Impasse leva a desperdício de bolsas de plasma
De acordo com Dimas Tadeu Covas, médico e diretor do Instituto Butantã, cada litro de plasma custa no mercado internacional US$ 70
Um conflito entre o governo e a direção da estatal Hemobrás pode provocar o desperdício de R$ 40 milhões em bolsas de plasma nos próximos dois anos, conforme estimativa técnica do Tribunal de Contas da União. O impasse teve início em 2017, quando se retirou os poderes da estatal para gerir o processamento do plasma, usado em pessoas com queimaduras, hemorragias, sistema imunológico fragilizado ou com deficiência de coagulação.
Sem poderes para atuar, a estatal limitou-se a armazenar o produto que já havia chegado ao complexo de Goiana (PE). Para evitar gastos com câmaras frias, parte dos hemocentros estaduais passou a incinerar o plasma que não foi usado. Não há estimativas de quanto se perdeu. De acordo com Dimas Tadeu Covas, médico e diretor do Instituto Butantã, cada litro de plasma custa no mercado internacional US$ 70. "Estimamos que a coleta no Brasil seja de aproximadamente 800 mil litros de plasma por ano."
Pregão
Desde a portaria, o Ministério da Saúde não contratou empresa para fracionar o plasma nem resolveu o impasse sobre a coleta nos hemocentros e o problema se agrava. Estoques dos produtos derivados do plasma se esgotaram em São Paulo, Pernambuco, Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Questionado, o ministério informou estar em andamento um pregão internacional para o fracionamento, sem dar detalhes. Disse ainda que uma compra foi feita para abastecimento dos Estados.
Há dez dias, integrantes da Hemobrás e do Ministério Público Federal reuniram-se com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O encontro foi suficiente apenas para o ministro informar que nada seria feito enquanto a diretoria da Hemobrás fosse mantida. A estatal foi alvo de várias denúncias de corrupção, superfaturamento e erros, mas estaria saneada, segundo o MP.
Os armazéns da Hemobrás têm 600 mil bolsas de plasma. Desse total, 20% vencem até o fim do ano. Desde 2016, 83 mil bolsas se perderam, o que provocou prejuízo de R$ 5,8 milhões. Desde que as obras da Hemobrás tiveram início em 2010, R$ 1 bilhão foi desembolsado e nenhum hemoderivado foi produzido. O governo diz ter iniciado um processo para a reestruturação da Hemobrás e um estudo para definir os programas direcionados para a empresa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.