Retida na Itália, recifense relata drama por repatriação

Com uma filha grávida no Brasil, Welma Bezerra Lenhardt lamentou a falta de esforços das autoridades brasileiras e contou que precisou ser acolhida por uma família italiana

por Victor Gouveia qui, 02/04/2020 - 13:01
Arquivo Pessoal Insatisfeita com o roteiro da sua viagem, Welma avalia: "sonho que virou pesadelo" Arquivo Pessoal

"A Itália é linda, mas agora só quero voltar para casa", lamenta a microempreendedora recifense Welma Bezerra Lenhardt. Ela abdicou do tradicional Carnaval de Pernambuco para viver o sonho de viajar para o exterior, contudo tornou-se vítima dos impactos do novo coronavírus na aviação e está presa na província de Impéria, localizada no Norte do país mediterrâneo. Sem orientação das autoridades brasileiras e com dificuldades financeiras, ela busca formas de voltar para casa.

Moradora de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), a turista destaca que tem a passagem de volta marcada para este domingo (5). No entanto, conta que a companhia aérea Cabo Verde Airlines estipulou a previsão para o retorno das atividades só no dia 30 de junho e que o reembolso não foi autorizado pela empresa. Segundo a empreendedora, foi disponibilizado um "vale", válido apenas para viagens feitas com a própria companhia.

"O sonho virou pesadelo", avalia Welma/ Arquivo Pessoal

Desde o dia 14 de fevereiro em solo italiano, Welma tentou fazer contato com o consulado brasileiro em Milão, mas não obteve retorno. Sem orientações oficiais, preencheu o formulário online da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que objetiva registrar os brasileiros no exterior para coordenar os voos com as empresas aéreas. Porém não obteve nenhuma resposta e sente-se abandonada. “O governo podia juntar todos os brasileiros que estão nessas condições e juntar em um voo”, sugestiona.

Com o fim das economias, a recifense ressalta que está passando dificuldades para se manter e foi acolhida por uma família local composta por uma idosa, de 72 anos, e a filha, de 52. A turista relata que outros brasileiros passam por uma situação mais delicada e estão dormindo nas ruas ou aeroportos. "É revoltante saber que estamos ao Deus dará, o governo brasileiro tem que fazer algo por nós, se fossem os europeus que estivessem no Brasil, o país deles já tinha providenciado a volta", comparou inconformada.

Distante da neta e das três filhas, com 26, 21 e 20 anos, Welma diz-se preocupada, sobretudo com a mais velha que está grávida de seis meses. "O medo que aconteça algo com elas é terrível, não consigo dormir, pensando na minha família. Elas precisam de mim", confessou.

"O sonho virou pesadelo", avalia Welma/ Arquivo Pessoal

No site do consulado em Milão, é informado que, desde o dia 13 de março, a entidade funciona em regime de plantão, e que os brasileiros retidos no país devem entrar em contato através do assistencia.milao@itamaraty.gov.br.

As informações apontam que o consulado não dispõe de recursos para oferecer alojamento e alimentação a todos os brasileiros e que, nesse momento, não há previsão de programa para a repatriação. O órgão reforça que o reembolso integral das passagens canceladas é um direito garantido pelo Código de Defesa do Consumidor.

Para evitar mais reflexos negativos do novo coronavírus aos brasileiros na Itália, o consulado tenta auxiliá-los com apoio para comunicação em língua italiana, assistência para a pesquisa de rotas de retorno ao Brasil, assistência psicológica gratuita e orientação jurídica gratuita.

Procurada pela reportagem do LeiaJá, a Cabo Verde Airlines pontuou que no dia 17 de março foi anunciada a suspensão das viagens por, pelo menos, 30 dias. A companhia não soube informar quantos clientes brasileiros ainda não conseguiram voltar para casa, mas confirmou que eles vão receber o voucher que permite a remarcação do voo até março de 2021. A empresa frisou que mantém contato com o governo de Cabo Verde e representações diplomáticas que necessitem de apoio os regresso do seus cidadãos aos respectivos países.

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