João Teimoso chega à maioridade fazendo arte e política

Atuando nos palcos e fora deles, em função da cultura pernambucana, o grupo chega comemora seus 18 anos

por Paula Brasileiro sab, 27/04/2019 - 10:38
Reproudção/Facebook O grupo celebra 18 anos de arte e luta pela cultura local Reproudção/Facebook

No Recife, existem vários grupos de teatro e existe o João Teimoso. Criado em 2001, o grupo se diferencia por levar sua atuação para além dos palcos se engajando na promoção e manutenção da vida cultural local e daqueles que dela tiram seu sustento, os artistas. Com ações como o Sarau das Artes e a Guerrilha Cultural (ambos completando uma década este ano), o João Teimoso faz juz ao seu nome e, sempre erguido, faz da luta pela cultura um de seus esteios. Comemorando seus 18 anos de história e resistência, o grupo coleciona  motivos para orgulhar-se e continuar na ativa.

O embrião do João Teimoso formou-se em 2000, quando o ator e diretor Oséas Borba Neto, um de seus fundadores, começou a dar aulas de teatro como professor voluntário. No ano seguinte, ao final de um de seus cursos, ele decidiu montar o grupo, que já nasceu precisando de uma certa persistência para existir devido a falta de apoio e local para ensaiar. Veio daí o nome, pois o João Teimoso é "aquele bonequinho que você tenta derrubar e ele sempre fica em pé", como explicou Oséas, em entrevista exclusiva ao LeiaJá.

Uma vez em pé, o João Teimoso desandou a fazer arte, mas não só isso, também se inseriu em um ativo trabalho de política cultural. O grupo atuou em inúmeras conferências de cultura, a níveis municipal, estadual e federal, através da pessoa de seu fundador,  que foi Conselheiro Municipal de Cultura, membro das câmaras setoriais que deram origem ao Conselho Nacional de Política Cultural, e hoje atua como membro do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, assim como sua assistente, a também atriz, Chell Moriim.

Uma das vitórias do grupo foi conseguir manter um canal de diálogo junto à gestão, tanto municipal quanto estadual, para tratar as demandas da classe artística. Recentemente, eles criaram uma cartilha, a Para quê cultura?, distribuída entre vereadores e deputados a fim de que pudessem olhar para os produtos culturais com outros olhos: "Essa cartilha fala sobre a importância da cultura para a saúde, para o turismo, para a comunidade em geral. É para mostrar aos nossos políticos que não é só diversão", diz Oséas. "A nossa arte é nossa arma. A gente faz isso pra provocar, pra mexer com a população,  com os governos, pra eles verem a importância da arte. Se ficarmos na inércia, não conseguimos nada", complementa Chelli.

Mas, apesar do livre trânsito entre gestores e políticos, o grupo continua teimando para sobreviver. Sem patrocínio ou apoio financeiro, eles se sustentam a partir dos cursos de teatro que realizam em seu espaço, localizado na Rua da Aurora, centro do Recife, e com a renda das bilheterias dos espetáculos. A falta de assistência, no entanto, não intimida os nove artistas que atualmente integram o João Teimoso que, acreditando em seu trabalho, continua firme e resistentes: "A gente acredita em parcerias. A gente não vai ser refém, nem de políticos, nem de gestores. A parceria é boa quando é de dois lados, sem precisar vestir camisa, a gente está aqui pra pedir o que é nosso por direito enquanto cidadão e quanto artista", afirma Oséas.

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Maioridade

Motivados pelo amor à arte e por nela acreditarem, os integrantes do João Teimoso estão radiantes em comemorar sua maioridade. Os 18 anos do grupo será celebrado com algumas ações como a peça Retratos de Chumbo - As Rosas que Enfrentaram os Canhões, com estreia prevista para agosto. A montagem vai contar a história de mulheres que sobreviveram ao regime de ditadura militar brasileiro e o grupo planeja, inclusive, fazer apresentações em assentamentos do MST, movimento com o qual mantém uma parceria.

Além disso, também há planos de realizar, em setembro, no Bairro do Recife, um evento batizado de Front Cultural, que deve reunir artistas, público e gestores para fazer e debater cultura e arte. Enquanto isso o movimento Guerrilha Cultural continua atenta à situação do Teatro do Parque, fechado desde 2010 e que, graças a atuação da Guerrilha está prestes a ser tombado a nível estadual, dentre outras demandas.

Já neste sábado (27), o grupo promove a 208ª edição do Sarau das Artes, com apresentações artísticas de variadas linguagens e feirinha de artesanato com 12 expositores. O Sarau acontece na Rua da Guia, Bairro do Recife, em frente ao Recife Antigo Hostel, das 17h30 às 22h30, e é aberto ao público.

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