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O Movimento de Emaús, que há 50 anos atua em defesa de crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade social, está dando início ao projeto que visa construir o Museu dos Direitos da Infância e Adolescência no Pará. O trabalho começou com a gravação de depoimentos de pessoas que vivenciam a luta por direitos da juventude, para a construção de um acervo memorialístico.

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“A ideia do projeto se iniciou há alguns anos e eu soube dela em 2019, quando o Padre Bruno Sechi ainda era vivo. Ele compartilhou isso com algumas pessoas. Ele tinha o desejo de que o Movimento de Emaús tivesse um museu físico, mas não sobre o movimento, e sim sobre a luta em defesa dos direitos da infância e da adolescência”, explica Adelaide Oliveira, jornalista e sócia solidária do Emaús.

Adelaide conta que o Movimento de Emaús se articulou com o poder público, com a iniciativa privada e com a sociedade para que as pessoas pudessem entender a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. “O Padre Bruno já compartilhava isso. Só que em 2020 veio a pandemia. Eram os 50 anos do Emaús, tudo foi feito virtualmente e a gente não conseguiu fazer uma mobilização maior. O Padre Bruno acabou falecendo e todo mundo no movimento ficou impactado. Ele, como fundador, era o coração do Emaús”, diz.

A concretização se deu com o edital da Lei Aldir Blanc. “Tinha um edital específico para Museologia, para que as instituições pudessem contar histórias. Eu, Tadeu Costa, que coordena a parte da Museologia, e a Cleice Maciel, coordenadora executiva do Emaús, elaboramos um projeto que foi aprovado e esse recurso serve para dar corpo à ideia”, explica a jornalista.

Nesse primeiro momento está sendo feito um levantamento do que o Movimento Emaús tem em seus registros para poder contar a história da infância e adolescência. Segundo Adelaide, os relatos compõem, na verdade, uma história que não é só do Emaús, mas de toda a sociedade.

Os convidados para expor suas memórias representam diferentes grupos de colaboradores e setores sociais. “O Miguel Chikaoka (fotógrafo) vai ser um dos entrevistados, porque o Miguel fez um trabalho, nos anos 90, registrando crianças em situação de trabalho. Vamos ouvir o pessoal da Rádio Margarida, uma pessoa do Ministério Público e vamos ouvir pessoas que iniciaram o Movimento de Emaús junto com o Padre Bruno”, revela Adelaide Oliveira. As entrevistas serão disponibilizadas no canal do Youtube do movimento.

A participação da sociedade é importante, destaca Adelaide. Pessoas que tiverem fotos, documentos ou relatos sobre o Movimento Emaús devem compartilhar nas redes sociais do Emaús. “A ideia é que a gente fique postando nas redes sociais do Movimento, sempre usando a #MemoriaEmaus. Fotos, relatos do próprio Movimento ou de pessoas que fazem parte dessa luta, contando um pouquinho da importância dessa trajetória. A gente pede a mobilização das pessoas, o material de vocês nos ajuda nisso”, explica Adelaide Oliveira.

Funcionários voluntários e outras pessoas envolvidas na história do Movimento também ajudam na coleção dessas memórias.  “A (pedagoga) Carmen Ribas, a Rose Silveira, que é uma jornalista que trabalhou no movimento lá atrás, vão enviar material pra gente também. Tiveram funcionários voluntários do Emaús que enviaram”, relata Adelaide.

Como parte do projeto, oficinas on-line foram oferecidas tanto para pessoas de dentro do Movimento quanto para o público externo. “Falamos sobre inventário, sobre museologia, sobre comunicação, redes sociais. Agora, a gente está coletando esse material e fazendo a segunda etapa, que foi o projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc. Foi superimportante esse recurso”, aponta.

A jornalista prevê que no início de maio todas as entrevistas já estejam postadas no canal de Youtube do movimento. Lembra também que essas ações continuarão de forma voluntária.

Manter a história viva

Cleice Maciel, coordenadora do Emaús, diz que o projeto é um sonho coletivo dos fundadores do Movimento, especialmente do Padre Bruno, e que a ideia é manter viva a história de conquistas dos direitos de crianças e adolescentes. “Principalmente da organização protagonista de crianças e adolescentes nas décadas de 70, 80, quando não havia reconhecimento dos direitos da infância, e o quanto que essa organização foi relevante para a formulação e promulgação do ECA. Acreditamos que a memória fortalece as conquistas”, afirma.

