Hepatologista alerta para os perigos do "kit covid"

Associação de hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, o chamado tratamento precoce sem eficácia comprovada contra a covid-19, pode causar hepatite medicamentosa

qua, 09/06/2021 - 17:23
Arquivo pessoal O médico hepatologista Rafael Ximenes Arquivo pessoal

O "kit covid", tratamento sem eficácia comprovada que combina o uso de azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina, está sendo consumido por parte da população contra a covid-19, muitas vezes com prescrição médica, mas vem sendo questionado por profissionais de saúde e contestado pela comunidade científica internacional. Isso porque o uso equivocado pode provocar hepatite medicamentosa.

Hepatite medicamentosa é uma grave inflamação no fígado causada pelo mau uso e pelo excesso de medicamentos. Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aponta que, além do kit não ter resultados positivos para o tratamento da covid-19, ainda pode causar graves riscos à saúde.

Segundo o médico hepatologista Rafael Ximenes, o kit é um fator preocupante principalmente pela falta de eficácia das medicações, que não ajudam a prevenir nem a tratar a doença.”Esses remédios possuem efeitos colaterais, inclusive lesões no fígado. A azitromicina, por exemplo, causa lesão no fígado em torno de 1 a 2% das pessoas que a usam. O risco da ivermectina é menor e a hidroxicloroquina parece ser nesse aspecto a mais segura, mas pela escala que essas medicações estão sendo usadas, milhares, talvez milhões de pessoas estejam usando, mesmo com o risco de 1% passam a ser muito alto e muitas pessoas, infelizmente, vão ter lesões no fígado por isso”, afirma.

A manifestação da doença é variável. Os sintomas podem aparecer em poucos dias ou até depois de alguns meses após o início da medicação. “Os primeiros sintomas podem ser leves e inespecíficos, como fraqueza, desânimo, falta de apetite, desconforto no abdome e enjoos. Nos casos mais graves, após alguns dias da semanas destes sintomas, podem aparecer a icterícia e depois a encefalopatia hepática”, explica o doutor.

 Ainda de acordo com o hepatologista, já foram registrados casos fatais de pessoas que optaram pelo tratamento. “Já têm casos de pessoas que precisaram de transplante por causa do kit covid e alguns pacientes até faleceram por isso. Então recomendamos que a população tome muito cuidado e não se automedique”, alerta Rafael Ximenes.

Sobre o tratamento para a doença, o doutor conta que a principal medida é a suspensão imediata dos medicmentos. “Na maioria dos casos, o tratamento é suspender a medicação que causou a lesão e esperar o fígado se recuperar. Vale lembrar que o fígado é um órgão com alta capacidade de regeneração. Em alguns casos, há tratamento específico para a lesão por aquele medicamento. Vale ressaltar que este tratamento deve ser feito por médico hepatologista com experiência neste tipo de lesão, e nunca por conta própria”, relata.

Por Rebeca Costa.

 

 

 

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