"Miguel não sabia todos os números", diz Mirtes
Mãe de Miguel Otávio Santana, morto após cair do nono andar do edifício Píer, discursou diante da sede das Promotorias de Justiça da Capital, do MPPE
A mãe de Miguel Otávio Santana, Mirtes Renata Santana, afirmou que seu filho não conhecia todas as letras e numerais. Assim, segundo ela, seria difícil que ele retornasse sozinho para o apartamento de Sarí, sua ex-empregadora e primeira dama de Tamandaré.
Em entrevista ao Fantástico, Sarí voltou a alegar que não apertou os botões do elevador. “Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar, que ele voltaria para o quinto andar. Até porque ele sabia os números, sabia tudo. Eu imaginei que ele voltaria para o andar”, colocou.
De acordo com Mirtes, mesmo após a queda de Miguel, quando moradores do prédio prestaram socorro, Sarí se mostrou fria e criticou o menino, chamando-lhe de “treloso” e “tinhoso”. “Tinhoso é uma palavra muito forte pra se dizer de uma criança que estava praticamente morta. Meu filho estava aprendendo a ler, a escrever, não sabia todos os números. Ele disse em rede nacional que ele sabia, mas ele não sabia. Eu sou a a mãe de Miguel Otávio, eu sei as dificuldades do meu filho. Ela [Sarí] não conhece nem as dificuldades que os filhos dela têm, porque só tem tempo para correr, ir para academia, salão de beleza e shopping”, comentou Mirtes.
Para a trabalhadora doméstica, Sarí também tentou passar uma imagem “falsa” de si mesma na entrevista, a que compareceu com pouca maquiagem, roupa branca e discreta e com um terço nas mãos. "Ela não se veste de forma simples, aquilo é uma farsa. Está no inquérito, no depoimento da manicure, que ela entrou, fechou a porta e sentou para terminar de fazer as unhas. A manicure perguntou por Miguel e ela respondeu: ‘mandei passear’", completa Mirtes.
MPPE
O MPPE recebeu, no dia 3 de julho, o inquérito que investigou a morte de Miguel, ocorrida em 2 de junho, que tipifica o caso como abandono de incapaz com resultado morte. Cabe a o promotor designado pelo órgão a escolha de denunciar ou não Sarí Côrte Real, em um prazo de 15 dias, segundo preconiza o Código do Processo Penal, mas o órgão disse que dará um posicionamento sobre o caso na próxima terça (14). O promotor pode ainda solicitar novas ações à polícia.
Mirtes pede que a denúncia seja formalizada agora. "Estou ansiosa e preocupada, porque o nome do promotor segue em segredo. Está em sigilo para mim, para a mídia, para os meus advogados, mas será que está em sigilo para a outra parte? Espero que o caso seja tocado, tenho fé em Deus", afirma.
O crime de abandono de incapaz está previsto no artigo 133 do código penal, “abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono”. Caso a conduta resulte em morte, a pena é de detenção, entre quatro e 12 anos.