Cleice ressalta a importância dos relatos de quem esteve presente ou que participou de alguma forma das cinco décadas de história de luta pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes no Pará para compor o acervo do Memorial. “No que se refere à continuidade das ações do Emaús, as pessoas podem contribuir de várias formas: com doações de objetos, financeiramente via sócio solidário, com voluntariado em nossas ações”, complementa.

A coordenadora executiva do Emaús explica que, desde março de 2020, o movimento está em campanha de arrecadação financeira para a manutenção da infraestrutura do Emaús, da folha de pagamento e das contas mensais (internet, energia, telefone). Simultaneamente, trabalha na arrecadação de alimentos, pois muitas famílias dos atendidos estão sem condições financeiras de se alimentarem com qualidade.

“Estamos tentando nos renovar e realizar o atendimento ao público respeitando todos os protocolos de saúde, pois sabemos que toda essa situação pandêmica tem elevados os índices de violência sexual contra crianças e adolescentes, violência doméstica e trabalho infantil”, diz.

Luiz Tadeu Costa, professor do curso de Museologia da Faculdade de Artes Visuais, do Instituto de Ciências da Arte (ICA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que o projeto busca inventariar as ações do Emaús sobre os direitos da infância e da adolescência na Amazônia. Ele conta que o inventário é participativo e vai mostrar o que está contido nos relatos e nos objetos de quem participar, contemplando o que foi realizado pelo movimento ao longo desses 50 anos.

“É um troféu, é uma comenda, um diploma, um TCC, um livro lançado. De certa maneira, o inventário vai estar nas ações que podem ser materiais ou imateriais, físicas ou não, mas que vão estar materializadas para que a gente possa fazer uma catalogação”, explica.

Ainda sobre o inventário, Tadeu afirma que ele vai possibilitar que as pessoas enxerguem melhor a atuação do Emaús no decorrer dos anos. “Depois, dando segmento ao trabalho, para que gente possa visualizar de maneira mais explícita essas ações que o Emaús realizou, realiza e vem realizando ao longo de cinco décadas”, finaliza.

As memórias podem ser compartilhadas em vídeos de até 3 minutos com o celular na horizontal, gravado de preferência em um lugar com boa iluminação e silencioso. A gravação deve ser enviada para o e-mail inventario.emaus.50@gmail.com.

Os depoimentos também podem ser compartilhados nas redes sociais com a hashtag #MemoriaEmaus.

Redes Sociais do Movimento Emaús

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Por Carolina Albuquerque e Isabella Cordeiro.

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Movimento República de Emaús teve início em 1970, em Belém, depois que o padre Bruno Sechi chegou à cidade, procedente da Sardenha, Itália. Salesiano de Dom Bosco, padre Bruno trabalhava com jovens da periferia da Itália e assumiu a missão de desenvolver ações em prol da juventude da capital paraense. Em 29 de maio, Padre Bruno morreu, aos 80 anos. O legado ficou.

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Em Belém, Padre Bruno organizou uma missa da juventude. Convidava músicos jovens para tocar e depois reunia todos para debater o Evangelho e assuntos da época. O jovens eram dos bairros da Pedreira e Sacramenta. A partir das reflexões do Evangelho, os jovens se inquietaram e decidiram sair da reflexão e passar para a ação.

Segundo Georgina Kalife, pedagoga efetiva de Emaús, essa ação consistia em colocar em prática o Evangelho, buscando o próximo. “Os jovens mais maduros saíam à noite em ronda pela cidade, principalmente na área do Ver-o-Peso, Presidente Vargas, para ver as pessoas que estavam na rua”, contou.

O movimento ganhou uma casa atrás da arcebispado, cedido pelo bispo da época, Dom Alberto Gaudêncio Ramos, e ali foi construído o Espaço do Pequeno Vendedor, que foi inaugurado no dia 12 de outubro de 1970. “Nós, jovens daquela época, íamos pela feira, pelo comércio fazendo abordagem, conversando com as crianças, com os adolescentes e convidando para o almoço. Na época eram 0,20 centavos, um preço simbólico, porque uma das características do movimento sempre foi não ser um trabalho assistencialista, mas ser um trabalho de inclusão e participação do próprio sujeito", destacou Georgina.

