Cem anos após massacre racial, Tulsa espera Biden

O presidente democrata, que conta com amplo apoio da população negra, participará nesta terça-feira (1°) dos eventos em memória ao centenário de um dos piores episódios de violência racista da história dos Estados Unidos

ter, 01/06/2021 - 09:42
ANDREW CABALLERO-REYNOLDS Hombre participa de cerimônia em homenagem às vítimas do massacre de 1921 em Tulsa, Oklahoma, em 31 de maio de 2021 ANDREW CABALLERO-REYNOLDS

Em Tulsa, cidade americana que foi devastada por um massacre racial em 1921, Joe Biden é esperado com grande expectativa pelos afro-americanos, que anseiam que seu pedido de reparação financeira seja ouvido.

O presidente democrata, que conta com amplo apoio da população negra, participará nesta terça-feira (1°) dos eventos em memória ao centenário de um dos piores episódios de violência racista da história dos Estados Unidos.

Kristi Williams, ativista e descendente de vítimas, espera que Biden "faça justiça". "Cem anos atrás, eles paralisaram nossas casas, nosso desenvolvimento econômico, nossas terras foram tiradas de nós".

Hoje, o país "tem a oportunidade de corrigir esse erro", disse à AFP.

Em 31 de maio de 1921, um jovem afro-americano foi preso após ser acusado de agredir uma mulher branca. Um grupo de homens de sua comunidade saiu para defendê-lo, enfrentando centenas de manifestantes brancos.

Em uma atmosfera tensa, tiros foram disparados e os afro-americanos fugiram para seu bairro de Greenwood.

No dia seguinte, ao amanhecer, brancos saquearam e queimaram negócios e casas no que era então conhecido como "Black Wall Street", um exemplo de sucesso econômico.

Assim como as perdas econômicas, o número de mortos é difícil de estimar, mas os historiadores acreditam que até 300 afro-americanos perderam a vida e quase 10.000 ficaram desabrigados, sem que nenhum branco tenha sido condenado.

A polícia, que não tentou impedir o massacre, até armou alguns dos manifestantes, segundo relatório de uma comissão de inquérito.

Na segunda-feira, Biden disse que o governo dos Estados Unidos deve "reconhecer o papel que desempenhou em subtrair a riqueza e oportunidades dos bairros negros", incluindo Greenwood.

Em Tulsa, isso é apenas o começo. Os residentes esperam mais de um presidente que se declarou cautelosamente a favor de abordar o tema.

- As vítimas -

Na segunda-feira, o prefeito de Tulsa se desculpou formalmente pelo "fracasso da cidade em proteger" a comunidade em 1921.

"As vítimas - homens, mulheres, crianças - mereciam coisa melhor de sua cidade", disse G.T. Bynum em um comunicado.

Os efeitos da destruição continuam a ser sentidos hoje nesta cidade de Oklahoma, um estado escravagista do sul e reduto da Ku Klux Klan.

As desigualdades entre o norte de Tulsa, predominantemente negro, e o sul, principalmente branco, são gritantes.

"Quando os turistas visitam Tulsa, não conseguem acreditar quanta segregação ainda existe ou o racismo que se manifesta", diz Michelle Brown, diretora de programas educacionais do centro cultural local.

"Não mudou, ainda estamos segregados", afirma Billie Parker, uma afro-americana de 50 anos que cresceu em Tulsa.

Ela diz que a comunidade negra continua em desvantagem em relação aos cidadãos brancos da cidade. A reparação, segundo ela, poderia ajudar Greenwood a melhorar suas escolas.

Muitos afirmam que é hora do estado ajudar o bairro a recuperar sua prosperidade, perdida nas chamas de 1921.

"Aqui só havia mato, mas havia investimento, havia riqueza, havia vida", lembra a democrata texana Sheila Jackson Lee, uma defensora das indenizações.

Em 19 de abril, alguns dos últimos sobreviventes do massacre viajaram a Washington para testemunhar no Congresso e pedir ao país que reconheça seu sofrimento.

Já em 2001, uma comissão recomendou que os residentes de Greenwood recebessem uma compensação. Até agora, os apelos foram em vão.

Além da compensação financeira, os moradores contam com a visita de Joe Biden e os eventos do centenário do massacre para divulgar essa tragédia, há muito tabu.

Para LaShaundra Haughton, de 51 anos, bisneta de sobreviventes do massacre, "é hora de curar, é hora de dizer a verdade, é hora de trazer tudo à luz".

O desejo de transparência sobre o passado sombrio da cidade foi recentemente destacado por escavações realizadas para encontrar as valas comuns onde muitas vítimas negras foram enterradas.

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