PE divulga resultados de pesquisas sobre o óleo no litoral

Após um ano e quatro meses do desastre ambiental, secretaria e órgãos de pesquisa e defesa do meio ambiente falam pela primeira vez sobre o que conseguiram até agora

ter, 15/12/2020 - 15:57
Arthur Souza/Pixabay Arthur Souza/Pixabay

Nesta terça-feira (15) foi realizado um webinário para apresentar os primeiros resultados das pesquisas sobre o impacto do derramamento de petróleo no litoral de Pernambuco. O momento foi promovido pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), transmitido através do YouTube da Secretaria do Meio Ambiente (Semas) e durou aproximadamente três horas.

A live foi aberta pelo professor e presidente da Facepe Fernando Jucá, que introduziu a pauta e os demais convidados. Estiveram presentes cientistas e pesquisadores, o secretário do Meio Ambiente José Bertotti; Djalma Paes, da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH); e Janice Trotte-Duhá, assessora de assuntos do oceano junto à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha do Brasil.

Como principais pontos da discussão estiveram os editais FACEPE 22/2019, que ofereceu apoio emergencial para Estudos de Impactos e Mitigação da Contaminação por Petróleo no Litoral de Pernambuco; e o FAPESP/FACEPE 23/2019, que deu o mesmo apoio para estudos de Prevenção, Mitigação e Análise de risco da tragédia-crime. Juntos, os editais investiram R$ 5,4 milhões para as propostas de intervenção registradas.

Também foram discutidos as parcerias acadêmicas realizadas entre instituições local e de outros estados, como a união entre UFPE, UPE e URFPE com as universidades de Campinas, São Paulo e AGGEU/Fiocruz.

Trotte-Duhá, que esteve à frente da parceria com a Academia de Ciências Brasileiras e Marinha do Brasil, foi uma das primeiras convidadas a compartilhar os seus resultados, que foram parte do núcleo de causas e medidas preventivas referentes ao derramamento. Até hoje, os culpados pelo crime ambiental não foram reconhecidos e a Marinha encerrou o inquérito sem identificá-los.

“Nós tivemos mais de 70 mil homens na praia, presentes, e com isso pudemos oferecer uma ação benigna, mais de assistência cívico-social nesse aspecto. Realizamos em Salvador a Reunião de Crítica, em 12 de dezembro de 2019, onde pudemos fazer um levantamento preliminar sobre ações propositivas de médio e longo prazo”, disse a secretária.

Além dos webinários realizados, o órgão de operações também participou da chamada CNPq/MCTI 06/2020, o programa ‘Ciência do Mar’, e a aderiu com o incremento de R$ 2 milhões a fim de aumentar o número de propostas contempladas.

Paes, da CPRH, reviveu os momentos de aparição do óleo nas praias e comentou que o necessário não foi realizado à época. “Nossas praias amanheceram todas tomadas pelo óleo e nós não tínhamos nenhuma tecnologia, até porque não foi tomada nenhuma providência dos protocolos necessários para isso, mas mesmo assim nós enfrentamos. O Governo do Estado colocou helicópteros que detectavam essas manchas em alto mar, tivemos o apoio da população, principalmente de pescadores, porque eles sabiam e entendiam das consequências que isso poderia incorrer nas suas vidas, no seu ganha pão”, disse o presidente.

No âmbito de ações e resultados, segundo o gestor, foram removidos uma tonelada e 600 mil Kg de piche, levados a um aterro sanitário, destinação correta desse tipo de resíduo. Tudo foi monitorado pela agência, que rastreou 48 praias e oito estuários, de 13 municípios diferentes, vítimas do crime. 70% do litoral pernambucano foi atingido.

A professora Beatrice Padavani (UFPE) exibiu os resultados de avaliação do impacto do óleo no sítio PELD-Tamandaré, localizado na região sul de Pernambuco e que se estende da costa até o talude continental. Na área, há diversas unidades de conservação a nível federal.

Com os gráficos, 56 pesquisadores de 19 instituições mostraram os trabalhos para acompanhar a dinâmica espacial e temporal dos ecossistemas da localidade. A pesquisadora destaca o estuário de Rio Formoso, onde foi concluído que havia baixa contaminação, mesmo após a limpeza.

Já em Praia da Pedra, os cientistas detectaram contaminação moderada, apesar dos esforços para livrar o estuário do material contaminado. Como as regiões já eram monitoradas desde antes do vazamento, as equipes puderam fazer comparações, através de medições do hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA), substância derivada do petróleo.

Para encerrar o webinário, Jesser Fidelis de Souza Filho, coordenador do Departamento de Oceanografia da UFPE, falou sobre as alterações notadas em comunidades biológicas. Segundo o doutor, as equipes acompanharam a influência do HPA nas estruturas de algumas espécies marinhas, especificamente recifais, com foco nas praias de Gaibu e no estuário de Rio Formoso.

“Nos ambientes recifais imersos, estamos acompanhando os locais onde as manchas chegaram e se fixaram às rochas, e estão lá até hoje. Temos mais de 300 fotos registrando ao longo do tempo como está o comportamento dessa estrutura. Temos, principalmente na região do Rio Formoso, coletas realizadas entre março e setembro de 2020 que estão em processamento”, disse o professor.

O geocientista também fala que, com relação às espécies de importância ecológica, há um caranguejo que habita recifes da nossa região que teve alterações estruturais após o contato com o material nocivo.

“Estudamos a influência da contaminação por HPA nas estruturas ou alterações morfológicas dessas espécies. Temos três coletas voltadas para o HPA, antes da chegada do óleo, e tinha, exatamente em Gaibu, 11 coletas antes da chegada do óleo. Dessas coletas, onde nós reunimos 20 indivíduos dessa espécie por mês, nunca nenhum apresentou manchas e alterações na carapaça. Um mês após a chegada do óleo, começamos a detectar imediatamente manchas e alterações como corrosões na carapaça, na parte dorsal, na parte interna e na parte ventral, além de malformações morfológicas. Consideramos o efeito agudo nessa espécie de recifes”, concluiu.

 

 

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