Segundo a pedagoga, os meninos tinham que se sentir dignos comprando o seu almoço. "Eles não iam lá para pegar uma esmola. Nós fazíamos um momento de convivência e após o almoço tinha reunião, tinha reflexão e partir disso foi se formando cooperativa a partir das atividades que eles desenvolviam na rua”, contou Georgina.

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelas crianças e adolescentes foram organizadas cooperativas por voluntários do movimento. O objetivo era orientar contra a exploração dos meninos, que trabalhavam como jornaleiros, engraxates, sacoleiros, picolezeiros.

Segundo Georgina, que trabalhou desde o início do movimento, a importância do Padre Bruno foi fundamental. "Sua visão em relação ao trabalho era a humanização, acreditando que poderia fazer uma sociedade mais justa", disse.

A pedagoga diz que o padre tinha uma característica que era muito própria: convencer as pessoas. “Quando ele falava, seus olhos brilhavam e ele arrastava pelo exemplo. Ele não era só de falar, ele fazia. Então uma das coisas que era muito importante nessa situação toda de motivação era quando ele começava a falar da situação de injustiça, situação de opressão, e de que não era isso que Cristo tinha vindo anunciar. A questão da perspectiva do reino dos céus, que é uma sociedade plena, essa era a motivação principal”, relatou Georgina.

Com o conhecimento que tinha, Padre Bruno conseguiu montar o projeto da Campanha de Emaús, a grade coleta de móveis e eletrodomésticos para a oficina de reforma do Movimento. “Quando ele lançou essa campanha, ele conseguiu envolver grande parte da sociedade local. As pessoas se comprometiam a ficar horas e horas trabalhando com ele, planejando, fazendo contatos para conseguir fazer os roteiros. Era um trabalho de liderança, ele vivia pensando exatamente nesse aspecto da inclusão”, disse.

O dia da campanha entrou para a cultura de Belém. Uma vez por ano, num domingo, caminhões recolhem o material oferecido pelos moradores do centro e da periferia para a oficina. Reformados, os objetos são vendidos e o dinheiro é no trabalho em prol de crianças e jovens atendidos: creches, escolas, atividades lúdicas.

A República de Emaús promove a socialização por meio de musicalização, teatro e do Projeto Adolescente Aprendiz, para jovens em situação de vulnerabilidade. O espaço, hoje, fica no bairro no Bengui. “Nós chamamos de socialização e que dá uma certa continuidade do trabalho que se originou lá no Ver-o-Peso, com os meninos trabalhadores de rua. Hoje não tem mais essa característica de pegar os meninos da feira que tinha no Ver-o-Peso, em São Brás. Hoje se concentra uma grande parte aqui no Bengui, que é uma situação de exclusão que as crianças vivem, por falta de espaço para brincar, falta de moradia, os pais com subemprego. A situação de risco e vulnerabilidade desses jovens é muito grande”, contou.

A outra frente de Emaús é a defesa dos direitos que funciona no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), criado pelo Movimento. A grande coleta de Emaús concorre para esse trabalho de sensibilização da sociedade. "Anualmente, quando a campanha é lançada, tem sempre uma carta; essa carta tem um tema escolhido em assembleia geral pelos grupos dos meninos, os grupos das crianças", explicou Georgina.

Há um outro lado que a República também trabalha, que é a participação nos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes. “Nós temos participação direta na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com o movimento nacional de meninos e meninas de rua. Então essa questão do protagonismo das crianças e dos adolescentes é uma bandeira que a gente também defende, que faz com que os meninos se empoderem nessa perspectiva de lutar pelos seus direitos”, finalizou Georgina.

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Padre Bruno vive na luta por justiça e amor ao próximo

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O fundador e idealizador do Movimento República de Emaús, padre Bruno Sechi, morreu numa sexta-feira, 29 de maio, aos 80 anos, em Belém. A Arquidiocese de Belém informou que ele teria apresentado sintomas da covid-19 e estava se recuperando, mas as complicações avançaram. Segundo amigos mais próximos e familiares, o padre foi encontrado desacordado dentro de casa, levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu.

