Bia Haddad refuta comparação com Guga: 'Sou normal'
A tenista paulista tomou conta do noticiário esportivo por causa da campanha brilhante em Roland Garros
Até quem não nunca viu um jogo de tênis na vida ouviu falar de Beatriz Haddad Maia nos últimos dias. A tenista paulista tomou conta do noticiário esportivo por causa da campanha brilhante em Roland Garros. E fez o brasileiro lembrar dos tempos de Gustavo Kuerten, quando muitos acordavam cedo no domingo para ver o catarinense em alguma final do circuito.
O tricampeonato de Guga em Roland Garros foi recordado em meio às vitórias de Bia nas últimas duas semanas. E as comparações foram inevitáveis, até mesmo com a trajetória de Maria Esther Bueno, a última brasileira a brilhar nas chaves de simples do circuito (nas décadas de 50 e 60), antes da ascensão de Bia.
Ao Estadão, a tenista de 27 anos se esquivou das comparações e fez questão de estabelecer uma distância da dupla. "Não existe comparações com eles. São fenômenos, estão entre os melhores da história na modalidade. Eu sou apenas uma jogadora normal, que estou me esforçando diariamente para conquistar o meu espacinho", disse Bia.
Na quinta-feira, Guga acompanhou das arquibancadas da Philippe-Chatrier, a quadra central de Roland Garros, a partida de Bia contra a polonesa Iga Swiatek, pela semifinal. "Infelizmente não nos cruzamos lá. Mas o meu treinador mantém contato com ele, com ele e com o Fernando Meligeni. São pessoas muito especiais."
A ligação entre Guga e Bia vem desde a adolescência da paulista. Na época do juvenil, ela foi treinada por Larri Passos, o lendário técnico do catarinense nas conquistas de Roland Garros e na busca pelo topo do ranking.
Quanto à Maria Esther, uma das maiores lendas do esporte brasileiro, Bia disse sentir orgulho por seguir seu caminho por representar bem as mulheres no esporte. "Para mim, levantar e carregar a bandeira feminina é um privilégio. Temos um longo caminho de desenvolvimento ainda pela frente, como sociedade. Mas é uma causa que mexe muito comigo", afirma Bia, que busca na causa a inspiração em cada jogo.
"Representar as mulheres de maneira positiva me enche de energia para seguir lutando, principalmente nos momentos duros de um jogo, em uma semana que não foi tão boa... Sempre lembro que eu posso estar tentando ser uma pessoa melhor e representar as mulheres de uma forma melhor, mesmo quando as coisas não estão saindo de um jeito que eu gosto. Elas me inspiram e me dão forças também."
A busca das tenistas por igualdade em premiações e espaço nas principais quadras do circuito vem contrastando com denúncias de violência doméstica dentro do próprio esporte. Nos últimos meses, tenistas como o alemão Alexander Zverev, o australiano Nick Kyrgios e o brasileiro Thiago Wild foram acusados de violência contra mulheres.
O caso de Wild entrou em discussão durante Roland Garros, em razão dos seus bons resultados. "Violência é inaceitável para mim em qualquer esfera. Onde há violência é sinal de que falhamos enquanto seres pensantes", comenta Bia, sem citar especificamente o caso do compatriota. "Confio no direito de que todos possam se explicar e, na justiça para exercer o seu papel, uma vez julgados os casos."
NOVO HOBBY
Mas não só as mulheres que inspiram Bia nas quadras. Nos últimos meses, um novo hobby tem ajudado a tenista na busca pela concentração. "Eu comecei a brincar de pintar há mais ou menos dois anos. É algo pelo qual me apaixonei. Espero, quando tiver mais tempo, mais para a frente, poder estudar sobre o assunto para eu poder me desenvolver e melhorar", contou a atleta ao Estadão.
As pinturas podem ser vistas em suas redes sociais. Uma das últimas exibe a quadra de saibro de Roland Garros debaixo de um céu estrelado, quase uma profecia da grande campanha de Bia na terra batida de Paris.
"É uma atividade que eu poderia chamar até de uma forma de meditação porque exige muita conexão interior. E acho que isso está me ajudando muito no meu desenvolvimento pessoal. E, consequentemente, me ajudando como jogadora", disse a brasileira.
Em Roland Garros, Bia encerrou um jejum de 55 anos do tênis brasileiro, que não tinha uma representante em uma semifinal de simples em Grand Slam desde 1968. Na época, Maria Esther ficou entre as quatro melhores do US Open. De quebra, assegurou a entrada no Top 10 do ranking pela primeira vez.
O feito também é histórico porque ela será a primeira brasileira entre as dez melhores do mundo na lista de simples da WTA a partir de segunda-feira - o ranking oficial ainda não havia sido criado na época de Maria Esther, considerada a número 1 do mundo entre 1959 e 1960 pelas revistas especializadas.