Europa tenta se proteger do avanço do coronavírus

Mais de 150 mil pessoas já foram infectadas em todo o mundo

dom, 15/03/2020 - 10:21
NICOLAS TUCAT Mulher limpa a porta de local de votação em Bordeaux (sudoeste da França), para o primeiro turno das eleições municipais NICOLAS TUCAT

A Europa tenta estabelecer medidas de proteção ante o avanço inexorável da pandemia de coronavírus, que superou 155 mil infectados em todo o mundo, ao mesmo tempo que, apesar de todos os temores, a França organiza eleições municipais neste domingo.

Assim como na Espanha e na Itália, a vida na França – com exceção dos locais de votação - parecia interrompida neste domingo, após a ordem para o fechamento de locais públicos "não essenciais", como bares, restaurantes e cinemas. Antes de entrar no local de votação, os eleitores devem higienizar as mãos e, para evitar a propagação do vírus, todos os cidadãos receberam a recomendação de levar a própria caneta até a cabine.

Os eleitores devem manter uma distância de segurança de um metro entre eles durante cada etapa do voto. Os mesários receberam álcool gel e luvas para sua proteção.

- Procissões canceladas -

Ninguém parece a salvo da propagação da pandemia e até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aceitou fazer um exame após se encontrar com duas pessoas contaminadas: de acordo com a Casa Branca o resultado do teste foi negativo.

Diante do avanço da pandemia, vários países adotam medidas radicais. A Espanha anunciou uma quarentena quase total e decretou estado de alerta por 15 dias. Sevilha e outras cidades anunciaram a suspensão das famosas procissões da Semana Santa.

A Espanha é o segundo país mais afetado da Europa – atrás apenas a Itália –, com quase 6.000 infectados e mais de 180 mortes.

O primeiro-ministro Pedro Sánchez resumiu a situação: os espanhóis podem "trabalhar, comprar pão, ir à farmácia ou ao médico, mas não podem jantar na casa de um amigo". Sánchez anunciou que sua esposa, Begoña Gómez, foi infectada pelo novo coronavírus.

- Epicentro europeu -

A Europa é agora o "epicentro" da doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A China, país de origem da pandemia, com quase 3.200 mortos - das quase 5.800 vítimas fatais em 139 países – registra uma queda diária do número de contágios e falecimentos. Neste domingo o país anunciou apenas 20 novos infectados, sendo 16 casos de pessoas procedentes do exterior.

O governo chinês anunciou que as pessoas procedentes do exterior que desembarcam em Pequim serão colocadas em quarentena em centros especiais a partir de segunda-feira.

O Vaticano anunciou que todas as celebrações litúrgicas da Semana Santa acontecerão sem a presença de fiéis na praça de São Pedro.

"Comunicamos que até o domingo 12 de abril de 2020 as audiências gerais do Santo Padre e a recitação da Oração Mariana do 'Angelus' dos dias domingo serão transmitidas apenas via 'streaming'", afirma um comunicado oficial.

De acordo com o balanço mais recente, 1.441 pessoas morreram vítimas do coronavírus na Itália, onde mais de 21.000 pessoas foram diagnosticadas com a doença (COVID-19).

Na França, onde foram registradas 91 morte e 4.500 casos, os bares, restaurantes e casas noturnas fecharam as portas a partir da meia-noite de sábado.

Além disso, a França reduzirá progressivamente as viagens de longa distância de trem, ônibus e avião em seu território nos próximos dias para limitar a propagação do coronavírus, anunciou a ministra do Meio Ambiente, Elisabeth Borne.

Áustria e Suíça anunciaram o fechamento de quase todas as suas estações de esqui. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, pediu aos habitantes que saiam de casa apenas em caso de necessidade profissional, para comprar produtos essenciais ou para ajudar alguém.

O governo austríaco também proibiu reuniões de mais de cinco pessoas e decidiu limitar drasticamente os deslocamentos no país.

Criticado por sua resposta lenta à crise, em um país com 1.140 casos e 21 mortes, o governo do primeiro-ministro britânico Boris Johnson pretende proibir as grandes concentrações. A rainha Elizabeth II deu o exemplo e cancelou "por precaução" vários compromissos.

- Forte progressão -

Fora da Europa, o Irã anunciou neste domingo 113 mortes nas últimas 24 horas devido ao novo coronavírus, o que eleva a 724 o total de vítimas fatais desde o início da epidemia.

Este é o maior número de mortes em apenas um dia desde o início da epidemia no país. O Irã é o terceiro país mais afetado pela pandemia, depois da China e da Itália.

"Os iranianos devem cancelar as viagens e permanecer em casa para que a situação possa melhorar", declarou o porta-voz do ministério da Saúde, Kianouche Jahanpour, em uma entrevista coletiva.

A República do Congo anunciou o primeiro caso do novo coronavírus em seu território. A África é o continente menos afetado pela pandemia, com sete vítimas fatais em 280 casos, essencialmente no Egito e na região do Magreb.

Em Israel, o julgamento por corrupção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que começaria na terça-feira, foi adiado em dois meses pelo temor de propagação da doença.

A Venezuela exigiu uma "quarentena obrigatória" a todos os viajantes procedentes da Europa que chegaram ao país em março e suspendeu por 30 dias os voos procedentes da República Dominicana e do Panamá como medida de proteção

O Chile fechou todos os portos a cruzeiros depois que duas embarcações foram colocadas em quarentena por um caso confirmado e dois suspeitos de coronavírus.

O México anunciou no sábado uma série de medidas, que incluem a suspensão das aulas e das atividades públicas e privadas não essenciais. O governo recomendou que os cidadãos evitem viagens ao exterior.

O governo dos Estados Unidos, que provocou um abalo na economia mundial ao proibir os voos procedentes da Europa por 30 dias, anunciou que ampliará a medida ao Reino Unido.

A Rússia decidiu fechar suas fronteiras terrestres aos estrangeiros, assim como Estônia e Lituânia. A Noruega anunciou o fechamento de portos e aeroportos, enquanto o Marrocos suspendeu os voos com procedência ou destino a 29 países.

- Confinados -

Em todo o o planeta, a pandemia esvazia aos poucos as ruas, confina milhões de pessoas a suas casas e transforma as vidas cotidianas. O cumprimento com beijo, o café no balcão da padaria, as reuniões de trabalho ou assistir um filme no cinema se tornaram atos cada vez mais raros ou, em algumas cidades, impossíveis.

Entretanto, o desafio do novo coronavírus, que afeta particularmente os idosos, está provocando uma corrida contra o tempo dos laboratórios para tentar produzir uma vacina.

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