Vila dos Atletas é inaugurada com boicote australiano
Delegação australiana alegou problemas de acabamento na obra
A Vila Olímpica que receberá os atletas nos Jogos do Rio abriu as portas oficialmente neste domingo (24), com uma primeira dor de cabeça para os organizadores: o boicote da Austrália por causa de problemas nos acabamentos da obra. "Devido a diferentes problemas na vila, de gás, eletricidade e encanamento, decidi que nenhum integrante da equipe australiana será alojado no edifício que nos foi reservado", sentenciou Kitty Chiller, chefe da delegação australiana, em um comunicado. "Deveríamos ter entrado na Vila no dia 21 de julho, mas ficamos em hotéis próximos, porque a Vila simplesmente não está segura, nem pronta", enfatizou.
Entre os problemas apontados estão "vazamentos, banheiros inacabados, cabos à vista, escadas sem luz e pisos sujos, que requerem limpeza profunda". Chiller relatou que, em um teste realizado na noite de sábado, "a água estava correndo pelas paredes, havia um forte cheiro de gás em alguns apartamentos e até curto-circuitos em cabos elétricos".
A australiana garante que outras delegações, como a Grã-Bretanha, ou Nova Zelândia, encontraram problemas semelhantes. Em um tom mais diplomático, a delegação britânica, uma das primeiras a se mudar para a Vila desde a semana passada, informou que também "encontrou problemas de manutenção, o que acontece frequentemente em novas construções". "Muitos dos nossos atletas serão recebidos primeiros no nosso campo de base de preparação, perto de Belo Horizonte, para a aclimatação e os primeiros treinos, explicou à AFP um porta-voz do 'Team GB'.
Até os membros do Time Brasil, que deveria instalar atletas de nove modalidades neste domingo, preferiram permanecer no hotel, até que reparos sejam feitos nos alojamentos. O Comitê Organizador rebateu as críticas ao alegar que se tratam apenas de "pequenos ajustes" e que esse tipo de problema acontece em todas as olimpíadas.
'I feel Slovenia'
"Respeitamos a decisão deles, é complicado se instalar enquanto os ajuste não são feitos, mas são ajustes internos e pequenos, que serão resolvidos dentro de alguns dias", assegurou Carlos Nuzman, que cumula as funções de presidente do Comitê Organizador Rio-2016 e do Comitê Olímpico do Brasil (COB).
"O mais importante é que esses problemas sejam resolvidos antes das competições, e serão resolvidos até 48 horas", prometeu por sua vez Janeth Arcain, ex-jogadora de basquete medalhista de prata nos Jogos de Atlanta-1996 e de bronze em Sydney-2000, nomeada "prefeita" da Vila dos Atletas.
Enquanto os organizadores estavam rebatendo as críticas, a poucos metros de lá, um operário retirava as letras do nome da Itália em um edifício nas cores da bandeira do país (verde, branco e vermelho) e mal se podia ouvir as palavras dos cartolas por causa do barulho das furadeiras.
A menos de duas semanas da cerimônia de abertura, marcada para o dia 5 de agosto, no Maracanã, a estrutura de 200 mil metros quadradas, com 31 prédios de 17 andares divididos em sete condomínios, já começa a viver o clima olímpico.
Apesar dos problemas, alguns dos cerca 10.500 atletas esperados já chegaram, como os japoneses, por exemplo. Muitos países já 'customizaram' o espaço com decorações nas fachadas, como a França, que dividirá seu prédio com Suíça e Israel. O mais original é a Eslovênia, que exibiu a mensagem "I feel Slovenia" (Sinto a Eslovênia, em inglês), com as letras posicionadas para deixar aparecer "I feel love" (sinto amor).
No total, a 207 delegações, uma delas sendo formada por refugiados, serão alojadas no espaço localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A última dúvida era a presença ou não da Rússia, que acabou sendo liberada pelo COI neste domingo.
A delegação russa estará presente, mas caberá às Federações Internacionais decidir quantos atletas irão ao Rio. Todos terão que atender a critérios muito rígidos para provar que estão 'limpos', em meio às denúncias de doping sistemático e supervisionado pelo governo.
Segurança máxima
Os moradores da Vila serão beneficiados por todos os serviços de uma pequena cidade. Para a alimentação, foi instalado um refeitório imenso e também restaurantes menores.
Para outras necessidades, serão disponibilizadas nada menos 450.000 camisinhas. Todos os quatros são equipados com sistemas repelentes eletrônicos para diminuir ainda mais o risco de infecção com o vírus Zika, que já é muito menor devido às condições climáticas do inverno carioca.
Como o mosquito não é o único inimigo, a segurança foi reforçada. A prisão de uma célula com dez brasileiros planejando um atentado, em meio ao clima de temor gerado por ataques terroristas em Nice, Kabul ou Istambul, trouxe à tona o fantasma dos Jogos de Munique-1972, quando um comando palestino sequestrou membros da delegação israelense, deixando 11 mortos.
O esquema de segurança dos Jogos começou a funcionar com sua força máxima neste domingo: com 85.000 homens mobilizados (47.000 policiais e 38.000 militares). "Ajustaremos os procedimentos para ampliar a segurança, torná-la mais rígida e, evidentemente, cobrir qualquer lacuna ainda existente", prometeu o ministro da Defesa, Raul Jungmann, depois do atentado de Nice.