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 “Seria triste vivermos numa sociedade onde não haja lugar para solidariedade”, disse padre Bruno Sechi em uma das últimas entrevistas. Natural da Sardenha, na Itália, Bruno Sechi, também conhecido carinhosamente por bispos, sacerdotes e amigos como "campeão da caridade", tem mais de 50 anos de história em Belém do Pará, terra na qual ele se sensibilizou com a vida de crianças e adolescentes das periferias, que ficavam expostos ao risco de violência e afastados da escola para ajudar a família vendendo produtos diversos nas ruas e feiras da capital.

Na década de 70, padre Bruno fundou o Movimento da República do Pequeno Vendedor, no bairro da Cremação, com o intuito de retirar e transformar com oficinas educacionais a realidade de meninos e meninas que trabalhavam nas ruas e feiras do local.

O padre se dedicou durante décadas aos combates à desigualdade e era um defensor dos diretos humanos e da justiça social. Na década de 80, Bruno Sechi ganhou destaque mundial participando de ações políticas no Brasil, que resultaram na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo o pároco da Paróquia Cristo Peregrino, padre Nilton César Reis, o padre Bruno foi um homem que fez história e marcou a Arquidiocese de Belém e as igrejas do Brasil e do mundo. Ainda jovem veio para o Brasil como missionário e se doou para os mais necessitados. Passou por várias paróquias, dedicando-lhes a sua vida, e a sua última experiência paroquial foi na paróquia São João Paulo II, no bairro do Marco. “Ele deixa esse legado de amor e de paixão pelo que fazia, mas também de compaixão pelos menos favorecidos”, afirma o paroco. “Continuará vivo em nossa memória e lembrado, sobretudo em cada sorriso e vitória de nossas crianças e adolescentes”, complementa.

O diácono permanente da Arquidiocese de Belém, Edson Alves, conheceu Bruno Sechi em 1979 quando recebeu a missão de Dom Alberto Ramos, então arcebispo metropolitano, de acompanhar um padre que trabalhava com a juventude. “Eu não sabia que esse padre viria ser o padre Bruno. A partir daquele momento começamos a estabelecer um relacionamento de troca de conhecimento, ele era uma pessoa muito sábia, apaixonado pelo jovens e crianças, amava os seus ideais”, afirma.

“A lembrança mais bonita que tenho do padre Bruno foi quando realizamos um treinamento de liderança cristã na cidade de Bragança. Eu tive a oportunidade e a surpresa de encontrá-lo. Sempre tive um apreço muito grande por ele. Se hoje sou diácono, devo a ele, que me ensinou a lutar pelos direitos e querer uma sociedade mais justa”, declara Edson Alves.

Para o diácono, o Movimento de Emaús tem uma importância muito grande para a sociedade, porque ele é o chamado para a consciência da solidariedade e do respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes. “O padre Bruno era a pessoa que estendia as mãos e o Movimento são os braços que acolhem cada uma dessas crianças, jovens e adolescentes”, afirma, sobre a importância do padre na vida das gerações que passaram pelo o projeto. “Ele nunca será esquecido e permanecerá vivo nos corações e na lembrança de todos nós”, complementa.

Sempre de braços abertos

A professora Patrícia Nascimento conheceu o padre Bruno Sechi quando ele chegou para ser o vigário paroquial na Paróquia São Domingos de Gusmão, na Terra Firme, na época em que ela frequentava um grupo da Pastoral da Juventude. “Sempre acolhedor, ouvia a todos e dava muita atenção. Desde o início eu e os outros jovens cultivamos uma relação de amizade com o padre Bruno. Fazíamos as reuniões de grupo e almoço no domingo na casa dele”, afirma. “Sempre foi essa que estava disposta a receber de braços apertos quem frequentasse o seu lar”, complementa.

