Colégio em Belém reforça a importância da inclusão social
Seleção paraense de futsal para pessoas surdas e mudas participa do último dia de competições dos Jogos Internos do Sophos e dá uma aula sobre educação inclusiva nas escolas
A inclusão social se tornou uma constante preocupação da sociedade. Dentro de escolas, por exemplo, já são provocados debates sobre preconceito e acessibilidade. Essa é uma das ideias do colégio Sophos, que durante cinco dias promoveu os jogos internos para os alunos. No encerramento dos jogos, nesta sexta-feira (20), o time de futsal dos alunos do convênio recebeu a seleção paraense masculina de futsal de pessoas surdas e mudas. O jogo foi disputado no ginásio do Sindicato dos Bancários.
Segundo a coordenadora do Ensino Médio da escola, Rafaela Franco, o colégio sempre esteve muito preocupado com as questões de inclusão social. “Para os alunos do Sophos é uma honra receber os atletas, porque a escola trabalha muito essa situação da inclusão. O cotidiano deles já tem essa habilidade de receber esses alunos, conviver com esses alunos (com deficiência). É uma honra saber que podemos estar dentro do esporte fazendo a inclusão de pessoas com necessidades especiais”, diz a coordenadora.
Isso se dá porque praticamente em cada sala do colégio há, pelo menos, um aluno com alguma deficiência. Pensando na inclusão e no respeito ao próximo, a coordenação, depois da sugestão de uma mãe de aluno do colégio, decidiu fazer o convite para a seleção, que aceitou de braços abertos. “Eles ficaram muito motivados quando receberam o convite do colégio. Mostrei notinha do jornal etc. Eles ficaram superfelizes, porque eu sempre digo para eles a importância de estar unidos com as pessoas ditas ‘normais’, porque o deficiente, por si só, tende a criar uma certa barreira, então no programa eu tenho essa política com eles, tentando ao máximo que eles consigam se aproximar das pessoas”, explica o técnico da seleção, Márcio Cerveira.
O time já conquistou diversos títulos nacionais e internacionais. Esse foi um dos motivos pelo qual o convite foi feito. “Eu sempre falo que há uma necessidade de incluir não só a pessoa com deficiência visual, ou auditiva, por exemplo, mas também o negro etc. A tolerância hoje precisa existir na sociedade, e principalmente no âmbito escolar. Porque ali tem o negro, o branco, o magro, o gordo, o homossexual, e por aí vai. Eu acho que a escola tem que ter essa visão ampla e saber que cada um tem sua própria identidade e é preciso aceitá-lo como ele é”, diz Rafaela. Segundo ela, essa é a principal mensagem que o colégio deseja transmitir durante esse momento de confraternização. “O que é diferente para mim, pode ser normal para você e vice-versa, então a escola mais do que nunca precisa trabalhar isso na formação dos alunos”, afirma.
Os alunos participam dessa formação com a mente muito aberta, e se sentiram felizes de poder receber os atletas para compartilhar um momento saudável de diversão. “Eles são uma grande seleção que vem mostrando que cada vez mais a sociedade brasileira vem evoluindo em questão do preconceito. Porque há algum tempo não se falava de uma seleção com jogadores especiais, como jogamos hoje, de surdos, por exemplo. Isso mostra que qualquer deficiência física não interfere em nada no jogo. O jogo foi acirrado, eles nos deram muito trabalho. Queria dizer parabéns para os atletas e para o técnico. Eles são uma grande equipe”, afirma o aluno do colégio Sophos Vinícius Moraes. Para Victor José, também aluno do Sophos, foi uma honra jogar contra a seleção. “Muita gente acha que, quando algum problema acontece com uma pessoa, no caso físico, ela perde toda a vontade de fazer um esporte que ela gosta. E aqui a gente conseguiu presenciar uma equipe que, mesmo com suas dificuldades, está ali para jogar. Queria agradecer a eles por nos darem essa oportunidade rara de jogar com uma equipe dessas”, diz.
O rapaz ainda fez uma reflexão sobre a importância da educação no combate ao preconceito. “Nós vemos muitos preconceitos que ocorrem com todos. Então a escola está ali para inibir esses preconceitos. E aqui eles jogaram de igual para igual. Eles jogaram melhor que a gente, mas não teve muita diferença”, diz, rindo. O jogo terminou em 2 a 0 para a seleção convidada. Para o técnico do time, o esporte é muito importante na inclusão. Mas, para ele, a inclusão não existe somente para quem tem deficiência, e si para todos, no geral. Pela seleção, os atletas já viajaram para outros países e puderam conhecer novas culturas. “Eu tento falar da importância de eles darem continuidade nesse trabalho”, diz Márcio. E os atletas já estão caminhando nesse rumo. Renan Silva e Lucas Salustiano são jogadores da seleção brasileira e hoje estudam Educação Física. O técnico Márcio Cerveira traduziu a entrevista dos atletas, que se comunicam em libras. “O surdo junto com o ouvinte, na competição, tem essa troca e essa união da amizade entre nós. Então é importante porque o nível de troca gera profissionalismo também que, além de aprendermos com os ouvintes, o inverso acontece também”, diz Renan Silva.
O esporte, para ambos os atletas, é de fundamental importância. “A importância da participação dos surdos é que eles ficam em casa, com a família, e a família às vezes não dá apoio ao deficiente. Então a importância da vivência deles através do esporte, é que o surdo acaba largando os possíveis vícios, como beber, fumar, e ajuda na saúde também”, diz Renan. Já para Lucas, que teve paralisia infantil e meningite e não andou até os 4 anos, o esporte é como se fosse um novo fôlego de vida. “É importante para mim porque eu era muito jovem quando comecei a aprender e acredito hoje no trabalho”, diz. No final do jogo, os alunos do Sophos entregaram aos atletas da seleção medalhas de agradecimento pela participação nesse momento de competição.