São Paulo estuda retomar restrições ao lazer
A taxa de ocupação em leitos de enfermaria da capital chegou a 60% para hospitais estaduais e 66% na rede privada
O Centro Estadual de Contingência Covid-19 já analisa retomar restrições ao lazer em algumas regiões de São Paulo, diante da alta de casos da Covid-19. A taxa de ocupação em leitos de enfermaria da capital chegou a 60% para hospitais estaduais e 66% na rede privada. O prefeito Bruno Covas (PSDB) autorizou abrir 200 novas vagas para evitar sobrecarga do sistema de saúde municipal.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, a última vez que a capital ultrapassou a média mensal de 60% na ocupação dos leitos de enfermaria foi em maio, quando atingiu 65%. Na semana passada, o Estado recomendou o adiamento de cirurgias eletivas (não urgentes) para desafogar os hospitais.
O Centro de Contingência não detalhou quais segmentos do lazer - como parques, bares ou cinemas - podem ser incluídos em eventuais novas restrições. A reclassificação oficial do Plano São Paulo (programa estadual de flexibilização da quarentena) será anunciada na segunda-feira pelo governador João Doria (PSDB), após o 2.º turno das eleição municipal.
"Houve registro do aumento de casos positivos em todos os laboratórios, principalmente envolvendo jovens. Estamos imaginando que, se tivermos de fazer alguma restrição, será nas atividades de lazer e tentando preservar a atividade escolar, que teve o maior prejuízo na nossa história", disse José Medina, coordenador do órgão. Na cidade, só o ensino médio tem aval para retomar aulas regulares presenciais.
A prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, já ameaçou fechar outra vez o comércio se não houver desaceleração do contágio. "Os dados mostram claramente que houve mudança no patamar, com aumentos no número de casos e de internações, que predominam em algumas regiões e merecem mais atenção", acrescentou Medina.
Ele avalia que há "fadiga coletiva" com as regras de distanciamento social e o uso de máscaras, mas que a subida do platô na curva de contágios pode ter sido desencadeada pelas atividades de campanha eleitoral da última semana. "Ainda temos fôlego para atender a essa demanda", disse Medina.
Ele afirma também que há 16 leitos para cada 100 mil habitantes no Estado, dos quais 50% estão ocupados, total superior a 3 mil. "Isso desperta um alerta para entender como esse aumento pode ser contido. Estamos alertas e observando para ver quais medidas de contenção precisam ser tomadas, para evitar que isso tome a dimensão que vem acontecendo na Europa e nos Estados Unidos."
Segundo Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional de São Paulo, ainda é cedo para prever qualquer restrição ou flexibilização. Segundo ele, os índices regionais "seguem com estabilidade".
Paulo Solmucci, presidente nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), afirma que nova restrição de funcionamento não é oportuna. Para ele, uma ideia nesse sentido "é irresponsável com quem trabalha e com quem está quebrado, que é a maioria do comércio".
Rede hospitalar
Os novos leitos em São Paulo serão distribuídos entre dois hospitais, na Brasilândia, zona norte, e em Parelheiros, na sul, e serão para casos leves. Conforme o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, há "estabilização de casos na capital", mas a Prefeitura fará novo inquérito sorológico com 5 mil pessoas, dividido em quatro fases. A primeira será em 7 e 21 de dezembro; e a segunda em 4 e 18 de janeiro.
Até anteontem, a média de ocupação de UTIs da capital nos últimos sete dias foi de 49%, enquanto prontos-socorros registraram 31%. É uma "taxa de ocupação regular", na avaliação do secretário.
Levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados aponta que dez centros, que somam 27.496 leitos operacionais-dia, destinaram 2.242 vagas à covid-19. Nesses, a taxa de ocupação por pacientes de covid foi de 84% entre os dias 14 e 20, enquanto a ocupação geral foi de 67,8%, no último mês.
O aumento de contágios e internações alinhado ao segundo turno da eleição e às comemorações de fim de ano forma uma "tempestade perfeita", diz Domingos Alves, professor de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. "É bastante preocupante a velocidade com que as internações estão se dando, não só na capital, mas na Grande São Paulo e em outras cidades do Estado."
Para Alves, seria preciso elevar restrições em regiões já com níveis mais altos de contágio. Além disso, defende aumentar a testagem e rastrear infecções para impedir que assintomáticos passem o vírus adiante. (Colaborou Renato Vieira)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.