Escritor paraense fala sobre a vida, carreira e projetos

Salomão Larêdo relembra o início da trajetória, expõe o lado difícil da profissão no Brasil e reforça a necessidade de valorização da cultura no país

qua, 16/03/2022 - 15:04
Arquivo pessoal Salomão Larêdo escreve sobre a cultura e os povos da Amazônia, mas busca dimensão universal Arquivo pessoal

Com mais de 40 obras publicadas que ilustram a cultura e o imaginário amazônico, o escritor, poeta e jornalista Salomão Larêdo é um dos maiores nomes da literatura paraense. Mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Salomão retrata em sua obra as diversas nuances da sociedade. Nesta entrevista ao LeiaJá Pará, ele fala da carreira, de sua vida e dos projetos futuros.

A publicação mais recente do escritor é o romance ficcional “Pedral, Canal do Inferno”, lançado no primeiro semestre de 2021, inspirado na leitura de “De Belém a S. João do Araguaia – Vale do Rio Tocantins” (1910), livro do engenheiro cametaense Ignácio Baptista de Moura. O cenário da ficção é o Pedral do Lourenço, formação rochosa com 43 quilômetros de extensão, localizada no rio Tocantins, município de Itupiranga, sudeste do Pará, que no período de estiagem impede a navegação. Para viabilizar a hidrovia Araguaia-Tocantins, o poder público pretende destruir o imenso pedral.

Porém, por não serem ouvidas, comunidades, movimentos sociais, colônias de pescadores, quilombolas, mulheres, entre outros, manifestam-se contra a ação. “Como aconteceu com a construção da hidrelétrica de Tucuruí (inaugurada em novembro de 1984), e na oportunidade escrevi o romance ficcional 'Sibele Mendes de amor e luta', que lancei em 1984. A história se repete”, relata Larêdo.

Salomão Larêdo se descreve como circunscrito à Amazônia, tratando de temas do povo e da região. Pelas abordagens, no entanto, sua literatura ganha dimensões e interesse universais.

O escritor conta que desde criança aprecia o movimento do rio Tocantins que passa na frente da casa onde nasceu, na Vila do Carmo, em Cametá, no nordeste do Estado. “Aprendi a ler com meu pai, ouvindo minha mãe contar e cantar encantadamente na comunidade onde vivíamos, partícipes das águas do rio Tocantins, imersos na vida da natureza ao nosso redor”, diz.

Salomão Larêdo diz que sua obra seduz e fisga o leitor pelo enredo e pela maneira simples de escrita. “Não escrevo para intelectual, escrevo para leitor, para o povo, sempre valorizando o que é nosso, utilizando a linguagem do povo da Amazônia, o sotaque paraense, tudo tão rico, quase não lido, não estudado”, descreve.

O escritor também fala das dificuldades de publicação e afirma que trabalha bastante, e que o fruto do esforço cotidiano e permanente na literatura é a aceitação dos livros pelo público. “O leitor gosta, adquire, lê, discute e pouco a pouco vamos conquistando mais espaço e leitores na Amazônia, no Brasil e no mundo”, observa.

Para o escritor, artistas regionais e a cultura do povo precisam ser mais valorizados. Ele afirma que a região amazônica, apesar da beleza e das riquezas, ainda é pouco estudada e pesquisada por pessoas nativas.

Salomão afirma que trabalha para a formação do leitor crítico, com a adoção de bibliotecas, de livros. “Para que o acesso seja o mais democrático possível e, através da leitura que faz o povo pensar, mudemos o status quo”, enfatiza.

O escritor cita algumas influências como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado e alguns mestres no Pará e na Amazônia, como Dalcídio Jurandir, Ildefonso Guimarães, entre outros. Pesquisa e escreve muito, de forma permanente. Segundo ele, tudo é material para livros futuros. “Tenho alguns em curso. Vem aí o 'Banhos de Rio', romance ficcional muito bonito, encorpado, rico em propostas, jeito novo de narrar, modo, outro estilo, que fiz antes do 'Pedral - Canal do Inferno'”, revela.

Ele destaca outro projeto futuro bastante esperado pelo público, o "Onze Bandeirinhas", ficção com cenário localizado no bairro do Guamá, em Belém. “Contém as emoções das relações humanas, acontecimentos do encontro entre pessoas no nosso mundo Guamá. Para a leitora e o leitor dialogar com a leitora e com o leitor ao seu modo e no seu mundo Guamá”, diz.

Salomão Larêdo reitera que deve haver investimento em educação e cultura, e reforça a necessidade de formação de leitores, cidadãos políticos e culturais que sabem fazer escolhas e que possuem senso crítico. “É um direito das pessoas que o livro esteja à disposição delas, em toda parte e lugar, pois a cultura, os bens culturais, é um direito de todos que devem fruir e usufruir desse direito”, afirma.

O escritor aconselha aqueles que têm vontade de seguir uma trajetória por meio da escrita. “Quem quer escrever, antes de tudo tem que ler, ler muito sempre e pesquisar, ler e ler e ler bastante, pois o ato de ler precede, sempre, o de escrever”, conclui.

Por Isabella Cordeiro (sob acompanhamento e orientação de Antonio Carlos Pimentel).

COMENTÁRIOS dos leitores