Após vitória rara, Andrea Muniz busca um cavalo para 2021
Há pouco mais de duas semanas, Andrea Muniz conquistou uma vitória importante na busca por maior participação feminina na elite do esporte
Embora o hipismo seja o único esporte olímpico em que homens e mulheres competem em igualdade de condições, a modalidade ainda é dominada pelos cavaleiros. No alto rendimento, menos de 10% dos atletas no Brasil são amazonas. Há pouco mais de duas semanas, Andrea Muniz conquistou uma vitória importante na busca por maior participação feminina na elite do esporte. Ela foi a primeira a vencer um Grande Prêmio de nível sênior top, o mais alto do hipismo brasileiro, desde abril do ano passado. É um salto gigantesco para as mulheres.
O GP Bulova, disputado no Clube Hípico de Santo Amaro, em São Paulo, no dia 13, é uma etapa da liga sul-americana, que classifica dois atletas para a Copa do Mundo de 2021, que será realizada na Suécia. Válido pela final do ranking sênior top 2020, o GP encerrou o Concurso de Salto Internacional World Cup Qualifier Dezembro, principal torneio de término da temporada.
"Foi uma vitória super importante. Recebi várias mensagens de amigos e outras pessoas que diziam como ela serve de exemplo para as meninas", comentou para o Estadão a competidora de 45 anos.
Entre os 50 melhores colocados no ranking de 2020, apenas oito são mulheres. Daí a importância de sua vitória. Mariana Cassettari, de Santa Catarina, em 9º lugar, é a mais bem colocada. A última vitória feminina em um GP desse nível foi conquistada por Karina Johannpeter no GP Internacional SHP Open na temporada passada.
Na opinião de Andrea, existem poucas mulheres no alto rendimento por causa das exigências impostas pela carreira esportiva. "Muitas mulheres montam, mas poucas chegam ao alto rendimento. O hipismo é um esporte mais longo que as outras modalidades, pode ser praticado por toda vida. É mais difícil para uma mulher fazer com que o marido ou namorado a acompanhe por tanto tempo na carreira. É cultural. Além disso, é preciso abrir mão de muita coisa por muito tempo", comentou a baiana de Salvador, formada em Administração de Empresas com MBA em Marketing Administrativo.
As boas perspectivas abertas pela vitória esbarram numa limitação importante. Nos últimos dois anos, Andrea não teve um cavalo próprio e de alto nível. A vitória naquele domingo foi conquistada com Quivala, animal emprestado pelos proprietários Hélio Gil e Luiggi Lettiere. Suas montarias anteriores sofreram com lesões. Um deles acabou morrendo após uma cirurgia de castração.
"Estou em busca de um cavalo. Se aparecer outro animal dessa qualidade e desse nível, a gente pode tentar sonhar com coisas importantes e participar de mais provas do sênior top. Tenho consciência de que esse cavalo é difícil. Hoje, eu não tenho esse animal", avalia. "Tomara que eu consiga o Quivala emprestado mais vezes", brinca a amazona.
Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que Andrea tem condições técnicas de disputar uma vaga na equipe brasileira, desde que tenha uma boa montaria à sua disposição. No hipismo, o desempenho do atleta depende fundamentalmente do cavalo. Por isso, eles são chamados de "conjunto".
Para conseguir uma montaria, a amazona tem duas opções. A primeira é a compra por meio de patrocinadores ou por grupo de investidores. Um animal de alto nível gira em torno de 500 mil euros (perto de R$ 3 milhões). Na Europa, o valor pode superar 1 milhão de euros (cerca de R$ 6,1 milhões).
Outra opção é formar o próprio animal. Essa é a aposta atual de Andrea, também criadora de animais na Bahia. Mas leva tempo. Ela possui três animais com potencial, mas ainda são jovens. "Cavalos podem ser considerados superatletas. No topo da pirâmide, existem poucos e são muito valorizados", diz.