Em audiência, mães falam sobre desafio da microcefalia

Evento foi realizado na manhã desta quarta (13) na Assembleia Legislativa de Pernambuco e reuniu cerca de cem mães com seus filhos

por Eduarda Esteves qua, 13/04/2016 - 14:50

Contar relatos das dificuldades diárias, unir forças na luta coletiva e cobrar posições dos governos municipal e estadual que pouco ouvem as famílias de crianças que nasceram com a microcefalia. Esses foram alguns dos objetivos de uma audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (13), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Organizado pela Comissão Especial de Acompanhamento aos Casos de Microcefalia, o evento contou com a participação da União de Mães de Anjos (UMA), representantes da Aliança de Mães e Famílias Raras (Amar), do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e com cerca de 100 mães com seus bebês microcéfalos, em busca de melhoras em políticas de assistência para seus filhos.

Para a presidente da União de Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, há uma deficiência muito grande em ter seus direitos atendidos por parte das gestões municipal e estadual. Mãe de Guilherme, com 4 meses, ela conta que são muitas falhas no acompanhamento das mães e dos filhos com microcefalia."Muitas vezes o direcionamento é feito apenas para novas pesquisas, quando na verdade a situação já é real, estamos aqui e queremos saber quais políticas estão sendo feitas para auxiliar na criação dos nossos filhos", argumentou. Ela explicou que dentre tantas dificuldades, as principais são a superlotação nos centros de reabilitações e a falta de vacinas especiais para as crianças, além da precariedade ou inexistência do transporte do interior para realizar o tratamento na capital pernambucana.

Presidindo a audiência, a presidente da Comissão Especial de Acompanhamento aos Casos de Microcefalia, a deputada Socorro Pimentel(PSL), falou que vem visitando os principais hospitais de referência de Pernambuco como o Oswaldo Cruz, Fundação Altino Ventura e a AACD, há cerca de três meses. Ela explicou que um importante passo é apurar porque esses bebês vêm sendo, muitas vezes, diagnosticados erronemente. "Não  adianta implementar as políticas públicas se não  houver esse controle social social e esse diálogo com o poder público. A gente precisa saber as dificuldades que as mães e os seus filhos enfrentam", afirmou.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, atualmente, Pernambuco é o líder de casos de microcefalia com 312 confirmados no último boletim divulgado pelo órgão, nesta quarta. Entre tantas dificuldades encontradas diariamente, para Bruna Tamires, moradora de Paudalho, Região Metropolitana do Recife (RMR), a falta de um benefício financeiro é a pior. Mãe de Enzo, com cinco meses, ela conta que por falha do sistema do INSS ainda não está recebendo um auxílio que tem direito. "Eu continuo sem trabalhar e sem receber a ajuda financeira. A prefeitura daqui não disponibiliza um bom transporte pra nós e muitas vezes corro o risco de perder o horário do ônibus que só roda até às 21h", lamenta.

Quando deu a luz a Robson Herculano, 5 anos atrás, Leila não tinha muita informação sobre a microcefalia, mas durante quatro conseguia receber as medicações necessárias com algum esforço. Ela relata que desde que começou o surto da malformação no estado, em meados de novembro de 2015, as condições pioraram muito. "Não recebo mais as fraldas, faz um ano que a Prefeitura não está dando. Ele precisa desse remédio para que ele se acalme mais, muitas vezes ele fica se batendo e isso é muito ruim", lamenta. Com o surto, o cenário é precário e Leila sente que ainda pode piorar. "Como sou mais velha, sei que essas mães ainda irão passar por situações complicadas a medida que eles forem crescendo".

Locomoção precária do interior até à capital pernambucana, falta de vacinas, escassez de profissionais especializados na área no sistema público de saúde são as principais queixas das mães que compareceram à audiência pública.  De acordo com o promotor Édipo Soares, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) vem acompanhando os casos desde novembro do ano parado, quando  teve início a epidemia das arboviroses e os indícios de associação da microcefalia com o vírus da Zika. "Já realizamos alguns trabalhos no âmbito do Ministério Público de Pernambuco e vários municípios têm procedimento de investigação instaurado com mais ênfase no combate ao mosquito, em um trabalho de prevenção. Mas agora, acho que é o momento de focarmos mais na assistência dessas crianças com microcefalia e das mães também", concluiu.

COMENTÁRIOS dos leitores