Emaús documenta histórias sobre a luta por direitos

Premiado em edital, Movimento grava depoimentos que marcam a luta em defesa da infância e da adolescência e projeta a construção de museu em Belém

seg, 26/04/2021 - 17:14

O Movimento de Emaús, que há 50 anos atua em defesa de crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade social, está dando início ao projeto que visa construir o Museu dos Direitos da Infância e Adolescência no Pará. O trabalho começou com a gravação de depoimentos de pessoas que vivenciam a luta por direitos da juventude, para a construção de um acervo memorialístico.

“A ideia do projeto se iniciou há alguns anos e eu soube dela em 2019, quando o Padre Bruno Sechi ainda era vivo. Ele compartilhou isso com algumas pessoas. Ele tinha o desejo de que o Movimento de Emaús tivesse um museu físico, mas não sobre o movimento, e sim sobre a luta em defesa dos direitos da infância e da adolescência”, explica Adelaide Oliveira, jornalista e sócia solidária do Emaús.

Adelaide conta que o Movimento de Emaús se articulou com o poder público, com a iniciativa privada e com a sociedade para que as pessoas pudessem entender a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. “O Padre Bruno já compartilhava isso. Só que em 2020 veio a pandemia. Eram os 50 anos do Emaús, tudo foi feito virtualmente e a gente não conseguiu fazer uma mobilização maior. O Padre Bruno acabou falecendo e todo mundo no movimento ficou impactado. Ele, como fundador, era o coração do Emaús”, diz.

A concretização se deu com o edital da Lei Aldir Blanc. “Tinha um edital específico para Museologia, para que as instituições pudessem contar histórias. Eu, Tadeu Costa, que coordena a parte da Museologia, e a Cleice Maciel, coordenadora executiva do Emaús, elaboramos um projeto que foi aprovado e esse recurso serve para dar corpo à ideia”, explica a jornalista.

Nesse primeiro momento está sendo feito um levantamento do que o Movimento Emaús tem em seus registros para poder contar a história da infância e adolescência. Segundo Adelaide, os relatos compõem, na verdade, uma história que não é só do Emaús, mas de toda a sociedade.

Os convidados para expor suas memórias representam diferentes grupos de colaboradores e setores sociais. “O Miguel Chikaoka (fotógrafo) vai ser um dos entrevistados, porque o Miguel fez um trabalho, nos anos 90, registrando crianças em situação de trabalho. Vamos ouvir o pessoal da Rádio Margarida, uma pessoa do Ministério Público e vamos ouvir pessoas que iniciaram o Movimento de Emaús junto com o Padre Bruno”, revela Adelaide Oliveira. As entrevistas serão disponibilizadas no canal do Youtube do movimento.

A participação da sociedade é importante, destaca Adelaide. Pessoas que tiverem fotos, documentos ou relatos sobre o Movimento Emaús devem compartilhar nas redes sociais do Emaús. “A ideia é que a gente fique postando nas redes sociais do Movimento, sempre usando a #MemoriaEmaus. Fotos, relatos do próprio Movimento ou de pessoas que fazem parte dessa luta, contando um pouquinho da importância dessa trajetória. A gente pede a mobilização das pessoas, o material de vocês nos ajuda nisso”, explica Adelaide Oliveira.

Funcionários voluntários e outras pessoas envolvidas na história do Movimento também ajudam na coleção dessas memórias.  “A (pedagoga) Carmen Ribas, a Rose Silveira, que é uma jornalista que trabalhou no movimento lá atrás, vão enviar material pra gente também. Tiveram funcionários voluntários do Emaús que enviaram”, relata Adelaide.

Como parte do projeto, oficinas on-line foram oferecidas tanto para pessoas de dentro do Movimento quanto para o público externo. “Falamos sobre inventário, sobre museologia, sobre comunicação, redes sociais. Agora, a gente está coletando esse material e fazendo a segunda etapa, que foi o projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc. Foi superimportante esse recurso”, aponta.

A jornalista prevê que no início de maio todas as entrevistas já estejam postadas no canal de Youtube do movimento. Lembra também que essas ações continuarão de forma voluntária.

Manter a história viva

Cleice Maciel, coordenadora do Emaús, diz que o projeto é um sonho coletivo dos fundadores do Movimento, especialmente do Padre Bruno, e que a ideia é manter viva a história de conquistas dos direitos de crianças e adolescentes. “Principalmente da organização protagonista de crianças e adolescentes nas décadas de 70, 80, quando não havia reconhecimento dos direitos da infância, e o quanto que essa organização foi relevante para a formulação e promulgação do ECA. Acreditamos que a memória fortalece as conquistas”, afirma.

Cleice ressalta a importância dos relatos de quem esteve presente ou que participou de alguma forma das cinco décadas de história de luta pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes no Pará para compor o acervo do Memorial. “No que se refere à continuidade das ações do Emaús, as pessoas podem contribuir de várias formas: com doações de objetos, financeiramente via sócio solidário, com voluntariado em nossas ações”, complementa.

A coordenadora executiva do Emaús explica que, desde março de 2020, o movimento está em campanha de arrecadação financeira para a manutenção da infraestrutura do Emaús, da folha de pagamento e das contas mensais (internet, energia, telefone). Simultaneamente, trabalha na arrecadação de alimentos, pois muitas famílias dos atendidos estão sem condições financeiras de se alimentarem com qualidade.

“Estamos tentando nos renovar e realizar o atendimento ao público respeitando todos os protocolos de saúde, pois sabemos que toda essa situação pandêmica tem elevados os índices de violência sexual contra crianças e adolescentes, violência doméstica e trabalho infantil”, diz.

Luiz Tadeu Costa, professor do curso de Museologia da Faculdade de Artes Visuais, do Instituto de Ciências da Arte (ICA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que o projeto busca inventariar as ações do Emaús sobre os direitos da infância e da adolescência na Amazônia. Ele conta que o inventário é participativo e vai mostrar o que está contido nos relatos e nos objetos de quem participar, contemplando o que foi realizado pelo movimento ao longo desses 50 anos.

“É um troféu, é uma comenda, um diploma, um TCC, um livro lançado. De certa maneira, o inventário vai estar nas ações que podem ser materiais ou imateriais, físicas ou não, mas que vão estar materializadas para que a gente possa fazer uma catalogação”, explica.

Ainda sobre o inventário, Tadeu afirma que ele vai possibilitar que as pessoas enxerguem melhor a atuação do Emaús no decorrer dos anos. “Depois, dando segmento ao trabalho, para que gente possa visualizar de maneira mais explícita essas ações que o Emaús realizou, realiza e vem realizando ao longo de cinco décadas”, finaliza.

As memórias podem ser compartilhadas em vídeos de até 3 minutos com o celular na horizontal, gravado de preferência em um lugar com boa iluminação e silencioso. A gravação deve ser enviada para o e-mail inventario.emaus.50@gmail.com.

Os depoimentos também podem ser compartilhados nas redes sociais com a hashtag #MemoriaEmaus.

Redes Sociais do Movimento Emaús

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Por Carolina Albuquerque e Isabella Cordeiro.

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