Número de queimaduras aumenta durante a quarentena

São Paulo e Goiás são os estados brasileiros com maior número de casos; 478 internações por queimaduras foram registradas no país entre março e agosto

por Alex Dinarte sex, 07/08/2020 - 13:14
PxHere O aumento da utilização de álcool devido à pandemia eleva o risco de queimaduras no ambiente doméstico PxHere

Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) aponta que o número de acidentes provocados por álcool 70º aumentou em 19 estados do país durante a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19).

Dados atualizados na última quarta-feira (5) mostram 478 internações entre os meses de março e agosto de 2020. O estudo coloca São Paulo e Goiás como líderes de casos, com 136 e 104, respectivamente. Só na região de Campinas (SP), as internações em decorrência deste tipo de incidente tiveram elevação de 82,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

Segundo o médico cirurgião plástico e presidente da SBQ, José Adorno, a utilização de itens como o álcool líquido e em gel para a higienização das mãos e superfícies domésticas, é um dos principais causadores da elevação dos casos de queimaduras.

Para ele, o Brasil adquiriu um costume de aplicar o produto de modo desmedido. “O aumento dos casos vem pelo uso indiscriminado do álcool e por causa de uma cultura que nós temos no Brasil de utilizar o produto de maneira inadequada, não sabendo que é inflamável e perigoso”, comenta.

De acordo com Adorno, a assepsia para eliminar o risco do contágio pela Covid-19 com componentes que podem gerar combustão pode ser substituída pelo uso de medidas mais seguras, como o uso de água e sabão.

“Com a pandemia, as pessoas utilizam o líquido ou gel nas mãos e outras partes do corpo, fazem o uso até dentro de casa. Reserve o álcool para quando tiver contato com superfícies ou naquela situação em que é preciso higienizar as mãos e não tem água e sabão”, aponta.

Idosos e crianças

Outro estudo, realizado pelo Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) de São Paulo, mostra que os idosos passaram a ser maioria entre as vítimas de queimaduras no período pandêmico.

Antes da crise sanitária causada pela Covid-19, o maior número de acidentes com substâncias inflamáveis pertencia ao grupo com faixa etária entre 20 e 50 anos. Para Adorno, o público acima de 60 anos deve redobrar a atenção quando for fazer o uso de produtos que podem representar risco.

“Os idosos têm que estar atentos para vigiar as habilidades e as atividades que podem oferecer risco. Há situações em que não é aconselhado, a depender do tipo de habilidade ou de dificuldade que a pessoa tem, deixar que ela lide com fogão, por exemplo”, cita.

O médico também ressalta a necessidade de observação para as comorbidades e doenças associadas, pois os mais velhos podem ser mais suscetíveis a sofrer desmaios enquanto manuseiam elementos que podem oferecer perigo de combustão.

Entre os mais vulneráveis para acidentes com queimaduras, estão também as crianças. De acordo com o especialista, os pequenos devem ser vigiados de maneira atenta, pois a curiosidade da infância pode gerar grandes transtornos.

“Elas são bastante suscetíveis, vivem no ambiente doméstico e são curiosas, portanto precisam ser vigiadas sempre. As crianças podem entrar em contato com as chamas, com o cabo da panela no fogão, puxar a toalha que tem líquido quente em cima e assim acontecem os acidentes. Ademais, devemos tirar o álcool de perto das crianças, esse produto não pode ficar alcançável a elas”, orienta Adorno.

Sofri uma queimadura. O que fazer?

De acordo com o cirurgião plástico, a única recomendação segura e correta para o tratamento de uma queimadura, assim que ela acontece, é lavar com água corrente para resfriar o local afetado. Segundo ele, alguns recursos caseiros usados no passado não são eficientes e podem prejudicar a evolução do tratamento.

“Não se deve usar pasta de dente, borra de café ou manteiga, nada que não seja água corrente na área do acidente, pois isso pode provocar infecção, dificultar a limpeza do ferimento e agravar o quadro”, fala.

Para Adorno, o líquido pode ajudar a aliviar a dor e também impede que a queimadura seja aprofundada no ponto atingido pelo fogo. “Se deixar o calor, ele vai matando mais tecido. Depois de lavar, o ideal é enrolar um pano limpo no local e procurar a unidade de saúde para o tratamento correto. Se for utilizar um creme para queimadura, use a sulfadiazina de prata, mas é sempre bom procurar um médico para o diagnóstico correto da extensão da lesão e determinar o melhor acompanhamento”, detalha.

O médico também ressalta a importância de estar em dia com a vacinação antitetânica, tida como fundamental para a evolução dos casos de acidentes com substâncias inflamáveis.

Recomendações básicas

- Evite utilizar álcool em casa ou tê-lo em grande quantidade. Para uso em casa, é possível usar outro higienizador como água sanitária diluída. Para a assepsia das mãos no ambiente doméstico, use água e sabão;

- Quando usar o álcool para higienizar as mãos, espere pelo menos 20 minutos para entrar em contato com qualquer chama;

- Evite a utilização do produto para acender churrasqueira, lareira, fogareiro, ou qualquer coisa para fazer o fogo, pois o álcool 70% é altamente inflamável. Nunca aproxime o frasco do local do fogo e fique atento ao uso da substância em gel. A chama desse produto é invisível e não amarela como o líquido;

- Observe os frascos dispostos nas prateleiras dos supermercados, fique atento a embalagens e formas de apresentação. Como o produto foi liberado de maneira bem ampla pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as formulações podem não chamar atenção sobre o perigo que representam.

- Atente para o uso de versões em álcool hidratante ou spray. O modelo composto por produtos hidratantes pode demorar mais tempo para ser eliminado do corpo, mesmo que seja para higienizar as mãos em pequena quantidade. Já as embalagens aerossóis de álcool 70% podem explodir em contato com o fogo e causar um acidente muito grave.

COMENTÁRIOS dos leitores