Ciência discute eficiência da tecnologia na linha do gol

O sistema se baseia em câmeras e imagens tridimensionais, em que o campo magnético visa a permitir indicar com precisão se a bola ultrapassou ou não a linha do gol

qua, 29/05/2013 - 18:01
Glyn Kirk Tecnologia goal-line é testada no estádio de Wembley em 2 de julho de 2012 Glyn Kirk

A ciência entrou em campo para discutir a confiabilidade da tecnologia na linha do gol (TLG ou goal-line technology), que pretende acabar com erros de arbitragem no futebol, mas que precisa ter seus limites considerados, advertiu nesta quarta-feira o jornalista britânico independente Nic Fleming em artigo na revista científica Nature.

O sistema se baseia em câmeras e imagens tridimensionais, em que o campo magnético (com ou sem chips) visa a permitir indicar com precisão se a bola ultrapassou ou não a linha do gol.

O primeiro torneio que utilizou oficialmente a TLG foi o Mundial de Clubes, em dezembro de 2012, e a tecnologia voltará a ser usada dentro de algumas semanas na Copa das Confederações (de 15 a 30 de junho) no Brasil.

A TLG também será utilizada em agosto na Inglaterra, nos estádios da Premier League.

"Não sou contra a introdução desta tecnologia", disse à AFP o jornalista Nic Fleming, torcedor do Sheffield United. "No entanto, a tecnologia desempenha um papel cada vez mais central em nossas vidas e é importante que sejamos conscientes de seus limites", argumentou.

Em um artigo publicado na revista científica britânica Nature, mais acostumada a temas como neurociência, astronomia ou física, Fleming expôs estes limites.

Segundo o jornalista, muita gente vai pensar que está vendo uma imagem real do ocorrido, quando na verdade as imagens são uma reconstituição feita em computador.

Embora admitindo que os olhos eletrônicos são certamente mais confiáveis do que os dos árbitros humanos, Fleming destacou que os sistemas na linha do gol "não podem ser 100% precisos" e podem errar.

"A introdução da tecnologia na linha do gol no futebol pode levar os telespectadores a uma decepção em massa", advertiu o jornalista no artigo.

"Às vezes vai errar, ainda que só ocasionalmente", afirmou.

O jornalista disse que as pessoas vão compreender que há uma margem de erro científico a considerar.

"Isto ajudará as pessoas a ter uma compreensão mais clara de que a ciência está habitualmente baseada em probabilidades, não em respostas definitivas", destacou.

Foi um gol do inglês Frank Lampard, injustamente anulado no jogo contra a Alemanha pelas oitavas de final do Mundial de 2010, que levou o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Sepp Blatter, a propor a possibilidade de recorrer à TLG.

Um sistema alemão, o GoalControl-4D, que se baseia em imagens de sete câmeras de alta definição em cada gol e em um chip dentro da bola, permite acompanhar a bola em três dimensões graças à reconstituição das imagens, ganhou o contrato para a Copa das Confederações.

A Premier League optou por um sistema britânico, o Hawk Eye (Olho de Falcão), também baseado em câmeras e que já funciona no circuito de tênis.

"O Hawk-Eye reivindica uma precisão mínima de, mais ou menos, 6 mm, o GoalControl, uma precisão de mais ou menos 5 mm", disse Nic Fleming. Mas "essas afirmações não podem ser verificadas" uma vez que a FIFA não divulga os resultados dos testes, lamentou.

Apesar disso, o presidente da Uefa, entidade que dirige o futebol europeu, Michel Platini, se mantém contrário à ajuda tecnológica, principalmente devido ao custo.

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