Supla: 30 anos de rock sem repetir a si mesmo

Cantor vem ao Recife e conversou com o LeiaJá sobre as novidades de sua carreira ‘trintona’

por Paula Brasileiro qua, 19/12/2018 - 15:00

Quem viveu o início da década de 1990 conhece muito bem o nome Supla. O artista de pegada punk, com pinta de Billy Idol, e sotaque meio gringo, lançou seu primeiro disco homônimo em 1989 e até co-estrelou um filme ao lado de Angélica e os Trapalhões - rota obrigatória para os artistas de destaques daquela época -, Uma escola atrapalhada, em 1990.

Porém, as novas gerações não precisam olhar para trás para conhecer Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, o Supla. Aos 53 anos de idade, 30 de carreira, o artista continua ativo como nunca, dono de seus próprios caminhos e botando o dedo em várias feridas, sem filtro e sem melindres de qualquer ordem. O músico falou, com exclusividade, ao LeiaJá, sobre seu trabalho e revelou o que tem aprontado na cena musical brasileira.

Nesses 30 anos de carreira, Supla já fez de um tudo. O roqueiro já tocou com a banda Tokyo; com o irmão João Suplicy, na dupla Brothers of Brazil; atuou no cinema, como dito anteriormente; escreveu livro (Crônicas e fotos do Charada Brasileiro); lançou inúmeros clipes (o mais recente, da música If you accept me, saiu na última sexta); e participou de um dos primeiros realities shows brasileiros, a Casa dos Artistas, no SBT.

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Durante esse tempo, se apresentou com os maiores, como os Ramones, e foi figurinha conhecida entre ídolos como Iggy Pop, Patti Smith e Debbie Harry. Dizem até que ele teve um namoro com Nina Hagen, com quem trabalhou na música Garota de Berlim. Tudo sempre feito com seu inconfundível e autêntico estilo punk brazuca. "Eu me seguro no meu carisma", brinca.  No início de 2018, ele lançou Illegal, 10° disco de sua carreira solo. O álbum duplo e bilíngue, trata de temas atuais e ácidos, como a questão dos imigrantes em todo o mundo; o presidente dos EUA, Donald Trump; e até o prefeito de São Paulo, João Dória.

Sobre o tema central do novo trabalho, Supla desabafa: "É o tema mais atual agora. Você vê na Europa, muitos brasileiros sendo barrados como nunca teve, vi falar do bloqueio na Venezuela. Se você não quiser pensar no outro e pensar só na sua bunda.. É isso, né?  É só você se colocar no lugar da outra pessoa. Pergunta pro governador de Roraima: 'e se fosse alguém da sua família?”, diz em referência ao episódio de expulsão de imigrantes venezuelanos em agosto deste ano naquele Estado.

Supla tem viajado pelo país divulgando o novo trabalho e como todo artista independente, "arregaça as mangas" e corre atrás. É ele quem faz a coisa acontecer nos bastidores, atuando como seu próprio assessor de imprensa, produtor e empresário. É ele também quem cuida de suas redes sociais, nada que o salte aos olhos, no entanto: "Eu faço o que todo mundo faz, né, senão você fica pra trás mas não acho nada demais, é só uma forma de divulgar o que você faz". E apesar de se reconhecer um privilegiado, o artista nunca se escorou na sua condição de membro de família nobre paulistana (ele é filho de Eduardo e Marta Suplicy). "Nem sei se eu vou herdar alguma coisa e nem fico pensando nisso. Se vier é lucro se não vier..."

Supla no Recife

Com a experiência de três décadas de estrada, e muito rock'n'roll, Supla prova, a cada novo trabalho, que não está na cena para ser uma repetição de si mesmo. "Eu estou sempre lançando coisa nova, não fico vivendo do passado, respeito meu passado, tanto que eu vou aí cantar alguma coisas das antigas". Supla se refere ao show que faz no próximo sábado (22), no Dowtown Pub, ao lado da banda Anabela. Será uma participação em que o cantor dividirá o palco com os pernambucanos. "Vai ser mais uma festa, pra se divertir mesmo", promete.

Ao falar sobre sua vinda à capital pernambucana, o músico se derrete pela cidade; diz que vai "matar a saudade" e que tem muitos amigos por essas bandas para rever. Sobre a possibilidade de trazer o show de Illegal para terras recifenses, Supla se mostra animado, não antes de deixar registrada a decepção de ainda não ter sido chamado para o maior festival de rock local: "Aquele Abril pro Rock lá não me contratou até hoje, não sei porquê". A observação fez a repórter lembrar de uma antiga canção que rolava nas rodas punks 'das antigas' no Recife: "Paulo André não me ouve".

*Paulo André é o produtor do festival Abril pro Rock.

*Fotos: Divulgação

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