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Com o passar dos anos, o acesso à tecnologia se tornou cada vez mais fácil e muitos se utilizam dela diariamente para várias finalidades, seja para trabalhar ou estudar, como também para momentos de lazer e diversão. Porém, em alguns casos, o consumo excessivo de internet pode gerar a chamada dependência digital, que é caracterizada pela extrema necessidade que uma pessoa tem de estar o tempo inteiro conectada a qualquer tipo de aparelho eletrônico pelo prazer instantâneo causado.
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De acordo com especialistas, algumas causas associadas à dependência digital são a depressão, dificuldade de interação com outras pessoas, problemas de autoestima, entre outros. A utilização excessiva dos aparelhos tecnológicos também pode fazer com que os usuários adquiram a nomofobia – medo irracional de ficar longe do celular e eletrônicos no geral.
Médicos também apontam que o uso abusivo de tecnologias pode causar insônia e dores nas costas, nas mãos, nos punhos, no pescoço e outras inflamações no corpo, humano devido à repetição de movimentos.
A psicóloga Carolina Fernandes associa a dependência digital ao fato de vivermos em uma sociedade imediatista. Segundo ela, as gerações mais novas, crianças e adolescentes, vão crescendo com a necessidade de que as coisas aconteçam e sejam resolvidas o mais rápido possível. O celular é um dos maiores responsáveis por isso.
“Tudo, absolutamente tudo, a gente já consegue resolver na palma da mão pelo celular. Esse é um dos motivos da dependência digital. Cada vez mais os meios digitais favorecem para que a gente não perca tempo e que as coisas aconteçam mais rápido”, observa Carolina.
A psicóloga diz que outra possível causa é a mudança de rotina. As crianças, explica, estão tendo acesso a tablets, computadores, aos canais do YouTube na internet cada vez mais cedo e isso acaba mantendo-as em casa. “A rotina dos pais da nossa sociedade é muito diferente da rotina de antigamente. Pais passam mais tempo na rua, a criança passa mais tempo na escola, com babá, com outro membro da família e, querendo ou não, também por causa da violência que a gente vive atualmente que é muito maior do que a violência de antigamente”, esclarece.
Carolina diz que é possível identificar que o vício se torna algo fora do normal e disfuncional quando uma criança, um adolescente ou um adulto passa muito tempo fazendo uso de mídias sociais e de ferramentas digitais, a ponto de atrapalhar a sua rotina, e quando se sente irritado ao ficar sem elas. “Quando você começa a perceber que aquilo vira uma parte essencial na vida desse sujeito, já é um sinal de alerta”, informa.
A psicóloga também fala que a dependência digital pode afetar o estilo de vida de alguém a partir do momento em que a pessoa passa a preferir o cenário digital ao real, substituindo um pelo outro. “Ambiente sociais, pessoas reais e espaços em que você vai conversar 'olho no olho' perdem o sentido e essa pessoa prefere o estilo de vida em que ela conversa pelo celular”, explica.
Carolina afirma que, apesar de vivermos em uma sociedade extremamente digital e a nossa vida girar em torno disso, existe a possibilidade de transformar o uso excessivo dos meios digitais e plataformas virtuais em algo mais funcional. A psicóloga também alerta, em casos de crianças e adolescentes que ainda estão em processo de formação da personalidade, que os pais podem ajudar nessa fase de construção sendo referência para os filhos dentro de casa. No momento que surgirem os primeiros sinais de relação disfuncional com os meios digitais, orienta, é válido ligar o sinal de alerta e procurar ajuda.
“Acredito que inicialmente é muito pelo espelho mesmo que essa criança vê qual a referência que ela tem do uso dos meios digitais. Quando um pai ou mãe percebe um comportamento disfuncional do seu filho, a ajuda nesse processo é procurar terapia, um psicólogo que possa acompanhar essa criança e também encontrando meios de ressignificar o tempo dela”, complementa Carolina.
A dependência na juventude
Brena Patrícia Viana, 22 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, conta como a relação com o mundo digital teve impacto na vida dela desde muito cedo. “Já fui ter celular a partir da pré-adolescência em diante. O uso da internet, ter redes sociais, ter uma dependência já foi mais na minha adolescência para a juventude por questões de estudos e outras necessidades”, revela.
Brena diz que percebeu que o consumo da internet era algo fora do normal quando a rede caía, quando ia para algum lugar sem acesso a ela ou quando ia passar muito tempo sem usá-la e ficava preocupada por causa disso, sentindo-se dependente da internet. “Mesmo que não fosse pra postar algo ou necessariamente pra falar com alguém, se comunicar. Era uma questão de realmente estar ultrapassando os limites, de ficar com o comportamento totalmente diferente por não ter internet, achar entediante”, conta.
