Ativistas pró-democracia são detidos em Hong Kong

A região enfrenta há quase três meses a crise mais grave desde sua devolução, por parte do Reino Unido, à China em 1997, com manifestações quase diárias, incluindo algumas que terminaram em confrontos violentos com as forças de segurança

sex, 30/08/2019 - 07:15
Vivek PRAKASH O ativista pró-democracia Joshua Wong em Hong Kong em 2 de julho de 2019 Vivek PRAKASH

Várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas nesta sexta-feira (30), incluindo Joshua Wong, depois que a polícia proibiu uma nova grande manifestação programada para sábado.

A região semiautônoma enfrenta há quase três meses a crise mais grave desde sua devolução, por parte do Reino Unido, à China em 1997, com manifestações quase diárias, incluindo algumas que terminaram em confrontos violentos com as forças de segurança.

Um novo protesto está previsto para sábado para marcar o quinto aniversário da rejeição por parte de Pequim de eleições com sufrágio universal na cidade, decisão que provocou o "Movimento dos Guarda-Chuvas", marcado por 79 dias de ocupação do centro financeiro e político de Hong Kong.

Dois líderes deste movimento, Joshua Wong e Anges Chow, ambos de 22 anos e muito populares nos protestos das últimas semanas, foram detidos nesta sexta-feira.

"Nosso secretário-geral @joshuawongcf foi detido esta manhã por volta de 7h30", informou no Twitter o partido Demosisto.

"Ele foi empurrado à força para dentro de uma caminhonete particular, na rua, em plena luz do dia. Nossos advogados trabalham no caso", completou a formação.

Chow foi detida em sua residência, de acordo com o partido.

- Andy Chan detido -

A polícia se limitou a anunciar a detenção de duas pessoas de 22 anos, que foram identificadas apenas pelos sobrenomes, Wong e Chow. Eles foram acusados de "incitar outros a participar em uma concentração não autorizada".

Mais de 850 pessoas foram detidas desde o início do movimento, que começou com o repúdio a um projeto de lei que pretendia autorizar extradições para a China continental.

O movimento ampliou suas reivindicações e passou a denunciar o retrocesso das liberdades, assim como a interferência crescente da China na região semiautônoma, o que viola o princípio "um país, dois sistemas" que determinou a devolução de 1997.

O site Hong Kong Free Press informou na quinta-feira à noite a detenção do ativista independentista Andy Chan.

O fundador do Partido Nacional (HKNP), minúscula formação que defende a independência do território e que foi proibida pelas autoridades em 2018, foi detido quando pretendia embarcar em um voo para o Japão.

Um porta-voz da polícia afirmou que Chan era suspeito de participação em um distúrbio e de agredir um agente.

Esta não é a primeira vez que Chan e Wong são presos.

- Paradoxo -

A operação acontece no momento em que o Executivo de Hong Kong não consegue apresentar respostas à crise política e a um movimento de protesto inédito, caracterizado também por uma criatividade sem precedentes em suas ações.

A polícia decidiu proibir a manifestação de sábado alegando razões de segurança, uma medida radical que pode ter o efeito contrário e provocar novos confrontos com ativistas radicais.

O paradoxo é que a manifestação de sábado foi convocada pela Frente Civil de Direitos Humanos (FCDH), um movimento pacífico pacífica que liderou as maiores passeatas dos últimos meses, em particular a de 18 de agosto, que reuniu 1,7 milhão de pessoas, segundo os organizadores, e terminou sem incidentes.

Em uma carta enviada ao FCDH, a polícia mencionou o temor de "atos violentos" e "atos de destruição" por alguns participantes.

A polícia afirmou que em manifestações anteriores alguns participantes "provocaram incêndios e bloquearam avenidas, utilizaram bombas incendiárias, pedaços de metal, tijolos, diversas armas artesanais para destruir bens públicos em grande escala, perturbar a ordem social e provocar ferimentos em outros".

- "Somos nossos líderes" -

A Frente apresentou um recurso contra a proibição. Um de seus líderes, Jimmy Chan, anunciou que a convocação seria retirada em caso de confirmação da proibição, para não agravar a situação.

Mas é provável que a ala radical, integrada em sua maioria por estudantes muito jovens, ignore o pedido de calma, o que poderia provocar novos distúrbios.

"A polícia acredita que existem líderes no movimento e que sua decisão de proibir a manifestação vai nos deter", afirmou à AFP uma manifestante que se identificou como Kelly.

"Somos nossos próprios líderes e vamos continuar nas ruas. O governo não consegue entender", completou.

No domingo, a polícia usou jatos de água e, pela primeira vez, recorreu a um tiro de advertência com arma de fogo durante uma manifestação autorizada.

O exército chinês, que a princípio não deve atuar em Hong Kong, mas que tem uma guarnição na cidade, fez na quinta-feira uma nova advertência com a substituição de suas tropas no território.

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