Uso de véu e turbante oficialmente autorizado no futebol
O International Football Board alegou que a medida pode contribuir ao seu desenvolvimento em países com restrições religiosas
O International Football Board (IFAB), orgão responsável pelas regras do futebol, autorizou oficialmente neste sábado o uso do véu islâmico e do turbante no esporte, alegando que a medida pode contribuir ao seu desenvolvimento em países com restrições religiosas.
Há dois anos, a entidade tinha aceito o uso do véu como teste, após pedidos de vários países muçulmanos. Em seguida, o Board acabou ampliando a experiência para jogadores masculinos, depois de uma polêmica envolvendo atletas da comunidade Sikh no Canadá.
"A experiência foi feita e uma decisão precisava ser tomada. Agora está confirmado: as atletas podem ter a cabeça coberta para jogar", declarou o secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, em uma entrevista coletiva.
"Não pode haver discriminação. O que se aplica às mulheres pode se aplicar aos homens. Os homens também podem ter a cabeça coberta em competições", acrescentou o dirigente.
O Ifab disse não ter motivos válidos para proibir o uso do véu ou do turbante desde que algumas regras específicas sejam respeitadas. Não será possível usar os acessórios habituais que as pessoas vestem nas ruas.
O véu (ou turbante) precisa ser colado à cabeça, não pode ser amarrado na camisa nem representar perigo para os outros jogadores. Não é possível usar alfinete para amarrá-lo.
Este assunto descadeou várias polêmicas no mundo de futebol nos últimos anos. O Irã chegou a atacar a Fifa na justiça porque as jogadoras da seleção feminina não puderam participar das eliminatórias para os Jogos Olímpicos de Londres-2012 por não terem sido autorizadas a cobrir a cabeça.
- Laicidade em questão -
Para os dirigentes do Ifab, o aspecto esportivo foi mais importante que o debate em torno do símbolo religioso. "Tratava-se de um requerimento de um grupo de países e de jogadores que diziam que isso contribuiria ao devolvimento do futebol. Foi o principal argumento que levou o Ifab a dizer sim", explicou Valcke.
A autorização é válida para o mundo inteiro, mas não será aplicada em todos os países. Na França, onde o debate sobre o uso do véu islâmico gerou várias tensões sociais nos últimos anos, a Federação local (FFF) proibiu a prática as jogadoras filiadas "para respeitar os princípios constitucionais e legislativos de laicidade" em vigor no país.
Neste sábado, a FFF lembrou que a proibição também valia "na participação de seleções francesas em competições internacionais". O presidete da Liga de Futebol Profissional da França, Frédéric Thiriez, chamou a decisão do Ifab de "grave erro".
"Lamento a decisão da Fifa, que vai contra o princípio de universalidade do futebol, segundo o qual todos os jogadores e jogadoras são submetidos às mesmas regras e às mesmas condições de jogo", disse o dirigente em comunicado enviado à AFP.
O Ifab também modificou as regras que dizem respeito às roupas usadas dos jogadores, para proibir de forma mais clara qualquer mensagem ou imagem de cunho político, religioso ou pessoal, tanto em camisa usadas por baixo do uniforme quanto em roupas íntimas. Qualquer que seja a intenção do jogador, ele corre o risco de ser multado se levantar sua camisa para mostrar uma mensagem escrita.
A punição se aplicaria, por exemplo, ao gesto do espanhol Iniesta na final da última Copa do Mundo. Depois de anotar o gol da vitória por 1 a 0 da 'Roja' sobre a Holanda, o meia do Barcelona tinha exibido em uma camiseta uma mensagem em homenagem a Dani Jarque, jogador do outro clube da capital catalã, o Espanyol, que havia falecido poucos meses antes por causa de um problema cardíaco.