"Roma" e o sonho de fazer história no Oscar
O drama autobiográfico do mexicano e já vencedor do Oscar Alfonso Cuarón é um dos favoritos
"Roma" pode romper no domingo (24) uma tradição na cerimônia do Oscar: nunca uma produção em um idioma diferente do inglês venceu o maior prêmio da noite, o de melhor filme.
O drama autobiográfico do mexicano e já vencedor do Oscar Alfonso Cuarón é um dos favoritos, mas os prêmios dos sindicatos da indústria, que servem como termômetro, não coincidiram e os analistas afirmam que a disputa está em aberto.
O filme, que já venceu diversos prêmios, lidera as pesquisas ao lado de "Green Book", ambientado no período de segregação racial no sul dos Estados Unidos. A revista Rolling Stone e os sites especializados Gold Derby e IMDB apontam o favoritismo para o filme de Cuarón.
Neste caso, um filme independente, feito no México e por mexicanos, filmado em preto e branco e falado em espanhol e um dialeto indígena, mudaria para sempre a história do Oscar.
"Roma", que chega à premiação da Academia com 10 indicações, conta a história das duas mulheres que marcaram a infância de Cuarón: sua mãe, durante o processo de separação do marido, e uma jovem empregada doméstica de origem indígena, grávida após suas primeiras experiências sexuais.
Através das duas personagens - interpretadas pelas indicadas Marina de Tavira e Yalitza Aparicio respectivamente -, o filme apresenta um panorama profundo dos conflitos e hierarquias sociais do turbulento México dos anos 70.
- Frear a Netflix -
Brian Lowry, redator sênior de entretenimento da CNN, escreveu que "Green Book" será escolhido o melhor filme, mas que "Roma" deveria ser o vencedor do prêmio. "Deixou uma impressão mais profunda que praticamente qualquer outra coisa este ano, mas joga contra ser uma produção estrangeira e distribuída pela Netflix".
A gigante do streaming, que disputa pela primeira vez as principais categorias do Oscar, é criticada pelos estúdios tradicionais por privilegiar a distribuição na internet, com exibições muito limitadas nas salas de cinema.
"'Roma' poderia estar à frente sem importar quem é a distribuidora", afirmou à AFP Peter Debruge, crítico da revista Variety. "Mas a Netflix foi a empresa que apostou, que arriscou com este filme".
Outros apostam em "Green Book", que venceu o Globo de Ouro e o prêmio do sindicato dos produtores, por ser um filme "mais palatável" e que pode frear, justamente, o avanço da Netflix na indústria.
O filme segue a amizade entre o famoso pianista negro Donald Shirley e seu motorista branco Tony 'Lip', estabelecida durante uma viagem pelo sul dos Estados Unidos em plena época da segregação.
"Algumas pessoas descreveram como 'um filme de brancos'", disse à AFP Tim Gray, também da Variety, em relação às críticas da família de Shirley.
"Mas o filme nunca teve a intenção de explorar relações raciais, é um filme sobre a amizade de um par estranho, como em 'Máquina Mortífera' ou '48 Horas'".
- A péssima recordação de Branca de Neve -
Na disputa pela estatueta de melhor ator a interpretação de Rami Malek como Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody" parece ter mais chances que a transformação de Christian Bale em "Vice".
"Com Rami Malek, você assiste um papel que realmente se conectou com o público. Não ficaria surpreso com sua vitória", afirma Debruge.
Glenn Close é a favorita vencer a categoria de melhor atriz por seu papel em "A Esposa". A categoria também tem entre as indicadas Yalitza Aparicio, a protagonista de "Roma", uma professora sem nenhuma experiência anterior de atuação, e a estrela pop Lady Gaga ("Nasce uma Estrela").
Regina King ("Se a Rua Beale Falasse") e Mahershala Ali ("Green Book") são considerados os prováveis vencedores nas categorias coadjuvantes.
A organização desta edição do Oscar enfrentou diversos fiascos, que incluem ideias como a criação de uma ambígua categoria de filme popular ou o anúncio de categorias importantes durante intervalos comerciais, ambas abortadas após fortes críticas.
A premiação não terá um apresentador pela primeira vez em 30 anos, depois que o comediante Kevin Hart desistiu do papel por recusar-se a pedir desculpas por tuites homofóbicos que publicou há vários anos.
A última cerimônia sem apresentador, em 1989, é recordada pelo desastroso dueto musical entre Rob Lowe e a personagem Branca de Neve durante a abertura da premiação.