EUA e Iraque retomam diálogo sem grandes expectativas
Em Bagdá, há um novo primeiro-ministro, o ex-chefe da inteligência Mustafa al Kazimi, considerado próximo a Washington e seus aliados árabes
Após meses de disparos de foguetes e relações tensas, os Estados Unidos e o Iraque retomam nesta quinta-feira (11) o diálogo, com baixas expectativas, mas por meio de interlocutores mais inclinados à aproximação.
Em Bagdá, há um novo primeiro-ministro, o ex-chefe da inteligência Mustafa al Kazimi, considerado próximo a Washington e seus aliados árabes. E, acima de tudo, as poderosas facções pró-iranianas no Iraque estão agora em segundo plano.
Mas a videoconferência agendada para esta quinta-feira às 13h00 GMT (10h00 de Brasília) não trará uma mudança radical nas relações, de acordo com especialistas.
Autoridades de ambos os países discutirão questões importantes que serão submetidas a debates a longo prazo.
"As relações EUA-Iraque não serão redefinidas em um dia", diz Robert Ford, do Middle East Institute. Mas, "desta vez, teremos as pessoas certas no lugar certo e na hora certa", acredita esse ex-diplomata americano, que participou do último "diálogo estratégico" de 2008.
Na ocasião, os Estados Unidos estabeleceram as condições para sua saída do país depois de invadir o Iraque em 2003. Desde então, porém, as tropas americanas voltaram ao país - muito menos numerosas - para liderar uma coalizão contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Mais de dois anos e meio após a "vitória" sobre os jihadistas, os milhares de soldados americanos presentes no país voltarão a ser o centro das discussões.
Após trinta ataques com foguetes contra americanos, e depois do assassinato em janeiro do general iraniano Qasem Soleimani e de seu braço-direito iraquiano em Bagdá, o sentimento anti-americano aumentou.
Deputados xiitas iraquianos votaram na expulsão dos soldados estrangeiros, enquanto Washington ameaçou atacar vários locais paramilitares.
Mas a chegada de Kazimi mudou a situação. Ele assumiu a liderança do país em meio a uma crise econômica e que exige justiça para os 550 manifestantes mortos na repressão de uma revolta popular sem precedentes.
Ao contrário de seu antecessor Adel Abdel Mahdi, nunca convidado a Washington, Kazimi poderia ser recebido este ano na Casa Branca, segundo duas autoridades do governo.
"Havia um problema de confiança com o governo anterior, agora isso mudou", disse à AFP um deles. Nesse clima, a questão dos soldados americanos será tratada em primeiro lugar.
De fato, a coalizão liderada pelos Estados Unidos tem apenas três bases no Iraque, contra uma dúzia antes.
"Embora não saibamos em detalhes os números, a proposta americana será de uma redução de tropas", disse uma autoridade iraquiana à AFP.
Mas uma redução drástica parece improvável, à medida que a ameaça jihadista persiste.
Este diálogo, no qual os aliados do Irã no Iraque não participam, será acompanhado de perto.
Ahmed al Asadi, porta-voz de seu bloco parlamentar - que liderou a votação pela expulsão dos soldados estrangeiros - reiterou recentemente que dava aos americanos seis meses para sair.
Novamente, na segunda e quarta-feira, soldados e diplomatas dos EUA foram atacados por dois foguetes, como lembrete.
Mas o tom é menos agressivo. As brigadas do Hezbollah, a facção pró-Irã mais radical, disseram que vão anunciar sua posição nesta quinta-feira.
De toda forma, a questão prioritária para o Iraque, afetado pela queda no preço do petróleo, é a economia.
A longo prazo, o "diálogo estratégico" poderia garantir contratos americanos nos setores da construção e energia, bem como ajudas do Golfo e do Banco Mundial.