Terminam na Índia as maiores eleições do mundo
Das praias de Goa às favelas de Bombaim, passando pelos mosteiros de Ladakh, ao lado do Himalaia, 900 milhões de pessoas foram convocadas para votar nas últimas seis semanas
As eleições legislativas na Índia, as maiores do mundo, terminam neste domingo (19) após uma campanha agressiva e por vezes violenta, cheia de insultos e notícias falsas.
Das praias de Goa às favelas de Bombaim, passando pelos mosteiros de Ladakh, ao lado do Himalaia, 900 milhões de pessoas foram convocadas para votar nas últimas seis semanas.
Embora não sejam confiáveis, as pesquisas preveem uma nova vitória do Partido Bharatiya Janata (BJP) nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi, embora com uma maioria parlamentar menor.
A votação terminará às 18h00 (9h30 de Brasília) no sétimo e último dia de consultas, encerrando as maiores eleições do mundo.
Os colégios eleitorais dos oito estados do norte que elegem os últimos 59 candidatos para ocupar a câmara baixa registraram longas filas de eleitores.
As autoridades adotaram medidas de segurança no estado de Bengala Ocidental, palco de episódios de violência entre seguidores do partido nacionalista hindu de Modi e da oposição.
Uma bomba caseira foi jogada de uma motocicleta contra um centro eleitoral na capital do estado, Calcutá, mas ninguém ficou ferido, segundo as autoridades.
Um grupo atacou um escritório do BJP na cidade e a polícia teve que retirar os militantes que bloqueavam as seções eleitorais.
A enormidade da população indiana (1,3 bilhão de pessoas) e de seu eleitorado, bem como os desafios logísticos e de segurança, forçaram a realização dessas eleições em várias etapas, desde 11 de abril, em 1,1 milhão de seções eleitorais.
Todas as cédulas serão contadas em um único dia, na quinta-feira. Até lá, as urnas serão mantidas em salas blindadas por guardas e câmeras de vigilância que controlam todos os movimentos.
- Resultados na quinta -
Se houver uma tendência clara nos resultados, será conhecida por volta do meio-dia (03h30 de Brasília) de quinta-feira.
O distrito eleitoral de Modi em Varanasi, a cidade sagrada do estado de Uttar Pradesh, também está entre os que votam neste domingo.
Modi realizou 142 comícios em toda a Índia, às vezes cinco por dia.
No sábado, o nacionalista hindu de 68 anos iniciou um retiro espiritual em um santuário do Himalaia.
Antes dele, e com a esperança de se tornar o quarto membro da dinastia Nehru-Gandhi a dirigir a Índia, Rahul Gandhi, do opositor Partido do Congresso, sofreu para se fazer ouvir frente à enorme campanha do BJP.
As notícias falsas e imagens manipuladas abundaram durante a campanha, como as que mostravam Gandhi e Modi almoçando com Imran Khan, o primeiro-ministro do Paquistão.
Houve também mortes. Os rebeldes maoístas que se opõem ao Estado indiano mataram 15 soldados e seu motorista no estado de Maharashtra, no oeste do país, em 1º de maio.
Confrontos ocorreram na semana passada no estado-chave de Bengala Ocidental, onde o BJP espera compensar a perda de apoio em Uttar Pradesh, o estado mais populoso.
Gandhi, de 48 anos, tentou atacar Modi em várias frentes, especialmente em um suposto caso de corrupção em um acordo de defesa com a França e nas dificuldades dos agricultores e da economia.
Ambos trocaram insultos diariamente: Modi chamou Gandhi de "burro", que por sua vez acusou o primeiro-ministro de ser "ladrão".
"Todos os insultos e acusações de má conduta sugerem que os padrões da política indiana caíram muito", disse Asit Banerjee, professor de história em Calcutá, na fila para votar.
"A campanha esteve cheia de comentários amargos. Estamos perdendo a esperança na democracia, é hora de começar de novo", disse o homem de 60 anos à AFP.
O governo de Modi não conseguiu criar empregos suficientes para os milhões de indianos que entram no mercado de trabalho a cada mês e a chocante e inesperada proibição de dinheiro em espécie em 2016 causou enormes problemas para as famílias.
Os linchamentos de muçulmanos e de membros da casta Dalit por comer carne, sacrificar gado e comercializar com lucro aumentaram durante o mandato de Modi, fazendo com que parte dos 170 milhões de muçulmanos do país se sentissem ameaçados e ansiosos sobre seu futuro.