A estudante relembra que já teve a experiência de ficar ansiosa ao ir para locais onde não teria acesso às redes. “Acabo mexendo no celular sem ter no que mexer, começo a olhar arquivos, fotos, vídeos, músicas. Mas você tem aquela dependência e você está mexendo mesmo sem ter o acesso à internet. Tem um lado bom, porque acabo tentando focar em outras coisas, tipo a leitura ou alguma outra coisa que tire aparelhos eletrônicos do caminho”, diz.
Brena destaca o período da pandemia como o momento em que mais se sentiu prejudicada e com o emocional afetado pelo uso excessivo de tecnologias. Por estar em casa, mesmo que tivesse outros afazeres, passou a estar ainda mais ativa nas redes sociais. “Fui percebendo que o excesso de informações, principalmente com a quantidade de fake news, me deixou completamente mal a ponto de ter crises de ansiedade, medo e vários transtornos por causa do uso da internet. Eu não estava sabendo equilibrar e fazer aquilo ser bom, procurar coisas boas”, explica.
Brena conta que, para contornar o vício, costuma organizar os horários que vai precisar para estudar ou para fazer trabalhos e que busca alternar os momentos em que faz o uso do celular durante o dia. A estudante também revela que tenta focar em outras coisas que não envolvam a internet, como a leitura.
“Claro que hoje, com a pandemia, dependo muito dos aparelhos eletrônicos pra ter acesso aos estudos, mas eu procuro outras formas para estudar que eu não tenha que usar nenhum dos dois (celular e internet). Então ler alguma coisa que for acrescentar, fazer outra coisa como arrumar a casa, o guarda-roupa, alguma coisa que tire totalmente do foco e deixe o celular de lado ao ponto de não precisar pegar nele pra fazer algo que vai me distrair”, complementa.
Os benefícios e malefícios da era digital
Wendel Castro, professor e coordenador dos cursos de computação da UNAMA - Universidade da Amazônia, explica que existem vários estudos indicando que os vícios tecnológicos tiveram início a partir do surgimento da internet, principalmente com o "boom" dos smartphones, e estão muito associados à presença das pessoas no meio digital e ao medo que elas têm de se sentirem excluídas digitalmente.
O professor cita a Organização Mundial da Saúde (OMS) que reconheceu, em junho de 2018, o vício em jogos, ou "gaming disorder", como um dos transtornos que afetam a saúde mental. Ele explica que os usuários da internet são sempre estimulados, de alguma forma, a estarem jogando ou a criarem redes sociais que podem ser divulgadas, curtidas e compartilhadas. “Isso vai pro ego das pessoas e faz com que elas fiquem viciadas nas informações, nas vidas das pessoas, dos famosos, o que estão fazendo, o que estão comendo”, complementa.
Wendel comenta que a internet em si é uma das maiores criações de todos os séculos e tem muitas vantagens, como a informação, conhecimento e aprendizagem. “Antigamente nós precisávamos ir a uma biblioteca pra achar um livro. Hoje nós conseguimos através de uma pesquisa, uma palavra-chave, buscar todos os livros possíveis. Teríamos que nos deslocar pra assistir aula, hoje a gente consegue assistir aula e cursos pelo YouTube”, exemplifica.
O professor também cita como benefícios da era digital a conectividade, o compartilhamento e a rapidez da comunicação, além da facilidade que as pessoas têm para realizar as coisas através da internet. “O vender e ganhar dinheiro também são benefícios voltados para a internet, onde as pessoas estão utilizando suas redes sociais como loja virtual”, diz.
Apesar de existirem inúmeras vantagens, Wendel alerta para os malefícios que vão além da dependência digital, como a invasão de privacidade, informações soltas devido ao aumento de popularidade em redes sociais, dados compartilhados de maneira muito mais rápida e que acabam deixando as pessoas cada vez mais expostas, entre outros. “Quando estou tendo acesso a tudo, esse tudo pode fazer com que eu tenha muitas vulnerabilidades”, complementa.
O professor também comenta como a própria tecnologia pode intervir no uso excessivo dela e que existem sites, programas e aplicativos de intervenção para tratar transtornos e vícios. “Existem, dentro desses sites, intervenções para educar essas pessoas em relação a tudo que elas estão vivendo de uma forma menos invasiva, menos agressiva e permitem que os clientes consigam acessar informações sobre o que eles estão passando, sintomas, distúrbios, e vão ter um diagnóstico, uma estratégia pro tratamento como um todo”, explica.
Wendel finaliza dando destaque para os sites e aplicativos que auxiliam as pessoas no tratamento de outros vícios, como o alcoolismo, por exemplo. “Temos hoje em dia essa intervenção terapêutica com um suporte mais humano em que, através de uma rede social, através de um feedback no e-mail, videochamada ou uma mensagem instantânea, conseguem estar conversando com essas pessoas – então a tecnologia ajuda mais uma vez nisso”, diz.
Por Isabella Cordeiro.