Sem luz há 58 anos, agricultora ganha vaquinha por energia

Maria Francisca de Lima, de 54 anos, é moradora do Engenho Camurim, em São Lourenço da Mata, que luta para que a Celpe instale os postes de transmissão em sua casa

qui, 06/05/2021 - 17:40
Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens A agricultora Francisca Maria Francisca de Lima, em entrevista ao LeiaJá, em 2017. Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Uma vaquinha online busca arrecadar R$ 17 mil para garantir o fornecimento de energia solar para a agricultura Maria Francisca de Lima, de 54 anos, que luta para que a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) instale os postes para transmissão de energia da beira da estrada até sua casa, no Engenho Camurim, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. Para que a luz chegue, apenas um quilômetro de estrutura elétrica adicional é necessário. Apesar de conseguir o direito ao usucapião do meio hectare de terra em que mora, Francisca sofre com as tentativas de expulsão promovidas pelo Grupo Petribú, que já obrigou pelo menos 50 famílias a deixarem a região.

Nascida no engenho, Francisca relatou ao LeiaJá, em 2017, que sua família vivia de forma tranquila, do plantio de feijão, batata, mandioca, inhame, banana, dentre outros alimentos. Em 1978, quando ela se casou com o também camponês Severino José de Lima, a maior parte dos moradores do Engenho Camurim trabalhava para a usina Tiúma. O Grupo Petribú só chegou ao local na década de 1990, quando começou a expulsar os agricultores que viviam nas terras há mais de 40 anos.

Encarando, segundo ela, várias ameaças, Francisca e sua família foram os únicos que se recusaram a deixar a área. “Eles batiam em idosos, crianças e pais de família. Nos ameaçavam todos os dias com facas e armas e diziam que se a gente não saísse das terras, iriam derrubar tudo. Mas as famílias viviam aqui muito antes deles chegarem a nossa moradia. Não tínhamos para onde ir”, comentou.

Em 1999, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Francisca decidiu iniciar sua luta judicial pelas terras, afirmando inclusive ter sofrido ameaças de morte. Os advogados da CPT, então, entraram com uma ação de usucapião, já que a agricultura já vivia nas terras quando o Grupo Petribú adquiriu o engenho. Após anos de disputa, a Justiça de Pernambuco negou o direito de posse à família, garantindo o direito de reintegração de posse aos usineiros. Como Francisca não detém a posse das terras, a Celpe alega que não pode realizar a ligação da unidade consumidora a ela correspondente.

A vaquinha é organizada pelo cineasta Felipe Peres Calheiros, diretor do filme “A Cerca da Cana”, que conta a história de Francisca. Doações de valores entre R$ 50 e 15 mil reais podem ser realizadas até o dia 14 de junho. 

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