“Certa vez eu e os meus amigos da Pastoral da Juventude tivemos a ideia de fazer uma serenata na porta da casa dele na noite do seu aniversário. Ele fazia aniversário no dia 31 de julho. Então, do dia 30 para o dia 31 sempre íamos para a janela cantar uma música e desejar parabéns. Lembro-me das vezes que nós ficávamos cantando por muito tempo até ele acordar, pois já estava dormindo. Ano passado, ele já estava com um bolinho esperando a gente, porque sabia que todos os anos nós íamos lá”, conta Patrícia.

Para a professora, a grande importância do Movimento República de Emaús é a oportunidade que muitas crianças e jovens têm de transformar as suas realidades por meio de formação técnica. “A oportunidade faz com que o Emaús se torne importante para a construção da formação política que vai torná-los multiplicadores dessa capacidade social na vida deles e vida de outros jovens. O legado do padre Bruno é o comprometimento com a solidariedade capaz de transformar o mundo”, afirma Patrícia Nascimento.

Referência na defesa dos direitos da infância

A jornalista Adelaide Oliveira conta que conheceu o padre no início da vida profissional de comunicadora. Nos anos 90, Bruno Sechi já era uma referência quando se tratava de falar sobre os direitos da infância da juventude. Ele deixou de ser apenas uma fonte jornalística e a jornalista criou laços afetivos com ele. “Conheci mais da imagem daquele homem que passava uma aparência de alguém frágil naquele corpo franzino, mas era gigantesco e extraordinário”, afirma a jornalista. “Um ser humano disposto a ouvir e a aconselhar, eu abusava às vezes, ele me aconselhou em momentos importantes, sempre sensato e paciente. Ele cuidava do seu rebanho de especial. Qualquer pessoa podia ir e pedir um conselho, não interassava se era mais ou menos próximo, ele ia tratar a todos com muito carinho e cuidado”, complementa.

Recentemente, a jornalista teve a experiência de trabalhar com o padre Bruno Sechi no programa de televisão "Pensando Bem", da emissora TV Nazaré. “Ele me ligou e conversou sobre o convite para apresentar e formatar o programa. Quando não pude estar mais à frente, ele virou apresentador e não se intimidava, não era um papel que dominava, mas entendia como poucos o conteúdo que falávamos naquele programa", relata. "O padre Bruno não tinha nenhum preconceito com pauta, nem com as mais espinhosas”, afirma a jornalista.

“O padre Bruno Sechi tinha um sonho e eu acho que precisa ser de todos nós também, que era construir e fundar, se possível em 2020, o Museu dos Direitos da infância e da Juventude. Mostrar a luta a favor dessas crianças no momento em que ninguém olhava para elas como seres de direitos. Ele andava nas feiras de Belém e chegava junto com aquela criança que estava trabalhando e com os responsáveis para entender o porquê dela estar ali”, afirma a jornalista. “Manter o trabalho no Movimento de Emaús e as lideranças que foram feitas através de todo esse trabalho do padre Bruno é fundamental. São homens e mulheres que têm 50 anos, ou até mais, e tiveram suas vidas salvas por ele, que percebeu aquelas pessoas e tirou da invisibilidade”, complementa.

Um legado que atravessa a cidade

O historiador e professor Michel Pinho afirma não ter tido muita proximidade com padre Bruno Sechi, mas acompanhou o que ele fazia. “Tive contato quando entrei na universidade em 1993 e ele abriu na cidade de Emáus, no Bengui, uma turma de preparação de pré-vestibular para alunos trabalhadores na turma da noite. Ficava impressionado com a empolgação de ver aquelas pessoas depois de trabalhar o dia inteiro se predispuserem a ficar até 22 horas estudando. A minha carreira profissional tem uma mão muito forte do padre Bruno”, afirma.

“Uma das memórias mais tocantes foi do ano passado. Fui convidado pelo o Movimento Emaús a fazer uma fala sobre a história da cidade na década de 80 para os dias de hoje, falar sobre o que mudou e qual a importância do movimento. Quando terminei a palestra lembrei ao padre Bruno a história da Lígia Constantino, que é minha avó postiça e lutou na década de 70 e 80 pelas mulheres camponesas e eles juntos fizeram ações em relação às pessoas mais vulneráveis do campo, da cidade e da Amazônia. Terminei a fala e ele me pediu um abraço, sempre muito afetuoso, e vai marcar pelo o resto da vida”, declara Michel Pinho.

