Relatora da ONU para hanseníase visita o Pará

Alice Cruz vai participar, em Belém e Marituba, de encontros com autoridades estaduais, municipais e com representantes do movimento de reintegração de pessoas atingidas pela doença

sex, 10/05/2019 - 11:12
Divulgação/ONU Alice Cruz, da ONU, tem agenda com representantes de movimentos sociais e autoridades Divulgação/ONU

O Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase vai realizar nesta sexta-feira (10) o 2º Encontrão Estadual dos Filhos Separados pelo Isolamento Compulsório, com a presença da relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Eliminação da Discriminação contra as Pessoas Atingidas pela Hanseníase e seus Familiares, a pesquisadora Alice Cruz. É a primeira visita oficial da representante da ONU ao Brasil e ao Pará. 

A agenda inclui encontros com governos, movimentos sociais, artistas, cientistas e profissionais de saúde nas cidades de Brasília/DF, Rio de Janeiro/RJ, Duque de Caxias/RJ, Marituba/PA e Belém/PA.

O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) promoverá o encontro da relatora com pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares em duas ex-colônias. Em Marituba, no 2º Encontrão, nesta sexta-feira, às 17 horas, serão discutidas as medidas para garantir a reparação aos filhos separados, com o pagamento de indenização pelo Estado.

Para o coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio, a relatora da ONU ao Brasil é muito aguardada nesse momento. “Não só pelo resgate histórico de tudo que aconteceu e ainda acontece em termos de discriminação, e porque o Brasil é o primeiro lugar do mundo em incidência de novos casos da doença, mas também para impulsionar as autoridades públicas para que façam seu papel no enfrentamento do estigma e da doença”, defende.

“É preciso olhar para a hanseníase não só como uma questão médico-biológica, mas como uma questão social. Que não seja um assunto apenas do Ministério da Saúde, mas que envolva a assistência social, a previdência, discussões do âmbito da qualidade de vida, do meio ambiente, da moradia, da preservação histórica. Tudo isso com um olhar de Direitos Humanos”, explica o dirigente do Morhan. Por isso, o movimento realizará o encontro da relatora da ONU diretamente com as pessoas atingidas.

Custódio observa que a visita de Alice Cruz ao Brasil servirá para mostrar ao mundo conquistas que precisam ser reconhecidas e podem ser multiplicadas. Ele se refere à indenização e ao reconhecimento de crime de estado contra as pessoas que foram isoladas em colônias até a década de 1980, conquistados por meio da lei 11.520. Hoje, um dos desafios é ampliar este olhar aos filhos que foram separados de seus pais que viviam nas antigas colônias, em uma época em que a doença já tinha cura e tratamento, outro assunto que será apresentado à ONU durante a visita.

“O Brasil manteve as pessoas sendo segregadas e excluídas, manteve os filhos sendo separados dos pais, mesmo após a descoberta da cura e as inúmeras recomendações mundiais para suspensão do isolamento. Isso por conta de uma sociedade que ainda mantém um preconceito e um estigma bastante forte, que tende a separar e isolar tudo o que é diferente”, ressalta o coordenador do Morhan.

O Brasil é o país com o maior número de casos novos de hanseníase (em relação à população) no mundo – a Índia registra um maior número absoluto de casos anuais, mas possui uma população cinco vezes maior que a do Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país registrou 25.218 novos casos da doença em 2016 e 26.875 em 2017. Muito acima dos índices máximos recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Nesse cenário, é preciso ampliar a atenção do SUS ao tema. “Ppara acabar com a hanseníase no Brasil é preciso tirar a doença da invisibilidade”, afirma Custódio.

Agenda

Dia 10 

8 às 11 horas - Reunião com autoridades estaduais.

12 horas - Visita à URE Dr. MarcelloCândia o Oificna Ortopédica.

13 horas - Visita ao Laboratório LDI (Dr. Cláudio Salgado) + almoço.

14h30 - Visita ao abrigo João Paulo II.

17 horas - 2º Encontrão dos filhos separados pelo isolamento compulsório das ex-colônias de Marituba e Prata. Local: Igreja Tabernáculo Batista (Rua Célio Mota, s/n , Bairro Dom Aristides- Marituba).

19 horas - Praça do bairro Dom Aristides, Marituba. Apresentação cultural de grupos folclóricos de marituba.

Dia 11

9 às 12 horas + almoço. Visita à comunidade da ilha de Combu, em Belém.

15 horas - Sede da ONU (Belém). Reunião com as mulheres do Morhan e com o Morhan Pará (Marituba, Belém, Prata).

Dia 13 

9 horas - Reunião técnica. Local indefinido. Participam: Comissão Estadual dos Direitos Humanos do Estado e da Alepa, Defensorias Públicas do Estado e da União, Ministério Público do Estado do Pará e OAB Pará.

13 horas - Reunião com autoridades municipais.

Por Dina Santos, especialmente para o LeiaJá.

 

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