PE fica sem hidroxicloroquina para quem realmente precisa

Ministério Público instaurou inquérito civil para investigar o desabastecimento do remédio indicado para lúpus sistêmico e artrite reumatóide

qua, 23/06/2021 - 11:41
Marco Santos/Agência Pará Segundo a Farmácia, governo federal usa fármaco inadequadamente contra a Covid-19 Marco Santos/Agência Pará

O Ministério Público (MPPE) instaurou um inquérito civil para investigar o desabastecimento de hidroxicloroquina na Farmácia do Estado de Pernambuco. Segundo a Farmácia de Pernambuco, o desabastecimento do sulfato de hidroxicloroquina, na apresentação de 400 mg, ocorre "devido a problemas na produção do fármaco e, principalmente, ao uso inadequado deste para prevenção e tratamento da Covid-19 pelo governo federal."

De acordo com nota enviada pela Farmácia de Pernambuco, o desabastecimento é nacional e a situação está irregular em diversos estados brasileiros. A hidroxicloroquina é indicada para o tratamento de pacientes diagnosticados com lúpus sistêmico e artrite reumatóide. 

Nos últimos anos, a Farmácia de Pernambuco vem registrando um expressivo aumento no número de usuários cadastrados com indicação de uso do medicamento. Atualmente, cerca de 400 pacientes estão registrados na Farmácia de Pernambuco para estas doenças, o que gera um consumo médio de 25 mil comprimidos/mês. O órgão informa que está na fase final de compra.

O uso do medicamento para tratamento e prevenção da Covid-19 é defendido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de não haver comprovação científica de eficácia. A cloroquina e a hidroxicloroquina têm efeitos colaterais que variam de acordo com cada organismo.

A primeira vez que Bolsonaro se referiu à hidroxicloroquina foi durante uma transmissão ao vivo em 19 de março de 2020, ao dizer que os Estados Unidos havia liberado um remédio com potencial para tratar o novo coronavírus. A informação estava incorreta, pois na ocasião Donald Trump havia pedido agilidade à agência FDA para liberar terapias contra a Covid-19. Trump chegou a promover o produto, mas em junho a FDA revogou a autorização para uso emergencial que havia concedido no mês anterior por causa de eventos cardíacos sérios e efeitos colaterais. 

A postura não impediu que o presidente continuasse promovendo o uso do fármaco. O governo federal fez um esforço para produzir, adquirir e entregar o produto ao SUS. 

A farmacêutica Apsen, principal fabricante da droga no Brasil, informou à CPI da Covid que vendeu 58,8 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina em 2020, o que representa um aumento de 30% em relação ao ano anterior. No documento, a empresa declara que parte do crescimento se deveu à ampla divulgação mundial dos supostos benefícios do fármaco no tratamento da Covid-19.

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