Cauã relembra bullying, agressões e pobreza na infância
Ator passou o começo da infância em um prédio de classe média baixa próximo à favela da Rocinha
Nesta quinta-feira, dia 4, a revista GQ divulgou sua edição do mês de setembro, que traz Cauã Reymond na capa. A publicação é especial, já que faz parte do movimento Change Is Good, em português Mudar É Bom, realizado por todas as 21 edições da revista ao redor do mundo em uma colaboração focada no futuro. A escolha do ator para a capa da revista foi feita por conta dos projetos realizados pelo mesmo para diminuir os impactos da pandemia entre os mais afetados, e a entrevista feita pela GQ traz os desafios pessoais enfrentados por Reymond em sua trajetória desde a infância marcada pela pobreza, pelas dificuldades e pelo bullying, até o sucesso na televisão e no cinema.
O relato conta uma realidade que muitos talvez não conheçam sobre o ator que passou o começo da infância em um prédio de classe média baixa próximo à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Cauã vivia com sua tia esquizofrênica, que havia sido estuprada por porteiros de seu prédio, com a mãe, que havia sido adotada e por vezes apresentava comportamento autodestrutivo, e com a avó aleijada, que havia perdido o noivo em um atropelamento. Essa situação fazia com que o garoto sofresse bullying e agressões na rua por parte de outros meninos, que referiam-se a ele como o garoto da casa da louca.
- O clima podia ser bem pesado em casa, até violento, com muitos gritos. Minha tia esquizofrênica perdia o controle e às vezes olhava pra mim e dizia: vou cortar seu pinto. Eu era criança e isso me desesperava.
Cauã conta ainda que, mesmo sem ter qualquer tipo de deficiência, fez a segunda e a terceira séries em um colégio para surdos mudos, até se mudar para o Centro Educacional da Lagoa, escola particular paga por seu avô paterno. Apesar da mudança, o ator continuou a sofrer agressões, provocações e todo tipo de bullying por parte dos colegas continuou.
A situação financeira da família também não era das mais favoráveis. Cauã relatou que chegou a vender paçoca para ajudar a complementar a renda da família, e que quando sua tia esquizofrênica morreu, assassinada, não havia dinheiro suficiente para o velório e nem para o enterro.
Aos 14 anos de idade, passou a morar com o pai, José Marques, em Balneário Camboriú, uma cidade localizada em Santa Catarina. Marques, que é psicólogo, nadador e mergulhador, tampouco teve o apoio da família na juventude. Era filho de um paraibano que aos 17 anos de idade saiu de casa para morar sozinho no Rio de Janeiro. Seguindo os passos do avô paterno, Cauã deixou a cidade sulista aos 17 anos de idade para se tornar modelo - mas isso não tornou sua vida menos dura.
Cauã viajou para diversas cidades da Europa e teve contato com profissionais renomados como Bruce Weber e Karl Lagerfeld. Também morou durante dois anos em Nova York, onde limpava chão e tinha apenas 20 dólares - cerca de 106 reais na cotação atual - para gastar por dia, o que fazia com que ele tivesse que escolher qual refeição iria fazer: almoço ou jantar.
Hoje, aos 40 anos de idade e pai de Sofia, Cauã é um dos atores mais bem pagos da televisão brasileira, com milhares de seguidores nas redes sociais e uma carreira em constante ascensão marcada por dezenas de prêmios e indicações. Sua mais recente conquista foi o título de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília por seu papel no longa Piedade, de Cláudio Assis. Na trama, ele contracena com Matheus Nachtergaele e Fernanda Montenegro.
- Piedade foi um projeto que me desconstruiu completamente. Cláudio Assis é punk, tinha certeza de que ele ia me desafiar, puxar meus limites, e foi o que aconteceu. Aceitei fazer o filme sem mesmo ter lido o roteiro.