Loucos por futebol, remistas e bicolores esbanjam paixão

Torcedores de Remo e Paysandu, os dois maiores clubes do Pará, revelam histórias incríveis de amor às camisas

ter, 05/06/2018 - 10:10

Uma pesquisa feita pela Mastercard na América Latina apontou que os torcedores de futebol desmarcariam qualquer compromisso para assistir a uma partida de seu time. Segundo a pesquisa, 35% dos entrevistados deixam de ir trabalhar ou estudar para ver um jogo. Entre os brasileiros, 31% não saem de casa sem a camisa do seu time. No Pará, não é diferente. Os torcedores de Remo e Paysandu têm muitas histórias para contar sobre situações e perrengues que já passaram direta ou indiretamente por causa de seus clubes.

As cores azul marinho e azul celeste que desfilam na capital paraense têm muito em comum, entre elas as loucuras dos torcedores. Richard Ferreira, remista, fez uma maratona de quase quatro quilômetros a poucos minutos de começar a primeira partida entre Remo x Cuiabá, válida pela final da Copa Verde, em 2015. Ele correu do Entroncamento até o estádio do Mangueirão. “Cheguei nas últimas, não aguentando mais. Naquela noite valia tudo pelo Remo. Cheguei atrasado, estava tudo parado, foi o único jeito que achei de ver o Leão e não foi só eu, tinha bastante gente correndo também”, contou.

Torcedor do Paysandu, Jorge Luiz Conceição de Oliveira teve que fingir ser remista, “virar a casaca”, só para entrar na família da sua esposa na época, porque o sogro e os três cunhados eram remistas. Ele conseguiu enganar direitinho nos primeiros anos. Até beijou o escudo, mas depois que casou, o bicolor adormecido deu as caras e se revelou.

Jorge conta que o sogro ficou enfurecido com ele. Os dois passaram meses sem se falar. Ele não conseguia mais fingir. Comprou um conjunto do Paysandu para o filho. Quando os parentes remistas viram o garoto vestido de alvi-azul, a máscara caiu. Jorge assumiu, mas guarda uma lamentação: o filho seguiu o lado da mãe e do avô e virou mais um remista louco também.

Renan Walmir faltou trabalho para ver o Remo conseguir o acesso para a Série C, no jogo Remo x Operário, em 2015. No outro dia ele estava com a carta de demissão na mão. Renan diz que até tentou enganar o chefe. Foi na emergência de um hospital, alegou que estava com dor de cabeça e gripe para poder pegar o atestado. Mas o chefe sabia que ele estava no estádio. “Valeu muito a pena”, completou.

Ivana Oliveira, jornalista e professora universitária na Unama (Universidade da Amazônia), conta que se tornou torcedora do Paysandu assim que se mudou para Belém. Traz o amor pelo futebol como herança paterna. “O Paysandu foi apresentado pelo primeiro namorado aqui. Sempre frequentei estádio, sempre fui ao Re x Pa. Sempre fui fanática pelo futebol e o amor e a rivalidade das torcidas só aumentaram minha payxão (para ela, com y)”, declarou a bicolor.

A jornalista alviceleste conta que seu ex-marido namorou e casou com ela sem dizer que torcia para o time adversário. Segundo Ivana, ele ia para o estádio da Curuzu, comemorava gol bicolor e tudo. Só contou para ela no oitavo mês de gravidez, e foi bem difícil. Por causa disso, o filho não teve roupa azul de nenhum tom. Ela brinca que o filho nasceu em julho para não correr o risco de ter filho Leão nem no signo.

Ivana diz que, pelo amor ao time, é zoada desde a portaria quando chega ao trabalho. Não perdeu jogos nem com barriga de oito meses (a segunda gravidez) e proibida de ir ao estádio pela médica ("maior loucura que fiz"). Ela conta que quando o Paysandu jogava a Libertadores viu quase todos os jogos em Belém e só perdeu o último porque o marido não deixou. Havia risco de a emoção prejudicar o andamento da gravidez, que estava no final. Segundo ela, porém, não adiantou muito: foi tanto choro que se emocionou como se estivesse no estádio.

Para a bicolor, toda essa loucura tem limite. “Brincar, pode; zoar, pode; agredir, nunca. Respeitar o sorriso do outro. Não brinco com quem não sabe brincar. No meu trabalho já fizeram velório pro meu time e ri muito disso, mesmo braba, mas tem gente que não sabe. Ofende, provoca para brigar e não brincar. Aí, tô fora”, complementa.

Por Lucas Sarah.

COMENTÁRIOS dos leitores