Espanha exuma o ditador Franco 44 anos depois de sua morte

Os trabalhos para remover os restos mortais embalsamados e sepultá-los novamente no discreto cemitério de El Pardo-Mingorrubio, em Madri, onde está enterrada sua esposa, Carmen Polo, começou pouco antes das 11h locais (6h de Brasília)

qui, 24/10/2019 - 06:54
Óscar del Pozo Flores sobre o túmulo do general Francisco Franco em 3 de julho de 2018 na basílica do Vale dos Caídos, em San Lorenzo del Escorial (Madri) Óscar del Pozo

A operação para exumar os restos mortais do ditador Francisco Franco, que provocou muitas discussões e reabriu velhas feridas na Espanha, começou nesta quinta-feira (24) no Vale dos Caídos, o grande mausoléu onde está sepultado há 44 anos.

Os trabalhos para remover os restos mortais embalsamados e sepultá-los novamente no discreto cemitério de El Pardo-Mingorrubio, em Madri, onde está enterrada sua esposa, Carmen Polo, começou pouco antes das 11h00 locais (6H00 de Brasília), informou o governo espanhol.

Poucos momentos antes do início da operação, 22 membros da família do general, que governou a Espanha com mão de ferro entre 1939 e 1975 após sua vitória na Guerra Civil (1936-1939), entraram na basílica para acompanhar a exumação.

O processo, para o qual foram credenciados quase 500 jornalistas e é exibido parcialmente pela televisão, pode durar várias horas.

Se a visibilidade permitir, o traslado até Mingorrubio, quase 50 km de viagem, será feito de helicóptero. Se não for possível, a viagem acontecerá por terra. Uma vez no cemitério, a missa para o novo sepultamento, em uma cripta familiar, será oficiada pelo padre Ramón Tejero, filho de Antonio Tejero, o tenente-coronel que liderou uma tentativa frustrada de golpe de Estado em 1981.

O governo do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez transformou a exumação em uma de suas prioridades depois de chegar ao poder em junho de 2018, para que este mausoléu, algo que não tem comparação com outro país de Europa Ocidental, deixe de ser um lugar de exaltação do franquismo.

Sánchez havia prometido a exumação ainda para 2018. Mas o processo foi adiado em mais de um ano pela batalha judicial iniciada por sete netos do ditador.

A oposição, tanto de direita como de esquerda, acusa o líder do PSOE de utilizar a exumação para obter frutos eleitorais a pouco mais de duas semanas das legislativas de 10 de novembro.

"Isto deveria ser feito em um período não pré-eleitoral", disse o líder do partido de esquerda radical Podemos, Pablo Iglesias.

"Nós não vamos gastar nem um minuto para falar sobre o que aconteceu na Espanha há 50 anos", declarou recentemente o líder do conservador Partido Popular (PP), Pablo Casado, enquanto Santiago Abascal, líder do partido de extrema-direita Vox, criticou a "profanação de um túmulo".

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