Torcidas 'antifas' do Recife querem política nos estádios
Rubro-negros, alvirrubros e tricolores tentam combater preconceitos com pautas progressistas
O fascismo é definido como um “sistema ou regime político e filosófico, anti liberal, imperialista e antidemocrático, representado pela existência de um partido único e pela figura de um ditador, fundado na ideologia de exaltação dos valores da raça e da nação em detrimento do individualismo”.
Em contraposição, o termo 'Antifa' é descrito como “um movimento em que pessoas ou grupos fazem oposição declarada a todas as formas de manifestação de fascismo, como a militância ativa de um partido político ou de um movimento que tenha em sua ideologia o apoio a preconceitos ou à discriminação social, econômica, cultural, racial.”
Não é de hoje que todo esse embate político foi parar no futebol. Na Europa, ele já existe há tempo e tem muitos adeptos de ambos os lados. No Brasil, não temos torcidas declaradas 'fascistas', mesmo assim, o país viu o crescimento de grupos 'antifas' nas arquibancadas dos estádios, nos últimos anos.
O LeiaJá entrou em contato com algumas torcidas declaradas anti fascistas do Recife para saber como funciona essa ideologia na capital pernambucana e o que eles querem mudar na realidade do esporte por aqui.
Pautas progressistas
“Vou xingar de quê, se não for de veado?”. Segundo Diego Gomes, publicitário, 22 anos, essa foi uma das perguntas com as quais ele se deparou, ao abordar um torcedor sobre o combate à homofobia na Ilha do Retiro.
Diego é um dos membros da Torcida Antifascista do Sport, fundada em 2017, e que organiza um trabalho de conscientização em alguns jogos. “Criamos a torcida por causa do cenário político brasileiro e por causa do cenário dentro do Sport. Nossa luta é contra o machismo, preconceito de classe e discriminação do público LGBT”, conta.
No Santa Cruz, a Coral Antifa é a representante tricolor no movimento. Uma das mais atuantes no estado, sempre presente em manifestações políticas na cidade, ela segue o discurso. “Futebol é um espaço gigante sem lei, com relação aos preconceitos diários. Tentamos quebrar isso e combater o machismo e a homofobia”, explica Allan Vítor, 31 anos, professor e membro da torcida desde 2014.
Aguardando a volta dos Aflitos para fortalecer uma atuação mais ativa, a Brigada Popular Alvirrubra endossa o discurso. “Achávamos que o estádio estava sendo usado para coisas que a gente abomina, como repressão policial e machismo”, diz Thiago Coutinho, 30, contador.
“Tem gente que acha que política e futebol não se misturam, acha que qualquer pauta progressista é politizar o futebol. A gente acredita que o futebol é um micro espaço e as mazelas da sociedade se mostram lá. São pautas que não são necessariamente partidárias, machismo é pauta de todas a mulheres. Não queremos doutrinar a torcida do Náutico e sim levantar uma discussão”, garante Thiago.
Torcidas organizadas
Outro assunto comum às antifas, são as torcidas organizadas, cujo comportamento em dias de jogos não agradam muito, devido a casos de vandalismos e brigas. No Leão, o caso é mais debatido, já que a diretoria do clube rompeu os laços com a Jovem e a proíbe de entrar na Ilha do Retiro.
Segundo Diego Gomes, a Antifascista do Sport não concorda com os mandatários rubro-negros. “Torcida organizada é um movimento social de periferia perseguido. É elitista a forma como combatem a Jovem. A festa é maior com ela em campo e ela também tem ações sociais. Queremos conscientizar e educar, não criminalizar. Você acaba tirando deles uma opção acessível de lazer”, diz.
No Santa e no Náutico, a opinião também é favorável às TOs. “Defendemos a liberdade de torcer, não se pode impedir pessoas de entrar em um estádio. Proibir não é a solução. A educação vai além”, comenta Allan Vítor, da Coral Antifa.
A Brigada Popular Alvirrubra assina embaixo. “As organizadas têm um perfil de periferia, onde o futebol muitas vezes é o único lazer. A briga é na rua, não no estádio. Não é proibindo uma faixa na arquibancada que vai se resolver o problema”, opina Thiago Coutinho.
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