Tumor ósseo ainda é pouco diagnosticado na fase inicial
Profissionais da saúde reúnem-se em Belém para discutir tipos e diagnósticos de câncer nos ossos. No Pará, subnotificação preocupa.
A literatura médica estima uma média de oito casos de osteosarcomas por grupo de 1 milhão de habitantes/ano, ou seja, de câncer no osso, sendo o público infantojuvenil o mais atingido. No Pará, considerando os mais de oito milhões de habitantes, a estimativa é de 50 casos de câncer ósseo por ano, mas muitos deles subnotificados e levando à morte do paciente sem o devido tratamento. Essas e outras questões serão debatidas no XI Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica, que será realizado pela primeira vez na capital paraense, entre os dias 19 e 21 de abril (veja locais aqui).
Apesar dos casos serem poucos, se comparados com outros tipos de câncer, e de não haver muitos dados sobre a doença, a falta de diagnóstico precoce preocupa os especialistas. De acordo com o ortopedista oncológico, presidente do evento, Fernando Brasil, tratar o tumor ósseo na fase inicial é determinante para que não sejam tomadas medidas extremas. “O diagnóstico precoce é fundamental para a cura de crianças e adolescentes e para que o tratamento não seja mutilante. Então, aquela criança que se queixa de dor, principalmente na região do joelho, parte distal da coxa e proximal da perna, por uma ou duas semanas, deve procurar auxílio médico. Existe aquela dor do crescimento, mas se essa dor é muito frequente, deve-se procurar ajuda”, indica.
No Pará, a Casa Ronald McDonald, coordenada pela Associação Colorindo a Vida, possui o Programa Diagnóstico Precoce, através do qual capacita profissionais de saúde a identificar precocemente o câncer infantil e juvenil, diminuindo o tempo entre os primeiros sintomas e o diagnóstico final, e aumentando as chances de cura. Este ano, o programa está sendo executado em Bragança, no nordeste paraense, região onde se constataram casos avançados de câncer infantojuvenil.
Ainda na década de 60, o tratamento era radical: a amputação era a primeira opção e se desarticulava o membro o mais longe possível da lesão primária (originária no osso). Ainda assim, de acordo com o médico Elio Consentino, uma das maiores autoridades no assunto no Brasil e na América Latina, fundador do Grupo de Tumores Músculo-Esquelético da Santa Casa de São Paulo, o número de óbitos era alto, principalmente em crianças, por metástases disseminadas frequentemente do pulmão. “A amputação era feita quase que por uma questão humanitária, porque o tumor crescia muito e as crianças sofriam demais com as dores; então se fazia uma cirurgia mutilante com uma tênue possibilidade de cura. Isto mudou radicalmente com a quimioterapia e hoje, raramente, em tumores diagnosticados precocemente, se realiza a amputação”, comenta.
Os tumores metastáticos (lesões secundárias, advindas de outros órgãos) doem, e normalmente a dor é o primeiro sinal do tumor. Muitas vezes, antes de se descobrir o tumor, a pessoa já apresenta alguma fratura patológica. As metástases ósseas frequentemente surgem a partir do câncer de mama, de pulmão, de rim, de tireoide e de próstata. Atualmente o tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar, composto pelas etapas de quimioterapia pré-operatória, cirurgia e quimioterapia pós-operatória.
Causas e sintomas - Ainda não se sabe ao certo quais as causas do câncer de osso primário, mas alguns fatores de risco tornam os pacientes mais suscetíveis, como a exposição a qualquer tipo de radiação, hereditariedade, Síndrome de Li Fraumeni (doença que causa mutações em genes supressores de tumores, que são os responsáveis por ajudar a controlar o crescimento e a divisão celular normal), tumor maligno ocular (retinoblastoma) e Doença de Paget (interfere no processo onde o tecido ósseo novo substitui gradualmente o tecido ósseo velho).
Os sarcomas ósseos são raros e aparecem mais comumente em crianças e adolescentes. Os sintomas normalmente estão relacionados a dor e inchaço local, fraturas sem trauma associado, fadiga e perda de peso sem aparente motivo. “Quando a doença é descoberta, opta-se pelo tratamento que seja compatível com o local e extensão do tumor e estado do paciente”, explica Fernando Brasil.
O congresso - O XI Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica será realizado pela primeira vez no Norte do país, em Belém, nos dias 19, 20 e 21 de abril. Promovido pela Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica (ABOO), é o mais importante evento da especialidade no país e traz nomes renomados internacionalmente: Akihiko Takeuchi (Japão), Henk van de Meent (Holanda), Valerae Lewis (Estados Unidos), Mark Scarborough (Estados Unidos) e Adesegun Abudu (Inglaterra). Além deles, um dos pioneiros da especialidade, Elio Consentino, e o presidente da ABOO, André Mathias Baptista, também estarão presentes.
No evento, será aplicado o Exame de Título da ABOO a ortopedistas Membros Titulares da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), que, após dois anos de treinamento em Centros de Referência Credenciados em Oncologia Ortopédica, desejam um lugar junto aos mais de 200 membros titulares especialistas da Associação.
Por Lissa de Alexandria (da assessoria do evento).