"O legado do padre Bruno atravessa a cidade de forma mais clara possível. Você tem um padre Bruno no Jurunas, um na Cremação, um no Curió, um padre Bruno no Guamá, você tem um padre Bruno na Terra Firme, entre outros bairros. Faz parte de constituir a memória do padre Bruno, de alguém que escolheu estar onde as pessoas mais precisam e é dele como líder político, líder religioso e líder social que vamos ficar com essa memória. Poucas pessoas marcaram a história dessa cidade e da Amazônia como ele marcou”, afirma o historiador.

Amizade, solidariedade, religiosidade

A aposentada Mariza Mendes, participante do grupo Movimento Independente de Pessoas Idealistas (MPI), conheceu o padre Bruno Sechi por meio do marido que pertenceu ao primeiro grupo de voluntários na República do Pequeno Vendedor. Ficou  afastada por um tempo do Movimento Emaús e depois, com uma amiga do grupo dos anos 70 e a pedido do padre, formou o grupo MPI para arrecadar alimentos para o Dia da Campanha.

 “Nós nos reuníamos uma vez por mês para arrecadar recursos para comprar alimentos. Passávamos o domingo com o padre Bruno, almoçávamos todos juntos e fazíamos a reunião. Era um dia de muita alegria e confraternização”, afirma Mariza Mendes. “Ultimamente todos estavam muito preocupados com essa situação da pandemia, e que pudesse faltar recursos para a arrecadação. Inclusive ele foi à televisão pedir para que a sociedade participasse. Padre Bruno estava muito preocupado com o Movimento Emaús”, complementa.

Segundo a aposentada, o legado que o padre Bruno Sechi deixa para a sociedade é o princípio da solidariedade, da amizade e da religiosidade. Ele plantou uma semente na área do movimento social, diz. "Era um padre que não vivia dentro da igreja, e sim no meio do povo e da comunidade. Ele deixa uma saudade muito grande em todos nós. Vamos dar continuidade ao projeto dele”, afirma.

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Por Amanda Martins.

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No último domingo, dia 22, ocorreu a formatura da primeira turma do Parque Bengui de Informática. O curso, que teve duração de 10 meses, auxiliou jovens de duas organizações sem fins lucrativos, o Emaús e a Tia Anízia, que trabalham com moradores de áreas periféricas da capital paraense.

Além dos alunos, familiares e amigos, o público geral também pôde acompanhar o evento. Entre os objetivos da inciativa, projeto do Parque Shopping Belém em parceria com o Instituto Íris e a Microlins, está a inclusão digital de crianças e adolescentes que vivem em vulnerabilidade social, além da profissionalização gratuita.

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“Partindo do princípio que o desenvolvimento social sustentável é composto de três pilares, o ambiental, social e o econômico, há uma necessidade veemente das organizações privadas investirem na educação da comunidade onde ela está inserida. Optamos em promover a educação através dos cursos de informática e orientação profissional para jovens da comunidade do Bengui, bairro onde nosso empreendimento está localizado. E a formatura desta primeira turma mostra o sucesso da iniciativa”, destaca Izabel Portela, superintendente do Parque Shopping Belém.

O Parque Bengui de Informática é uma mudança de vida para os jovens que fazem parte do projeto. “Antes de fazer o curso, eu me encontrava perdida na vida pessoal e profissional. No projeto, eu achei o direcionamento correto. Por isso, sou grata, de coração, a todos. Espero que o Parque Bengui possa ganhar mais força e assim ajudar mais pessoas”, diz Lana Almeida, de 15 anos, sobre a mudança na rotina depois que começou a integrar a iniciativa.

 O Parque Bengui já está com renovação garantida por mais um ano para atender mais jovens da comunidade do entorno do empreendimento.

Da assessoria do projeto.

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O Movimento República de Emaús, de Belém, existe há pouco mais 40 anos e foi fundado pelo padre Bruno Sechi com a intenção de promover e defender os direitos da infância e juventude. O nome Emaús faz referência a uma passagem bíblica que fala sobre solidariedade. “A ideia básica do Emaús é fazer com que o mundo seja mais solidário, que a vida possa fluir usando a solidariedade, por isso a escolha do nome”, explica o Coordenador de Sustentabilidade do Movimento, José Maria Dias.

