Brasil registra 40 mil casos de intoxicação por agrotóxico

Só em 2017, o país consumiu quase 500 mil toneladas desses produtos químicos

por Nataly Simões seg, 01/04/2019 - 18:55

Entre 2007 e 2017, o Brasil registrou 40 mil casos de intoxicação aguda por agrotóxicos, conforme revelam dados do Ministério da Saúde. Mas devido à alta produção de grãos no país, o número de casos não deve diminuir na próxima década.

Somente em 2017, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Brasil produziu aproximadamente 228 milhões de toneladas de grãos e consumiu quase 500 mil toneladas de agrotóxicos, o que explica o fato de o país ser considerado um dos maiores consumidores desses produtos no mundo.

O engenheiro agrônomo Akihiko Manabe, professor da Unisuam, afirma que esse título é dado ao país devido à força do agronegócio, que traz consequências negativas. “No Brasil, o agronegócio cria áreas de monocultivo que destroem toda a biodiversidade, tornando o ambiente propício para elevadas populações de insetos e doenças, sendo essencial o uso dos defensivos agrícolas”, explica.

Manabe acrescenta, no entanto, que apesar de o país ser acusado de usar quantidades exageradas de produtos químicos em seus processos produtivos agrícolas, deve ser levada em consideração a quantidade usada em cada área agrícola. “O grande problema são os tipos de agrotóxicos utilizados, que são proibidos em diversos países do mundo, e o uso em culturas que não estão registradas”, avalia.

Segundo o engenheiro agrônomo, os mais atingidos pelos agrotóxicos não são apenas os trabalhadores rurais que manipulam os produtos químicos, mas também a população das regiões em que os venenos são usados em grande escala.

“Dependendo do tipo de aplicação, como por meio de aviões, por exemplo, pessoas que não têm contato direto com os produtos também são contaminadas. Além disso, a contaminação também pode ocorrer por meio de produtos que são usados de forma inadequada. Portanto, podemos notar que hoje todos são atingidos, até mesmo um produto orgânico pode estar contaminado por agrotóxicos devido à deriva”, fala.

Para que haja redução no número de contaminações, Manabe acredita que o governo deve intervir de forma mais ativa.

“É necessário aplicar de forma eficaz o que dizem as leis e cobrar ações mais duras de órgãos governamentais. Melhorar os processos de fiscalização, monitoramento e retirada de agrotóxicos altamente poluentes e danosos do mercado. Além disso, incentivar e adotar práticas agroecológicas, principalmente na agricultura familiar”, aponta.

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