Turquia usa refugiados em ameaça direta à UE
O presidente turco também acusou a UE de mentir e de não ter mantido a promessa de proporcionar ajuda econômica à Turquia
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, defendeu nesta quinta-feira (10) a ofensiva da Turquia na Síria após uma onda de críticas internacionais, dizendo que a operação militar reforçará a integridade territorial dos sírios ao confrontar o controle curdo do norte do país. Ele também ameaçou "abrir as portas" e enviar milhões de refugiados a países da União Europeia caso o bloco classifique o ataque como "invasão".
"União Europeia, refaça seu julgamento. Se definir nossa operação como uma invasão, o nosso trabalho é fácil. Abrimos as portas e enviamos 3,6 milhões de refugiados a vocês", alertou Erdogan durante discurso em Ancara.
O presidente turco também acusou a UE de mentir e de não ter mantido a promessa de proporcionar ajuda econômica à Turquia. A reclamação refere-se ao acordo fechado em 2016 pelo qual o governo turco aceitava controlar o fluxo de refugiados para a Europa em troca de apoio financeiro para atender aos imigrantes no seu território.
A ofensiva militar da Turquia no norte da Síria deslocou mais de 60 mil pessoas em menos de um dia, segundo uma ONG que monitora a guerra. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) disse que um grande número de moradores das áreas de fronteira de Ras al-Ain, Tal Abyad e Derbasiyeh fugiram de suas casas, principalmente para o leste, em direção à cidade de Hasakeh.
A Turquia iniciou, na quarta-feira, uma operação militar no norte da Síria que desperta o receio da comunidade internacional e tem como alvos combatentes curdos considerados por Ancara como "terroristas".
O presidente americano, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que pode mediar um acordo entre a Turquia e os curdos após a ofensiva, iniciada depois de os EUA retirarem suas tropas da região. Horas antes, o presidente afirmou a repórteres que tinha duas opções: conter Ancara com sanções ou enviar tropas americanas para interromper o confronto. Os EUA foram duramente criticados por retirarem suas tropas e darem sinal verde para Erdogan lançar o ataque. Funcionários disseram na quinta que Trump determinou a diplomatas do Departamento de Estado que atuem para obter um cessar-fogo na região.
Em comunicado, o Ministério da Defesa da Turquia informou que as forças turcas avançaram nesta quinta no nordeste da Síria para expulsar combatentes curdos da região, expandindo uma ofensiva que provocou forte repreensão da comunidade internacional.
A operação, que inclui forças aéreas e terrestres, teve como alvo aldeias ao longo da fronteira, especialmente os setores de Tal Abyad e Ras al-Ain, que foram bombardeados.
Zona de segurança
A Turquia diz que pretende criar uma "zona de segurança" no norte da Síria, controlada pelos curdos. Os críticos, no entanto, temem que a ação possa mergulhar a região em uma nova crise e provocar um novo fluxo de refugiados.
Autoridades curdas reagiram ao anúncio de avanço turco, dizendo que seus combatentes repeliram uma incursão terrestre perto da cidade de Tal Abyad durante a noite de quarta-feira e dispararam projéteis contra o lado turco.
As Forças Democráticas da Síria (FDS), milícia curda que se uniu às tropas dos EUA para combater o Estado Islâmico na Síria, disseram que os bombardeios turcos tinham como alvo uma prisão que mantinha alguns dos combatentes do grupo jihadista na cidade de Qamishli. Milhares de prisioneiros do EI e suas famílias estão detidos em campos e prisões administrados pelas autoridades curdas da Síria.
Em comunicado no Twitter, Mustafa Bali, porta-voz das FDS, disse que os militares da Turquia atingiram um comboio civil também perto de Tal Abyad, a cerca de 400 metros da fronteira turca, matando três pessoas. Segundo grupos de defesa dos direitos humanos, os ataques deixaram 16 curdos mortos desde o início da operação, na quarta-feira. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.