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José Maria participa do Emaús há mais de cinco anos e diz que a motivação de ser voluntário é a vontade de ajudar no bom desenvolvimento de crianças e jovens carentes. “É algo no interior das pessoas, uma angústia de ver algo que está errado e querer mudar, então é isso que me motiva a participar”, conta.

O coordenador diz que o movimento Emaús é importante não só para as crianças, mas para a sociedade também. “O resgate da dignidade de crianças em desenvolvimento, que precisam ter as suas necessidades garantidas, não é importante só para criança, mas para a sociedade que vai colher os frutos de ter cidadãos que quando eram crianças tiveram seus direitos respeitados”, relata José.

O Emaús atua em três frentes com os 600 adolescentes da comunidade: na promoção de direitos, na defesa de direitos e no controle social. Na defesa de direitos, o movimento possui o Centro de Defesa de Direitos de Crianças e Adolescentes (Cedeca), que trabalha com crianças que sofreram violações de direito na infância, como tráfico de pessoas, de drogas, trabalho infantil e prostituição infantil. “Quando as crianças chegam, elas são acompanhadas por pedagogos, psicólogos, que vão conversando e identificando o problema. Quando necessário, ocorrem as visitas nas casas e escolas das crianças”, explica José Maria.

Na promoção de direitos, o Emaús busca oferecer para a comunidade oportunidades que elas não têm. “Não podemos fazer todas as políticas públicas, então, por exemplo, dentro dessa área de promoção de direitos, nós temos algumas ações culturais, que são o grupo de violino, flauta, percussão, violão, canto, temos o teatro, tem capoeira e entre outras atividades”, conta José. Ele explica que no controle social o Emaús sempre está presente nos conselhos municipais e estaduais quando se trata de questões de políticas públicas para crianças e adolescentes: “Nós estamos nos conselhos e fóruns para tratar das questões de cobrança dos direitos dos jovens”.

O Emaús possui o curso de Operador de Microcomputador do Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), em convênio com o Ministério das Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicações, que é um projeto para promover a formação educacional e profissional de jovens de baixa renda em situação de vulnerabilidade social. São ofertados oficinas, cursos e treinamentos com foco no recondicionamento e manutenção de equipamentos de informática, e na conscientização ambiental sobre os resíduos eletroeletrônicos.

O movimento também possui convênio com a Secretaria de Justiça dos Direitos Humanos do Estado pelo Programa de Proteção a Crianças Ameaçadas de Morte. E o Jovem Aprendiz, para adolescentes a partir de 15 anos, que é um programa nacional do Ministério do trabalho que o Emaús se habilitou para poder executar. “É uma porta de entrada para o mundo do trabalho; toda sexta- feira os adolescentes da comunidade assistem aulas teóricas e durante a semana estão em diversas empresas aprendendo na prática”, afirma José.

O movimento possui programas de captação de recursos para ajudar a manter o local que tem um custo de R$ 100 mil por mês. As pessoas  que desejam contribuir com o movimento podem se voluntariar no Emaús e escolher a área em que desejam atuar. O movimento também possui a Campanha de Emaús, que recebe material pedagógico, equipamentos usados, móveis e entre outros materiais que são reaproveitados pelo movimento. “Realizamos o bazar Feira de Emaús, vendemos para a população carente com preço mais barato”, explica a Coordenadora de Artes e Educação do Emaús, Cleice Maciel.

Através do Programa Sócio Solidário, as pessoas podem contribuir com doações financeiras e tornam-se membros do Emaús, tendo direito a voz em decisões a serem tomadas no movimento. “O objetivo é incentivar as pessoasa investir no desenvolvimento da infância e juventude, chamar a população para assumir a responsabilidade cidadã”, diz José Maria. Veja vídeo abaixo.

Para participar dos projetos do Emaús, seguem telefones para contato:

Programa Sócio Solidário: (91) 98938-3797

Campanha de Emaús: 41410457

Número geral do Movimento Emaús : 32857693

Por Leticia Aleixo.

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