‘Laranja Mecânica’ completa 50 anos
Crítico de cinema expõe razões para que o filme seja considerado atemporal e um dos melhores de Stanley Kubrick
Nesta semana completam-se 50 anos desde que “Laranja Mecânica” (1971) chegou aos cinemas de todo o mundo. Esta é uma das obras mais aclamados do cineasta Stanley Kubrick (1928 – 1999), e até hoje é alvo de polêmicas por apresentar conceitos deturpados de “ultraviolência” e sexo explícito. É importante lembrar que por conta da temática do filme, Kubrick recebeu diversas ameaças de morte, juntamente com sua família, motivo que o fez retirar o longa-metragem de circulação no Reino Unido.
De acordo com o crítico de cinema Efrem Pedroza, “Laranja Mecânica” traz consigo críticas sociais pertinentes e atuais, assim como a própria violência extrema, que até então era pouco explorada em filmes de drama e suspense, e essa temática se funde à uma particular estética narrativa, que tornou o filme uma obra muito à frente de sua época. "Atemporalidade é o que define esta obra”, ressalta o crítico de cinema.
Kubrick faz uma sátira social na qual reflete sobre os malefícios do condicionamento psicológico nas mãos de um governo ditatorial, que tem a oportunidade de formatar as mentes dos cidadãos. “Quantos e quantos governos tentam ‘apagar’ ou distrair um povo daquilo que é verdade e que faz algo tornando a própria sociedade cada vez mais doente e incapaz”, reflete Pedroza.
Segundo o crítico, o filme ilustra de forma didática as leis universais do comportamento. “Não somente o campo da psicologia é explorado e exposto, como sociedade em seu contexto. Vários outros filmes utilizaram técnicas cinematográficas semelhantes à ‘Laranja Mecânica’ como: ‘A Boy and His Dog’ [1975], ‘THX 1138’ (1971) e ‘Westworld’ [2016 – 2018]”, expõe.
Nada disso seria possível se não fosse pelo astro Malcolm McDowell, que interpretou o protagonista Alex DeLarge. Segundo Pedroza, o personagem principal é um psicopata que se tornou icônico junto à audiência "pela forma de agir, com estilo, inteligência, charme, enfim, uma lista infinita de adjetivos que o torna únicos. O ‘copo de leite’ ilustra bem isso”, reconhece.
Justamente por conta da temática, outros países também tiveram limitações quanto à exibição do filme, assim como no Brasil, e muito se deve ao momento histórico que havia na época: a ditadura. “Muitos tiveram de assistir em países vizinhos, como no Uruguai. Mais tarde, o filme foi liberado, mas com tarjas pretas nas cenas de nudez, além da classificação 18 anos. Em suma, cinema é arte, comunica, informa, gera debates e opiniões. Toda sociedade que é privada disso sofre consequências”, finaliza.