, soam gratuitas, sendo propositadamente pouco desenvolvidas pelo roteiro. Por fim, o último ato também não apresenta nada visualmente inovador e só funciona como comprovação do talento de M.E Winstead, que na sequência final remete à força de Sigourney Weaver em “Alien”. Infelizmente, ao contrário da obra-prima de Ridley Scott, o filme em questão apenas intenciona ser tenso, dramático e surpreendente, mas falha por ser explícito demais em tentar fazê-lo, sacrificando um bom argumento transformado em um roteiro banhado em perguntas não respondidas e que, em tela, não se sustenta. 
Nota: 2,5 / 5